Integrada nos espaços da Fundação de Serralves, casa Manoel de Oliveira representa, segundo podemos ler no web da Fundação, "um novo polo de referência no domínio do cinema e das imagens em movimento".
Além de uma exposição permanente, de um centro de documentação e de sessões de cinema que permitem um acesso regular à obra de Manoel de Oliveira, a Casa do Cinema apresenta uma programação de exposições temporárias, ciclos de cinema temáticos e monográficos, retrospetivas, conferências, edições e programas educativos, através dos quais promove diferentes possibilidades de aproximação ao cinema contemporâneo, no âmbito de uma reflexão alargada sobre a arte do nosso tempo.
A Casa do Cinema dispõe de duas salas de exposições, livraria e espaços de trabalho
A Casa do Cinema dispõe de duas salas de exposições, livraria e espaços de trabalho situados nos dois pisos da construção existente, acolhendo o novo edifício um auditório de 59 lugares, o arquivo, espaço de investigação e salas do serviço educativo, às quais se acede através de uma longa galeria aberta com vista panorâmica sobre o jardim envolvente.
A primeira exposição será dada a conhecer no mesmo dia da inauguração e intitula-se Manoel de Oliveira: A Casa. A exposição incide sobre as múltiplas representações da casa no cinema do realizador, tendo por foco o filme Visita ou Memórias e Confissões (1982). Produzido numa altura em que Oliveira, já septuagenário, se viu forçado a abandonar a casa onde habitou com a família durante mais de quarenta anos, com a determinação de só ser apresentado postumamente, Visita estava predestinado a um estatuto paradoxal: filme de balanço, de memórias e confissões, onde o cineasta recorda o passado ao mesmo tempo que discorre sobre as suas convicções cinematográficas. Visita é também um filme onde se antecipam muitas das realizações — de resto, a parte mais substancial da obra — que, inesperadamente, estavam ainda por vir. O tom é marcado pela despedida (de um lugar, da própria vida), mas o filme acabaria por ser mais profético do que testamentário.
Na exposição, podemos ainda ler na apresentação, encontramos “a mais eloquente expressão da importância que o espaço da casa assume no cinema de Manoel de Oliveira
Na exposição, podemos ainda ler na apresentação, encontramos “a mais eloquente expressão da importância que o espaço da casa assume no cinema de Manoel de Oliveira, e que se desdobra nas muitas outras casas que povoam a sua obra” sejam “aquelas que dão para a rua, como em Aniki Bóbó (1942) e A Caixa (1994) ou que, pelo contrário, enclausuram no Convento (1995) os diabólicos dilemas da intimidade de um casal”.
Quer por servir de motivo para um retrato social do país e uma inquirição do estado do mundo, quer para instituir a construção biográfica do autor como espaço de derivação e centro de gravidade de toda a sua obra, ou mesmo para abrir portas para o questionamento do ato de filmar e da natureza do cinematográfico, são muitas as casas que será possível visitar nesta exposição aberta a público a partir de 25 de junho e no ciclo de cinema que a acompanha.
Eis algumas delas. A casa-teatro da farsa burguesa em O Passado e O Presente (1972), a casa-prisão de Benilde ou a Virgem Mãe (1975), as duas casas rivais que precipitam a tragédia em Amor de Perdição (1978) ou os desenganos românticos de Francisca (1981). As casas arruinadas que, com vista para os prósperos solares vinhateiros do Douro, atiçam a erótica social em Vale Abraão (1993) ou comportamentos incendiários em O Princípio da Incerteza (2002). A casa-palco de Mon Cas (1986), onde o cinema é compelido a enfrentar-se teatralmente a si próprio, ou a casa-túmulo de O Dia do Desespero (1992), onde o realizador teatraliza a sua identificação com Camilo Castelo Branco. A casa-navio de Um Filme Falado (2003), a casa-ilha de Party (1996) ou a casa-mundo, asilo de alienados em A Divina Comédia (1991). A casa de onde se foge em O Gebo e a Sombra (2012) ou onde inevitavelmente se regressa em Je rentre à la maison (2001). O estranho caso dessa casa, simultaneamente origem e fim, que, a meio caminho entre recordações e ruínas, é percorrida entre Viagem ao Princípio do Mundo (1997) e Porto da Minha Infância (2001).