Relações internacionais e sociedade civil galega

O que não surge da necessidade quotidiana costuma passar para o último lugar das tarefas a atender. Este princípio pode ser aplicado à ação galega organizada e orientada ao plano internacional, que está sobejamente regulada por leis estatais e que na Galiza conta com uma Lei 10/2021, do 9 de marzo, reguladora da acción exterior e da cooperación para o desenvolvemento de Galicia, pendente de desenvolvimento. Neste espaço a presença galega tem vindo a crescer através dos intercâmbios culturais. Já no plano institucional a contagem da participação galega é desigual. Assim, a entrada de Santiago de Compostela na União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) como observadora, durante a presidência de Martiño Noriega no governo municipal, parecia uma aposta segura. Infelizmente a iniciativa, oportunidade e generosidade dessa organização internacional não foi bem correspondida. O governo do socialista Sánchez Bugallo que se seguiu nos últimos 4 anos passou ao lado destes temas. Confiemos em que a nova presidenta da capital galega, Goretti Sanmartín Rei, seja capaz de retomar a iniciativa e criar uma dinâmica de colaboração institucional no contexto das capitais dos países de língua oficial portuguesa, onde Santiago tem um lugar. Países de língua portuguesa Caso paralelo, mas diferente, é o da participação galega na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP. Chegamos a dezembro de 2018 com a candidatura da Galiza à categoria de Observadora Associada bastante avançada, factível do ponto de vista formal e com consenso diplomático no conjunto dos países representados com direito a voto. A isto acrescentava-se algo imprescindível: um entendimento entre o Governo galego, os grupos parlamentares e a sociedade civil, que assumiram e cumpriram discretamente, cada qual, o seu papel. É conhecido que a candidatura da Galiza não chegou a ser apresentada formalmente à CPLP, sendo substituída em 2019 pola candidatura do Reino da Espanha, admitida em 2021, após a pandemia. Temos dito várias vezes que, a partir desse momento, toda a responsabilidade corresponde ao Ministério dos Assuntos Exteriores e Cooperação. A ninguém deveria surpreender que a entrada da Espanha tenha gerado algumas expectativas, sem dúvida muito superiores às produzidas com as admissões de Turquia ou Geórgia, por indicar dous casos concretos e longínquos. Porém a realidade, até ao momento, não está a satisfazer essas previsões. O vazio de iniciativas vindas de Madrid reforça uma leitura política, muito exagerada, publicamente exprimida por algumas deputadas do Parlamento autónomo da Galiza: a Espanha teria entrado na CPLP para evitar a admissão da Galiza, eludindo assim o seu reconhecimento formal num organismo internacional. Visto mais de perto e com mais conhecimento in situ, as causas podem ser várias e não excludentes. Alegadamente existe uma disfunção na representação e a interlocução diplomática da Espanha em Lisboa. As prioridades e urgências do MAEC estariam orientadas a outras geografias. Observando outros parâmetros intui-se também a ausência de um contexto adequadamente preparado polo organismo internacional com sede em Lisboa, resultando na falta de oportunidades de participação para os países associados. Tudo seria derivado dos efeitos perniciosos da pandemia, da qual ainda permanecem sequelas. Sem caderno de encargos explícito as possíveis iniciativas decaem. Oficialidade do galego O passado 27 de agosto, na Conferência de São Tomé, resultou aprovada uma mudança no Regulamento dos Observadores Associados que vai conduzir a Espanha a elaborar um Plano de Parceria com a CPLP. Resulta oportuno dizer que o documento inclui no Artigo 3.1 a possibilidade de admissão, na mesma categoria institucional, de "Territórios dotados de órgãos de administração autónoma" (Art. 3.1), o que deixa o futuro aberto. Chegados aqui há duas ideias a sublinhar: a unidade de ação na questão da CPLP, ontem como hoje, é vista como um fator determinante por quem continuam a observar com simpatia as nossas legítimas demandas e interesses, que vêm de longa data. É um valor a preservar. Resulta chocante o entusiasmo que se observa nos últimos dias a respeito da oficialidade do galego União Europeia Argumentando que não precisamos de tradução nessa Comunidade, até três presidentes autonómicos fizeram gestões ao mais alto nível. Se isto é válido e comummente admitido, resulta chocante o entusiasmo que se observa nos últimos dias a respeito da oficialidade do galego na União Europeia. Quem ganha com a divisão da nossa língua, também em Bruxelas? Alguém julga que isso seria um exemplo para toda a Europa, e um mérito a incluir no expediente da candidatura galega à CPLP?