Opinión

O teólogo da involução da Igreja

Rematamos o ano com a notícia do passamento do papa emérito Bento XVI, ex cardeal Josep Ratzinger. De contado multiplicaram-se as louvanças que costumam acompanhar feitos semelhantes. É expressivo que a primeira reação laudatória fosse a da presidenta ultra italiana, Giorgia Meloni; por estar o Vaticano na capital de Itália, mas também pela comunhão na ideologia ultraconservadora de ambos.

Porque, ao lado de louvar alguns acertos do seu pontificado, como a demissão quando via que já não podia seguir à frente da Igreja católica, não se pode esquecer que este papa foi a cabeça duma Igreja autoritária, cérbero da ortodoxia intransigente já desde os tempos do seu predecessor João Paulo II. Ambos representaram um longo inverno de repressão e volta atrás na Igreja, após a primavera apontada por João XXIII e o Vaticano II.

Josep Ratzinger foi o verdadeiro teólogo/ideólogo da involução da Igreja; ainda que não passará à história como o "grande teólogo" do que se falou estes dias. Como reconhecia lucidamente um dos vaticanólogos mais salientáveis, o galego José Manuel Vidal, "Ratzinger impôs uma rigidez doutrinal total à vida intelectual da Igreja e uma dinâmica de controle a ultrança dos teólogos. O medo instaurou-se entre as suas filas... numa instituição intelectualmente inabitável".

O cume desta repressão foi, possivelmente, a sua nefasta instrução anti-ecumênica "Dominus Iesus", da qual tenho escrito. Ademais, silenciou com medidas autoritárias questões teológicas como o estatuto dos teólogos, o papel dos leigos, a praxe penitencial e a comunhão para os divorciados, o preservativo ou a fecundação artificial. E particularmente o celibato dos padres e o acesso das mulheres ao sacerdócio. Nisto, a crítica das mulheres progressistas na Igreja à sua atuação foi dura. Uma declaração da associação norte-americana Future Church’s (Igreja do Futuro) dizia: "Este papa deixou um legado de dor para muitos católicos, especialmente os/as LGTBI+... Acusou à LCWR (Conferência de Liderado de Mulheres Religiosas/monjas) de promover 'temas feministas radicais'... e excomungou as mulheres que eligiam um caminho cara à ordenação sacerdotal".

Um DEP no amor incondicional de Deus, mas não esquecer.

Comentarios