Opinión

Uma ode religiosa

Xosé Antón Miguélez vem de publicar na editorial SEPT um livro com um título que pode resultar pouco atrativo a alguns leitores: Oda a Xesús Cristo. Pode soar-lhes a coisa de antes; algo religioso, só para consumo de pessoas que tenham essa fé. Mas vem a ser um magnifico poemário para qualquer que ame a boa poesia. 

Poesia e religião –como tenho escrito em mais duma ocasião– foram na história duas realidades intimamente vencelhadas, ainda que ultimamente o estejam menos. Não é casual que a poesia se encontre habitualmente com a realidade funda do Mistério religioso, ou que a religião tenha usado a linguagem poética para expressar o Mistério inexpressável.

Este é o esforço do poeta e teólogo Xosé Antón Miguélez. Não é um poeta novel, ainda que tenha publicado poucos livros de poemas e alguns mais de teologia; tão só este e outro há vinte anos: Profecía dun Capitán Trono (Vigo 2000). Este cura poeta leva mais de meio século fazendo versos; tem poemários inéditos (Elemental pan pro camiño, Recuperar a morte...), e alguns dos seus poemas viram a luz en revistas como Grial (já em 1970), Encrucillada ou Irimia, também numa antologia de Xosé Lois Garcia (Escolma da Poesía Galega, 1984) e no meu livro Os rios pasan cheos de Deus (2007); mas outros versos seus deram-se a conhecer em cantigas de grupos como "Saraibas". Os seus poemas são uma criação literária cheia de experiência religiosa, e também de compromisso com o povo galego e a libertação cristã.

Este novo livro nasce –em confissão do próprio autor– "da atracción constante e da nunca bem acadada fidelidade a Xesús Cristo e aos seus irmans mais pobres", e "como pregón admirado e agradecido, orixinal suxestivo, ás veces moi intenso, que ao autor enche de gozo e quere compartir con quen busque o agarimo de Deus e a súa forza curadora". Vem a ser como um grande poema, uma ode em 300 estrofes, 1200 versos hendecassílabos, divididas em doze partes, cheia de lirismo e fé religiosa. Um livro com uma qualidade poética e confessante que repete "amo-te" numa paixão Xesús Cristo, que agradecerá a pessoa religiosa mesmo para orar, mas também qualquer leitor que desfrute com os bons versos.

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