Um ultraliberal eleito prefeito da maior cidade do hemisfério sul

João Doria, o homem que tudo privatiza

Um empresário ultraliberal reconvertido em político arrebata ao Partido dos Trabalhadores a capital económica do Brasil. Promete fazer gestão da cidade como se for uma empresa.

J. Doria. Imagem TV Estadão
photo_camera J. Doria. Imagem TV Estadão

São Paulo é a maior cidade do Brasil. E também do hemisfério sul. Nas eleições celebradas no passado dia 2 João  Doria, com mais do 53 %, logrou a prefeitura para os próximos quatro anos. Os que precisa para para administrar a cidade, diz ele. Também diz que não vai tentar a reeleição. Com 3.085.187 votos, o que corresponde a 53,29% dos votos válidos, Doria é o primeiro prefeito de São Paulo eleito em primeiro turno desde 1992, quando as eleições passaram a ter dois turnos. Ele vai tomar posse em 1º de janeiro de 2017.

Doria é o primeiro prefeito de São Paulo eleito em primeiro turno desde 1992

João Doria tem 58 anos e é natural de São Paulo. É presidente licenciado do grupo Doria e do comitê executivo do lide - grupo de líderes empresariais. Doria foi secretário municipal de turismo e presidente da Paulistur nos anos 80. Ocupou ainda o cargo de presidente da Embratur. Mas não quer falar deste seu passo pelo governo. Ele se candidata à prefeitura de São Paulo pela primeira vez.


Tudo pode ser privatizado
Com uma propaganda baseada em sua biografia de homem que trabalhou para alcançar um patrimônio muito considerável, Doria, que não partia como favorito, cresceu exponencialmente nas semanas finais. Nas caminhadas pelos bairros, o candidato fez questão de posar comendo, tomando café ou abraçando eleitores. João Doria gostava de repetir em todos os debates que ele é um empresário e sua marca é a privatização. As ideias de Doria são sempre as mesmas. Para tudo, a resposta é “colocar nas mãos da iniciativa privada”. 


A postura pró-mercado do novo prefeito de São Paulo encaixa perfeitamente com o plano do governo Michel Temer, que já colocou 34 projetos de infraestrutura à disposição do mercado. “Investimento privado é a única maneira de gerar um crescimento sustentável, de longo prazo”, diz Barry Engels, presidente para América Latina da General Motors, que elogia a mudança de pensamento no Brasil. A falta de recursos é a realidade para a maioria dos 5.568 municípios brasileiros. A situação é tão crítica que levou prefeitos a tentar provar que possuem um número maior de moradores para aumentar as receitas que são repassadas pela União.

Obstinado, metódico e comunicativo, Doria está convencido de que é possível transferir a eficiência do setor privado para a máquina pública. “Não existe herói solitário. Existem ações coletivas”, afirma. 
A esperança é que esse modelo de gestão seja replicado em outras regiões.

“Vamos fazer gestão, fechar as torneiras, utilizar tecnologia e colocar máquina dentro do trilho, desburocratizando e simplificando”, diz Lunelli. 

A quase 600 quilómetros da capital paulista, os moradores do município catarinense de Jaraguá do Sul, sede de empresas como a WEG, uma das maiores fabricantes de equipamentos elétricos do mundo, e a Malwee, uma das principais empresas de moda do Brasil, terão uma experiência semelhante nos próximos quatro anos. Neófito na política, o empresário do setor têxtil Antídio Lunelli, dono de um património declarado de R$ 288 milhões (Doria Jr. declarou ter R$ 180 milhões), foi eleito com 44% dos votos.

Na senda de Bloomberg e Macri
A exemplo do que ocorreu com Bloomberg e Macri, a chegada de um empresário ao poder gera um choque de expectativas. Para Edmundo Klotz, presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), “O setor privado pode ensinar tudo para o setor público” já que “O governo, na maioria dos casos, não sabe ser gestor.” 

Ainda resta por aclarar a história de um cheque de R$ 20 mil que recebeu em dezembro de 2013 de uma empresa investigada pela Operação Lava Jato.


A partir de 1º de janeiro de 2017, quando estiver no comando da maior cidade da América Latina, o empresário João Doria Jr. terá a oportunidade de comprovar se pode haver boa gestão sem boas diretrizes políticas. 

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