Opiniões de Segunda, o desafio para uma participação ativa na vida da escola

Opiniões de Segunda é o título de um projeto que começou com a publicação, todas as segundas-feiras, de um texto da autoria de um aluno escrito por trinta alunas e alunos da Ponte da Barca (Viana do Castelo). A ideia surgiu na passado abril, após o ciclone Idai causar grande número de mortos na cidade da Beira. Conversamos con Sara Arezes, presidenta da Associação de Estudantes.

Sara Arezes
photo_camera Sara Arezes

Capa de Opiniões de SegundaOpiniões de Segunda foi proposto pela associação de estudantes à direção do estabelecimento de ensino que, todos os anos, “desafia os alunos a uma participação ativa na vida da escola”, afirma Sara Arezes, presidenta da Associação de Estudantes, aluna do 12º ano do curso de ciências e tecnologia e que não poupa elogios aos colegas "sempre muito ativos e dinâmicos".
Falamos com ela e as respostas chegam velozes.

 

Opiniões de Segunda, qual a razão dessa denominação?

É frequente ouvirmos os adultos menosprezarem as opiniões dos mais jovens, fruto da alegada inexperiência da nossa idade. Confrontados com esta situação, concebemos um título algo irónico e provocatório e decidimos publicar os artigos, marcando o início da semana, todas as segundas-feiras. Daí "Opiniões de Segunda".

 

O livro pretende "promover o exercício da cidadania e o debate plural, potenciando o espírito crítico, a capacidade argumentativa e a expressão escrita de determinado ponto de vista". Acha que o atual sistema educativo não procura esses objetivos?

O atual sistema de ensino português procura transmitir estes valores, mas peca pela excessiva formalidade e rigor que levam, por vezes, ao desinteresse e até alheamento dos estudantes. Neste contexto, criar um espaço onde os jovens pudessem estimular a sua criatividade e espírito crítico, aliando os conhecimentos da educação formal à educação não formal, revelou-se uma oportunidade complementar no exercício desses mesmos valores. Além disso, este projeto tem uma marca distintiva suplementar que reside no facto de ser uma iniciativa da exclusiva responsabilidade dos estudantes, ainda que sempre com a luz verde dos responsáveis da Escola.

 

O livro vai ser publicamente apresentado no dia 31, pelas 21:30 horas, na escola secundária de Ponte da Barca. O que é que diria às pessoas para as animar a assistir?

Dia 31 de maio, reunimo-nos por uma causa solidária, numa sessão bem disposta e com espaço para momentos musicais. Será, com certeza, uma oportunidade a não perder! Por outro lado, há dois tipos de pessoas: as que acreditam que o poder para transformar o mundo reside, em boa medida, na juventude, e as mais céticas. Seria para nós um prazer e uma alegria contar com a presença de ambas e, possivelmente, contribuir para mudar algumas mentalidades.

 

Acha que a solidariedade para com Moçambique foi suficiente?

Nunca há solidariedade "suficiente" perante uma catástrofe daquela dimensão. Podemos (e temos!) de fazer sempre mais.

 

Ponte da Barca fica relativamente perto da Galiza. Existe algum tipo de cooperação ou intercâmbio com escolas ao norte do Minho?

Nos últimos tempos, a nossa Escola não teve oportunidade de se envolver nesse tipo de projetos. No entanto, a Direção do Agrupamento está a fazer esforços nesse sentido. O mundo não deve ter fronteiras, mas, sim horizontes vastos!

 

E horizontes vastos foi o que lograram com o trabalho de cada segunda-feira. O projeto, continua Sara "foi tão bem recebido e acarinhado, quer pelos alunos, quer pela comunidade", que ganhou forma a edição de um livro que reunisse os melhores artigos. Todos podem ver-se já na página do Facebook. Publicamos, em exclusiva, um destes textos que permitirá fazer a vida melhor para uma criança em Moçambique.

 

Ah! a mitologia grega… Já ouvistes a expressão suplício de Tântalo? Tântalo, rei da Frígia, foi castigado por pôr a omnisciência dos deuses à prova: decidiu roubar a sua comida, servindo-lhes a carne do próprio filho. Por isso, foi lançado ao Tártaro (o inferno grego, não o problema dentário), para um sítio cheio de água e vegetação. A sua sentença era não poder saciar a fome e a sede. Sempre que se aproximava de água ou de comida, estas «fugiam-lhe». Esta história pôs-me a pensar…

 

Já sentistes o vosso maior desejo mesmo à vossa frente, mas parecendo cada vez mais longe? Como se estivésseis prestes a alcançar o vosso sonho, quase a tocar-lhe e, de repente, ele desvanece-se, qual miragem? Às vezes, parece mais fácil deixar que o sonho desapareça do que correr atrás dele. Poderemos ser felizes sem um propósito?

 

Nós, humanos, vivemos eternamente infelizes. Quanto mais temos, mais queremos. Todos procuramos a razão porque estamos aqui. Quantos teremos passado pela nossa e olhado para o outro lado? Talvez ela nos procure e, quando nos tem bem pertinho, vê-nos desaparecer… como Tântalo via a comida e a água. O nosso motivo procura-nos, suplica por nós, aparece-nos em sonho e sussurra-nos para que façamos dele objetivo.

 

Da próxima vez que deres uma volta, olha bem em redor. Ele está algures a olhar para ti. Lembra-te disso, e não desafies os deuses: ainda ficas à míngua!

 

Margarida Soares, 11.º B.
“Abrir os olhos é a melhor forma de sonhar.”
01/04/2019 – 20.ª edição

Comentarios