Vai xa medio ano da chegada do xornalista portugués Bruno Amaral de Carvalho a Donetsk, onde, nun primeiro intre, como el mesmo recoñece esta cuarta feira, pensaba quedar inicialmente "apenas uma semana". "Naqueles meses frios, não havia forma de lavar as botas e as calças e conseguir que secassem no dia seguinte", rememora quen traballou como correspondente nos últimos sete meses, entre outros medios de Portugal e o Estado español, para Nós Diario.
"A guerra é uma merda. Sobretudo para os que são obrigados a vivê-la", sentencia Carvalho. Porén, para el foi "uma opção" xa que quería informar do que acontecía desde o terreo: "Dediquei-me a fazer o melhor que sabia, consciente de algumas limitações, para trazer luz a uma parte escondida do conflito. Enquanto havia quem em Portugal se dedicava a esperar a mínima falha para tentar desacreditar o meu trabalho, fui o jornalista português mais escrutinado".
En Donetsk o xornalista luso foi testemuña das máis cruentas escenas: "O primeiro corpo que vi foi o de um soldado ucraniano nas trincheiras de uma aldeia na região de Lugansk. Na verdade, não havia carne. Apenas ossos dentro de um uniforme. O resto serviu de banquete para cães vadios".
A traxedia da guerra, di, "traduziu-se demasiadas vezes em imagens destas". "Lembro-me de quando tropecei num cadáver carbonizado numa cave escura dentro do teatro de Mariupol. Apontei a lanterna do telemóvel para o chão e senti-me envergonhado. Era uma pessoa que estava ali e eu não fui capaz de evitar o tropeço [...] A morte tornou-se um hábito desde que cheguei no fim de Março, há tanto tempo que parecem anos", lembra.
"Queriam que não houvesse nenhum jornalista daquele lado porque a única coisa que lhes importa é a propaganda e não o jornalismo. É por isso que nunca escrutinam o outro lado. Felizmente, nesta caminhada, milhares caminharam comigo e senti o calor da solidariedade que pode sempre mais que o ódio", incide Carvalho, quen tamén precisa que a súa despedida do Donbass "não é definitiva".
"Comigo, trago o cinto com cinco furos feitos com a ponta de uma navalha que surpreendeu os guardas russos. Já estou deste lado da Europa. Até já, Donbass", conclúe.
- Crónicas desde o Donbass para Nós Diario
- Crônica desde o Donbass: "What the fuck"
- Crônica desde o Donbass: Viagem ao inferno de Mariupol
- Crônica desde o Donbass: Como dois jornalistas acabaram na linha da frente em Mariupol
- Crônica desde o Donbass: O mistério das tumbas comuns em Mariupol
- Crônica desde o Donbass: a vitória celebrada em Mariupol oito anos depois
- Crônica desde o Donbass: "Todos temem pela sua vida"
- Crônica desde o Donbass: Donetsk. Civis na mira das bombas
- Crônica desde o Donbass: O problema não é quando a morte se engana. É quando acerta
- Crônica desde o Donbass: Os piratas de Mariupol
- Crônica desde o Donbass: Ucrânia ataca hotel onde estão alojados jornalistas
- Crónica desde o Donbass: Ucrânia lança minas anti-pessoais sobre Donetsk
- Crônica desde o Donbass: Petrovsky: Neste bairro, a morte é uma visita assídua
- Crônica desde o Donbass: Os baloiços de Gorlovka
- Crônica desde o Donbass: Putin declara mobilização parcial depois de anúncio de referendos
- Crônica desde o Donbass: Adesão à Rússia abre portas a uma nova fase da guerra
- Crônica desde o Donbass: Ekaterina, guerrilheira de Odessa como os seus avós
- Crônica desde o Donbass: "What the fuck"
Crónicas desde o Donbass para Nós Diario
Crônica desde o Donbass: "What the fuck"
As mortes acumulam-se em Donbass, no leste da Ucrânia, à medida que se intensificam os combates nesta região separatista. De um e do outro lado da linha da frente, entre soldados e civis, são muitas as mães que choram os seus filhos.
Crônica desde o Donbass: Viagem ao inferno de Mariupol
Esta cidade que antes tinha quase meio milhão de habitantes é agora o palco dos maiores confrontos desta guerra. Aqui, a sobrevivência é o objectivo de cada dia.
Crônica desde o Donbass: Como dois jornalistas acabaram na linha da frente em Mariupol
Esta cidade prepara-se para a última batalha pelo controlo da zona industrial, o último reduto de milhares de soldados ucranianos.
Crônica desde o Donbass: O mistério das tumbas comuns em Mariupol
As autoridades ucranianas anunciaram tumbas comuns com milhares de mortos nos arredores de Mariupol com a ajuda de imagens de satélite de duas empresas norte-americanas. Só que, afinal, nesse lugar apenas havia um cemitério e campas individuais.
Crônica desde o Donbass: a vitória celebrada em Mariupol oito anos depois
Com o golpe de Estado de 2014, o presidente não eleito Oleksandr Turchínov ordenou a proibição das celebrações da vitória soviética sobre o nazismo. Ekaterina estava lá e viu como os polícias locais recusaram cumprir as ordens de reprimir a população e se juntaram os separatistas.
Crônica desde o Donbass: "Todos temem pela sua vida"
Durante as últimas semanas, aumentou a intensidade dos ataques contra a cidade de Donetsk. À medida que as forças pró-russas fazem recuar as tropas ucranianas no Donbass, a Ucrânia recorre às armas enviadas pelos países da NATO para atacar várias cidades da região. Sem capacidade para suster o controlo do território, o recurso à artilharia é uma medida possível, embora pouco eficaz.
Crônica desde o Donbass: Donetsk. Civis na mira das bombas
Do coração da cidade de Donetsk, na Praça Lénine, à Universitetskaya são cerca de dez minutos a pé. É nesta avenida que testemunhamos a destruição provocada pela artilharia ucraniana uma hora antes numa das faculdades. A fachada está negra e as janelas estão destruídas. Felizmente, os alunos estudam para os últimos exames e o ensino é à distância.
Crônica desde o Donbass: O problema não é quando a morte se engana. É quando acerta
Depois da tomada de Mariupol, o controlo total de Lugansk é a mais importante vitória para as forças russas e milícias locais desde o começo da intervenção militar em fevereiro.
Crônica desde o Donbass: Os piratas de Mariupol
A carcaça dos prédios continua enegrecida pelos combates, mas a cidade já mexe. Há mercados de rua, pintam-se passadeiras, removem-se escombros, passam autocarros e as paragens estão cheias. E numa cidade com praia, há até quem ouse não desperdiçar o verão. O som das ondas que se desfazem na areia é internacional. O riso das crianças também. Neste areal, que até há dois meses ninguém se atrevia a pisar por causa das minas e onde jaziam cadáveres, juntam-se grupos de jovens e idosos para tomar banhos de sol e mar. Atrás desta praia, está uma cidade destruída que já foi um verdadeiro inferno na Terra e só quem olhe para o horizonte que separa o céu do Mar de Azov pode tentar por breves momentos esquecer que está em Mariupol.
Crônica desde o Donbass: Ucrânia ataca hotel onde estão alojados jornalistas
Na manhã de onte, a artilharia ucraniana atingiu o Donbass Palace, um dos principais lugares escolhidos pelos jornalistas e diplomatas para dormir e trabalhar.
Crónica desde o Donbass: Ucrânia lança minas anti-pessoais sobre Donetsk
Desde junho a situação na cidade se agravou devido aos bombardeamentos diários. Até ao momento, só nesta região controlada pelas forças pró-russas já morreram mais de 350 civis e 1.500 ficaram feridos desde 24 de fevereiro. Agora, Donetsk enfrenta o perigo das minas PFM-1 espalhadas por zonas residenciais.
Crônica desde o Donbass: Petrovsky: Neste bairro, a morte é uma visita assídua
É um apartamento com vista para a linha da frente. Há uma cratera no tecto da sala de Iuri Vladimirovich que dá para a casa do vizinho. Acima conseguimos ver o céu azul e os raios de sol que entram pelo telhado destruído. O rocket que atingiu este prédio é militar mas quem aqui vivia era civil. Nesse dia não estava em casa. Mas o filho, um amigo e os netos sobreviveram por sorte. “Ficaram a ver as explosões [ao longe]. E depois os projécteis começaram a cair cada vez mais perto. Chegaram aqui e um projéctil atingiu o telhado. E tudo se desmoronou. Se eles tivessem ficado aqui, estariam mortos. Fugiram a tempo”, descreve este idoso de 69 anos.
Crônica desde o Donbass: Os baloiços de Gorlovka
Um ataque com rockets, em agosto, atribuído à Ucrânia, matou a pequena Masha, de sete anos, e deixou Polina, de doze, sem um braço e uma perna.
Crônica desde o Donbass: Putin declara mobilização parcial depois de anúncio de referendos
Toda a gente me fala disto. Há a mãe que vai acender velas na igreja para pedir a Deus que proteja os seus filhos, há o marido que abraça a mulher mesmo que seja só para ir ao supermercado e voltar dali a pouco, há adolescentes que adiam beijos porque vivendo na mesma cidade não se atrevem a encontrar-se na rua. É uma vida adiada que já acontecia desde 2014 e que agora parece não ter fim. Há crianças que nunca souberam o que é viver em paz, há adultos que acham que isto vai ser assim a vida toda. Não têm qualquer esperança no Ocidente, apenas raiva.
Crônica desde o Donbass: Adesão à Rússia abre portas a uma nova fase da guerra
Parte da comunidade internacional diz que os referendos são ilegais. O facto é que a consulta aconteceu e a anexação dos quatro territórios vai ser formalizada pela Federação Russa já nos próximos dias.
Crônica desde o Donbass: Ekaterina, guerrilheira de Odessa como os seus avós
Hoje, vive em Donetsk. Foi uma das sobreviventes do massacre na Casa dos Sindicatos, a gota de água que lhe fez pensar que o tempo dos comícios pacíficos tinha acabado. Juntou-se, então, à resistência na cidade com atentados contra as estruturas de apoio aos grupos paramilitares neonazis. Esteve presa durante quase cinco anos.