Henrik Brandão Jönsson, jornalista sueco no Brasil: "Portugal nunca pediu desculpa pela colonização"

Henrik Brandão Jönsson é correspondente na América Latina de 'Dagens Nyheter', o maior jornal da Suécia, com vários livros publicados sobre o Brasil, onde mora há vinte anos. Ele visitou a Galiza para aprasentar o seu último livro Viagem pelos Sete Pecados da Colonização Portuguesa
O jornalista e escritor sueco, Henrik Brandão Jönsson. (Foto: Arxina)
photo_camera O jornalista e escritor sueco, Henrik Brandão Jönsson. (Foto: Arxina)

—O senhor vém de publicar o livro Sete pecados da colonização portuguesa. O que podem esperar as pessoas que o leiam? 

O meu livro é uma viagem pelas ex-colónias portuguesas e nele conto histórias não conhecidas.Sou um dos poucos estrangeiros que tem escrito sobre o tema, então tento dar detalhes desse mundo que uma pessoa portuguesa se calhar não sabe porque não ficaram escritos na história. 

—Você viajou à maioria das ex-colónias portuguesas. Qual acha que é a diferença da colonização em países como Angola ou Moçambique a respeito doutros países como o Brasil?

Moçambique e Angola entre elas são muito diferentes. A sensação quando você chega a Moçambique é o de um país muito amigável, mas Angola é ao contrário. Foi um dos países onde teve mais dificuldades em fazer amizades ou entrevistar pessoas e isso tem a ver com a colonização porque Angola viviu 40 anos de guerra que influenciaram muito. No caso e Timor Leste, por exemplo, a colonização foi muito diferente porque nunca tinha lá mais de 100 portugueses no mesmo tempo. 

No livro falo que, no caso de Timor, Portugal foi quase um campeão mundial de colonialismo porque com muita pouca gente eles conquistaram uma ilha sem armas e hoje em dia a maioria da população tem nomes portugueses.

—Acha que fican resquícios de colinialismo nos territórios conquistados por Portugal?

No caso de Angola, por exemplo,  esta critica muito Portugal mas hoje em dia acho que o proprio governo angolano está a oprimir o seu povo. Angola é o terceiro país mais rico da África e a população está sofrendo, pode dizer-se até que é uma espécie de colonialismo angolano. É como se fosse o angolano imitando o português, tentando fazer melhor que o português. 

—Persiste mentalidade colonialista na sociedade portuguesa?

Totalmente, Portugal ainda não pediu desculpa pela colonização, pelas pessoas que escravizou.

O presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, também não pediu desculpa, enquanto outros países como Holanda si que o estão a fazer. Portugal descubriu as conexões entre os continentes, mas também inventou a escravatura transatlântica. 

Em Portugal muita gente não gosta de falar disto, por isso no meu livro simplesmente conto o que aonteceu. É incrível que eles descubriram o caminho para a Índia mas também é preciso contar tudo aquilo que elas fizeram em termos de tráfico de pessoas.

—Qual é que é a relação actual de Portugal com os países e territórios que colonizou?

Acho que é uma boa relação. O ano passado foi inaugurado o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Lá encontrei o Marcelo Rebelo de Sousa [presidente da República portuguesa]e entrevistei ele. 

Preguntei ele se o facto de o museu estar em São Paulo significa que o Brasil é agora o novo dono da língua portuguesa e acho que ele não gostou muito disso. Mas em termos gerais Portugal entende que deve ter uma boa relação com países como o Brasil. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou Portugal o 25 de abril e foi o primeiro estrangeiro esse dia a dar um discurso na Assembleia da República de Portugal. Há muitos brasileiros que gostam de viajar para Portugal e mesmo vão lá para trabalhar e ficar a morar. Mas não só o Brasil tem uma boa relação, também Moçambique e Timor Leste por exemplo. O único país em que realmente senti que existia uma raiva contra Portugal foi Angola.


Um livro que mostra outro lado da história

Inspirado pela ideia bíblica dos sete pecados capitais, Henrik Brandão Jönsson viaja o seu livro pelas antigas colónias portuguesas, onde o sol nunca se põe e os pecados nunca dormem. O impacto da expansão marítima e da colonização portuguesa é fortemente sentido ainda hoje. Deixou heranças mais negativas do que aquilo que nos permitimos admitir na história que costumamos contar, e levou muito mais do que "ouro, pimenta e canela". Escrito de uma perspetiva antropológica, este livro serve ao leitor o contraditório, o outro lado da história. o jornalista e escritor embarca numa viagem ao mundo das antigas colónias portuguesas para retratar a vida como ela é hoje. Durante a sua jornada, descobre que as ex-colónias serviam como um contraponto ao ambiente conservador da então metrópole, uma válvula de escape onde o sexo, o álcool e o jogo floresciam.

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