Candidato de extrema-direita é o franco favorito para a vitória no dia 28

Por que a extrema-direita está para ganhar as eleições no Brasil?

A não ser que ocorra algum fato de grande relevância que atinja a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), o candidato da extrema-direita deve vencer as eleições presidenciais no Brasil no próximo dia 28. As sondagens apontam uma grande diferença na intenção de votos entre Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), o candidato da centro-esquerda apoiado pelo ex-presidente Lula da Silva (PT). Enquanto a coordenação da campanha de Haddad e movimentos sociais ainda tentam reverter o desastre, parte da esquerda brasileira já começa a discutir o que aconteceu para a extrema-direita chegar ao poder.

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photo_camera Jair Bolsonaro [Flickr Família Bolsonaro]

Todas as análises feitas até agora para entender a origem do desastre levam ao ano de 2013. Na época, a então presidente Dilma Rousseff (PT) possuía alta popularidade, o país se preparava para sediar o Mundial de futebol de 2014 e a reeleição da presidente era dada como certo. Eis que no mês de junho, um pequeno protesto na cidade de São Paulo contra o aumento no preço do transporte público deu origem a uma gigantesca onda de insatisfação no povo brasileiro. O sistema político tradicional brasileiro deu seus primeiros sinais de esgotamento: houve melhorias sociais nas últimas décadas, mas a classe política perdia representatividade junto à população.

Em 2014, após o Mundial. Dilma Rousseff foi reeleita, mas em uma disputa marcada pela morte de um candidato da terceira via, Eduardo Campos (PSB), vítima de um acidente aéreo, e por uma guerra jamais vista no segundo turno entre a candidata do PT e Aécio Neves (PSDB), candidato da centro-direita. A direita cresceu na Câmara dos Deputados, mas ainda com as figuras tradicionais da política dando as cartas.

Em 2015, a popularidade da presidente Dilma perdeu ainda mais força quando ela decidiu não cumprir as promessas feitas ano anterior. Ela colocou um neoliberal identificado com as ideias do adversário para cuidar da Economia do país, adotando uma agenda de austeridade que fez com que o PT perdesse espaço nas comunidades mais pobres, onde sempre foi o seu reduto eleitoral.

DilmaEm 2016, a oposição derrubou a presidente Dilma em um controverso processo de impeachment. As eleições para os municípios ocorreram meses depois e a frustração dos eleitores com o PT e com as forças tradicionais da política —todos os grandes partidos foram envolvidos em grandes escândalos de corrupção como o Lava Jato— fez com que os primeiros sinais fossem dados: figuras exóticas, fora do mainstream político, tiveram grandes resultados, assumindo as prefeituras das maiores cidades do país como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. No Rio de Janeiro, venceu um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, em São Paulo um empresário polêmico com discurso radical contra a esquerda, em Belo Horizonte um dirigente de um clube de futebol.

O desastroso governo de Michel Temer (MDB), que assumiu o poder após o impeachment de Dilma e se tornou o presidente mais impopular da história do Brasil, fez com que se deteriorassem ainda mais as forças tradicionais da política. O eleitor havia perdido a crença nos partidos e também na imprensa, dando voz e credibilidade a páginas na internet de origem duvidosa e redes de boatos em redes sociais.

Este foi o cenário para surgir Jair Messias Bolsonaro. Capitão reformado do exército, Bolsonaro entrou na Câmara dos Deputados em 1991 pelo PPR, partido que sucedeu a Arena, partido da Ditadura Militar Brasileira. Em 27 anos no legislativo brasileiro, ele aprovou apenas dois projetos de sua autoria, tendo uma atuação sem relevância, ganhando destaque apenas para entrevistas polêmicas, como uma em 1999 onde sugeriu que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fosse fuzilado por vender empresas estatais brasileiras.

O eleitor havia perdido a crença nos partidos e também na imprensa, dando voz e credibilidade a páginas na internet de origem duvidosa e redes de boatos em redes sociais

Bolsonaro renasceu nos últimos anos como um líder da extrema-direita, a figura que incorporava a raiva e a frustração dos brasileiros com a política. Militar com carreira ligada às estatais, se aliou a neoliberais como o economista Paulo Guedes e passou a se inspirar no presidente Donald Trump para disputar as eleições. Bolsonaro ainda alugou um partido, o minúsculo PSL, que a época tinha apenas um deputado, para construir o bunker da extrema-direita no Brasil.

Enquanto a direita se renovava com um discurso extremista e populista, explorando a raiva do eleitorado com a política tradicional. As esquerdas, sob liderança do PT, se preocupavam em salvar o ex-presidente Lula da Silva, condenado e preso em um controverso e polêmico processo.

A direita apostava em novos nomes, figuras que se tornaram populares com o impeachment de Dilma Rousseff, youtubers, até mesmo um ator de filmes pornográficos entrou para o movimento, como uma figura de discurso conservador. Enquanto isso, os partidos tradicionais de centro-esquerda apostavam nos mesmos nomes, achando que tudo funcionaria como nas eleições anteriores.

HaddadDe nada adiantou a popularidade de Lula, proibido de disputar por causa da lei eleitoral. De nada adiantou o PSDB, eterno rival do PT, fazer uma ampla coligação para obter o maior tempo de televisão no horário eleitoral obrigatório. De nada adiantou o PSDB ter o apoio da mídia tradicional brasileira. Nem mesmo o protesto das mulheres contra a misoginia e a homofobia do candidato da extrema-direita surtiu efeito.

A campanha de Bolsonaro apostou em Fake News, em uma rede de boatos que se espalhavam pelas redes sociais e na forte rejeição ao PT. O extremista passou a crescer justamente quando as sondagens apontavam que seu adversário no segundo turno seria Fernando Haddad.

A democracia brasileira está em risco. O candidato extremista deixa claro suas posições contra minorias, contra o meio ambiente, contra as políticas sociais. O seu vice é um general reformado do Exército que defende abertamente um golpe militar. Para a centro-esquerda, resta lutar por um milagre e aprender com os erros daqui pra frente. O PT terá a maior bancada na Câmara dos Deputados e alguns governos estaduais. O partido está vivo, mas precisa entender os novos tempos na política brasileira. O PSOL, partido mais à esquerda que tinha apenas cinco deputados em 2014, agora terá 10. Entre os novos eleitos, quatro mulheres feministas, duas negras, figuras novas no cenário político. O pequeno PSOL entendeu o recado. Faltam os grandes da centro-esquerda entenderem...

Nota: Nas fotos inseridas no meio do texto aparecem Dilma Rousseff (arriba) e Manuela D'Ávila e Fernando Haddad nun comício de campanha (abaixo).

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