Opinión

Teologias queer

Teologia queer? A mais dum, isto pode parecer-lhe too much. Como pode a teologia, essa coisa tão pouco "atual", achegar-se a algo tão novo como a teoria queer? Como pode chegar a fazer-se a teologia desde os homossexuais, que tanto condenou ao longo dos séculos? Porém, existe uma teologia queer. Assim o reflete um número monográfico da prestigiosa revista internacional de teologia Concilium; o volume intitula-se 'Teologias queer: devir o corpo queer de Cristo' (n.383, 2019). E há bastantes mais livros e trabalhos sobre o tema, que não podo citar neste pequeno espaço.

Para as teologias queer, a opressão das pessoas LGTBI+ na Igreja e na sociedade é um pecado, um escândalo que cumpre superar; mais ainda, a experiência delas vem a ter uma influência performativa que desafia a ambas. Estas teologias questionam radicalmente a função da religião e da teologia em apoio das estruturas de opressão, baseadas em categorias binárias como sexo, género ou raça, que são expressão da violência, racismo e patriarcado que se opõem à boa nova do Reino de Deus de Jesus de Nazaré.

A teologia busca a verdade de Deus e, sobretudo, a salvação/libertação do ser humano; uma busca histórica, sempre em devir. O que quadra com o pensamento queer, criativo, que se opõe a um pensamento estático, essencialista e imóvel, sempre em processo de fazer-se. Uma das suas raízes está nas teologias da libertação; que como o queer foram críticas e transgressoras com o sistema estabelecido; ainda que nos seus começos aquelas esqueceram a perspectiva feminista.

As teologias queer, como as teologias LGTBI, querem "desfazer as suposições de que só as vidas heterossexuais são lugares legítimos de graça, benção e revelação divina" (Susannah Cornwall no vol. cit.). Mas são mais que isso, uma forma de subverter identidades e posições políticas, desde uma perspectiva libertacionista. Crêem que a homofobia e o sexismo, como o racismo, são distorções da verdadeira mensagem cristã. Marcella Althaus, com a sua "teologia indecente", é uma das reflexões mais radicais e sugestivas: "Deus é queer", está com os excluídos, além dos estabelecidos. Outras teólogas dizem assim mesmo "Cristo é queer", elaborando uma nova Cristologia.

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