Neurónios de tradutor / TA neuronial

Som professor de Traduçom na UVigo, polo que a reportagem de I. Varela "Proxecto Nós: O galego na sociedade da intelixencia artificial", publicada no Sermos Galiza do passado 13 de janeiro, me interessou muito, mas também me incomodou um pouco, ao ler nela, na p. 8, a seguinte afirmaçom, entusiasta de mais: "Algúns exemplos das posibilidades que o Proxecto Nós abre para a nosa lingua son as traducións de calidade cun só clique". Terá-se assim extinguido a profissom de tradutor? Embora devamos reconhecer que a aplicaçom da "inteligência artificial" aos programas informáticos de traduçom tem feito avançar enormemente nos últimos anos a traduçom automática (TA), temos de responder nom à questom posta, ao menos por agora. Ora bem, essa resposta negativa nom é absoluta, porque os programas de TA mais avançados (os da chamada TA neuronial), de facto, já traduzem textos pragmáticos com passável qualidade (e grande velocidade), de modo que, necessariamente, assim se reduz o volume de encomendas feitas aos tradutores. Um dos défices principais que a traduçom automática continua a sofrer consiste em que ela nom realiza umha receçom semántica do texto de partida Dixemos que hoje os PTA som capazes de realizar traduçons de qualidade passável de textos pragmáticos. Essa qualidade tradutiva é suficiente, p. ex., para nos documentarmos, de forma ágil, sobre os traços essenciais da história da Letónia lendo a traduçom galego-portuguesa que o internético DeepL, um dos melhores PTA, nos fornece do respetivo artigo da versom letoa da Wikipédia. Trata-se de umha traduçom com fins meramente informativos, e nom destinada à publicaçom. Quando o texto a traduzir for literário (sensu lato), ou quando, sendo pragmático, a sua traduçom deva ser publicada, entom, continuará a ser necessário um tradutor. A seguir, imos ilustrar este facto com casos retirados da nossa experiência docente. Um dos défices principais que a TA continua a sofrer consiste em que ela nom realiza umha receçom semántica do texto de partida, nem analisa ambigüidades estruturais nele presentes. Assim, consideremos o trecho seguinte, de um artigo da Scientific American (9/2023: p. 26): "Of all the animals ever to have roamed the planet, the [...] dinosaurs known as sauropods stand unrivaled. [...] They overshadowed all other dinosaurs, from the duck-billed hadrosaurs [...] to the armored ankylosaurs and predatory tyrannosaurs". Aqui, os modificadores duck-billed, armored e predatory apresentam, todos eles, valor explicativo, nom especificativo. Apesar disso, eis a traduçom produzida polo DeepL: "De todos os animais que alguma vez percorreram o planeta, os icónicos dinossauros [...] conhecidos como saurópodes, não têm rival. [...] Ofuscaram todos os outros dinossauros, desde os hadrossauros com bico de pato [...] até aos anquilossauros blindados e aos tiranossauros predadores". Aqui, o correto teria sido "Eles superárom todos os outros dinossauros, desde os hadrossauros, ou dinossauros-bico-de-pato, [...] até os couraçados anquilossauros e os tiranossauros, de hábitos predatórios". Porque todos os hadrossauros tinham bico de pato, todos os anquilossauros estavam couraçados e todos os tiranossauros eram predadores. Necessidade comunicativa Um outro aspeto-chave em que o tradutor continua a revelar-se superior à TA é a precisom com que aquele, mas nom esta, utiliza o vocabulário. Assim, no mesmo artigo (p. 27), o trecho "Their diversity of body forms [dos saurópodes] also makes comparing the evolution of body size in terms of length or height tricky, so biologists turn to body mass (or weight) to make more equitable comparisons" é traduzido polo DeepL como "A sua diversidade de formas corporais também torna complicada a comparação da evolução do tamanho do corpo em termos de comprimento ou altura, pelo que os biólogos recorrem à massa corporal (ou peso) para efetuar comparações mais equitativas". O problema é que, aqui, equitable nom equivale a eqüitativas (dimensom ética), mas a significativas (comparaçom entre elementos homologáveis). Além disso, a TA continua a esbarrar com a necessidade de que a traduçom publicável de um texto pragmático seja comunicativa, quer dizer, que esteja adaptada ao seu público destinatário (e que corrija lapsos presentes no original). Assim, se um texto divulgador alemám, a falar dos icebergues do Oceano Antártico, dixer "Manche von ihnen sind so groß wie Nordrhein-Westfalen", espera-se que, em benefício da comunicatividade com o público galego, a traduçom nom reproduza a comparaçom original com a superfície da Renánia do Norte-Vestefália, mas si diga cousa similar a esta: "Alguns deles tenhem umha superfície próxima da da Bélgica". Portanto, se for suficiente umha traduçom meramente informativa de qualidade passável, clique na TA; porém, se quiger umha traduçom de alta qualidade, plenamente confiável e comunicativa, apta para publicaçom, contrate um bom tradutor.