Abraão Santos, diretor do Museu da Resistência Timorense: "A independência de Timor é um direito inalienável"

Esta sexta feira cumprem-se 20 anos da restauração da independência de Timor-Leste, o primeiro Estado em se constituir no século XXI. No aniversário desta histórica data, Nós Diario conversa com Abraão Santos, diretor do Museu da Resistência Timorense e ex-membro da guerilha que lutou pela liberação do país.
Abraão Santos, diretor do Museu da Resistência Timorense (Foto: Nós Diario).
photo_camera Abraão Santos, diretor do Museu da Resistência Timorense. (Foto: Nós Diario)

—Como é que foi o processo de independência de Timor-Leste?

Foi um processo duro, muito duro, mas era preciso realizar esse nosso sonho e sonho dos nossos antepassados. Há vinte anos consguimos restaurar a nossa independência e agora temos que continuar a lutar para conseguir o reconhecimento do noso direito inalienável de sermos independentes. 
Antigamente nós lutamos em uma batalha diferente, agora, as novas gerações têm de lutar para manter a nossa liberdade.

O que nós conseguimos com a independência era o espírito que tinha o povo timorense, agora o preciso é lutar por manter a nossa soberania. Embora sejamos um país pequeno o nosso espírito é grande.

—Após a independência, como é que mudou a vida das e dos timorenses?

A vida mudou, certamente. Após a independência conseguimos liberdade de pensamento e conseguimos criar um país novo. O seguinte que tivemos de fazer foi desenvolver o país passo a passo, e é o que ainda hoje estamos a fazer, algo que, de certeza vamos conseguir. 
Somos poucas pessoas, a população de Timor é de um 1.300.000 mas somos um povo trabalhador que conquistou muita coisa e agora, graças à luta, estamos muito bem em Timor-Leste, vive-se bem no nosso país. 

Também, estamos muito agradecidos pela ajuda internacional que recebemos dos nossos irmãos para conseguir o direito inalienável da independência. Agora mantemos uma boa relação com países como Portugal, porque, ademais, a língua portuguesa para nós é uma língua de liberdade e resistência.

—Como é que são as relações com o outro lado da ilha (Indonésia) atualmente?

Somos irmãos. Muita gente em Timor tem familiares no outro lado da ilha e as relações em geral são boas. 
A diferença principal que existe é o status político mas, em termos de relação, podemos dizer até que é extraordinaria. Não podemos ter más relações porque no outro lado da ilha moram irmãos, primos, família... e os indonésios também são nossos irmãos.

—E como é que são as relações com Portugal na atualidade?

As relações com Portugal são maravilhosas mesmo. Portugal ajudou-nos muito em termos de humanidade e de divulgação da nossa história e ensinamento da língua portuguesa. Os nossos irmãos portugueses desde a restauração da nossa independência há 20 anos atrás, ajudaram muito e contribuiram muito ao nosso desenvolvimento. Mas ainda fica muito por fazer, sobretudo em termos de infraestrutura e indústria que nós agora precisamos.

—Quais são as suas esperanças para o futuro do país?

A nossa esperança é ficar em paz. O nosso povo não está à procura de vinganças de nenhum tipo. Nós só queremos continuar a transformar e a desenvolver Timor-Leste. Eu sempre disse que os timorenses transformamos a vingança em desenvolvimento. Agora vivemos com mais esperança porque já há empresas que estão a construir aquí e dar emprego aquí, algo que é realmente muito positivo.

—O senhor conhece a Galiza. O que espera para o nosso país?

A Galiza é um país irmão de Timor-Leste. Eu conheço a Galiza e eu amo-a. Quando estive lá, vi que a cultura galega é muito parecida à cultura portuguesa também linguísticamente. Eu espero que no futuro possamos criar e estabelecer maiores relações entre os nossos países.

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