Para além dos riscos de saúde associados à falta de conhecimento sobre sexo, existe também toda uma lavagem cerebral feita para controlar os corpos das mulheres e com isso perpetuar slut-shaming [chamar prostituta] e victim-blaming [culpar á vítima].
No que toca à sexualidade feminina, é ainda mais difícil um debate construtivo e educativo que promova comportamentos sexuais saudáveis, já que se promove sobretudo a abstinência e a manutenção da virgindade.
Mas afinal, o que é virgindade?
1. Virgindade não existe
Não existe. Virgindade é um termo heteronormativo que classifica sexo apenas como a penetração, excluindo todo o sexo que ocorre longe de formas fálicas.
Há várias formas de contacto sexual que não envolvem um pénis.
O conceito de virgindade está intimamente ligado à supressão da sexualidade feminina, apenas fomenta a ideia que pénis têm poderes mágicos de transformação
E agora, vem a pergunta: E o hímen? Pois é, o hímen! O hímen pode-se romper por uma série de factores como exercício físico ou masturbação; pode se romper na trigésima relação sexual e pode até nem existir! Se considerarmos apenas o rompimento do hímen, então quem não tem hímen permanece virgem? Os homens não têm virgindade?
Outra pergunta: E o tamanho da vagina não muda?
Claro que, sendo a vagina um músculo, a sua elasticidade depende da quantidade de esforço e exercício que lhe for pedido. E assim sendo, pouca actividade sexual significa uma vagina menos elástica que pode dar a sensação de contracção.
Para além do conceito de virgindade estar intimamente ligado à supressão da sexualidade feminina, apenas fomenta a ideia que pénis têm poderes mágicos de transformação.
A ideia que a desvirgindade muda o nosso corpo totalmente, de forma repentina e completamente irreversível é falsa.
2. Ninguém tira a virgindade de ninguém
É sempre vendida a Primeira Vez como um momento memorável e cheio de efeitos especiais. E acima de tudo, com alguém que “valha a pena” porque essa pessoa terá para sempre uma parte de nós e ficará para sempre na nossa memória.
Mas a verdade é que a Primeira Vez nem sempre é assim. Não tem de ser assim. O que deve haver é consentimento e vontade de ambas as partes. Dali para frente vai ser sempre melhor, vamos aprender mais e descobrir mais.
A percepção que virgindade é algo que se perde, reforça o mito de pureza da mulher, segundo o qual o seu corpo se desvaloriza e desvirtua sempre que for tocado de forma sexual.
Para nós, mulheres, o início da vida sexual, marcado pela Primeira Vez tem de ser milimetricamente avaliado e considerado, visto que estaremos a dar algo do nosso corpo que jamais será recuperada.
A percepção que virgindade é algo que se perde, reforça o mito de pureza da mulher, segundo o qual o seu corpo se desvaloriza e desvirtua sempre que for tocado de forma sexual.
Mas a verdade é que a relação sexual é a dois, consiste numa troca. Ninguém tira nada de ninguém – até porque não se pode tirar algo que não existe!
Então não se perde nada, só se ganha.
3. Desvirgindade não é um evento só
Assumindo virgindade como a acumulação de experiência sexual, esse fenómeno não ocorre de uma única vez.
A desvirgindade, nesse sentido, é um processo. Isto é, deixar de ser virgem envolve toda a descoberta do corpo e da sexualidade, acontece em etapas através de várias experiências sexuais.
E fazem parte desse processo, todas as formas de expressão sexual, começando pela própria masturbação.
Nessa perspectiva, somos todos eternos virgens. Estamos todos em constante crescimento e descoberta no que toca à nossa sexualidade e em busca de mais formas de ter e dar prazer.
Artigo tirado do blogue https://escreveelianaescreve.wordpress.com