Opinión

Que queiram, que não

O passeio ameaçante dos aviões da força aérea espanhola marcando desafiantes no céu as cores da bandeira espanhola não puderam amedrontar os corunheses que levávamos uma grande bandeira galega, nem afogar os berros dos nacionalistas galegos na pacífica manifestação este 25 de julho pelas ruas de Compostela: “Que queiram, que não, Galiza é uma nação”. As palavras de “Galiza ceive, poder popular” ressoavam baris como o faziam de havia décadas. Respirava-se entusiasmo e ilusão numa manhã de sol, apesar das ameaças de chuva. Frente às provocações iradas de alguns espanholistas desde as beiras da manifestação “Galicia es España”, as vozes pacíficas dos nacionalistas berravam lúcidas: “espanhóis, de quê?” e “Espanha, ruína de Galiza”.

Logo soube que na Quintana puderam mesmo escutar-se berros de outro tempo: “Viva Cristo Rey!”. Porém, pudemos escutar o apoio das forças nacionalistas do Estado espanhol, das nações sem estado de Europa e de movimentos de libertação de América Latina. A muitos agradou-nos particularmente a presença de Oriol Junqueras, grande homem de esquerdas e crente que pagou com o cárcere o seu compromisso pacífico com o procés de independência catalã; alguns rodearam-no ao remate do mítim para fazerem fotos com ele. Com a participação de adultos e velhos, de moços e crianças no colo ou em carrinhos, esta manifestação foi uma festiva ocasião de afirmar-se e avançar na consciência nacional.

Como repetem os companheiros de Via Galega, uma ocasião de conformar-nos um pouco mais como nação galega, acrescentar a autoestima coletiva, existir e sermos nós “que queiram, que não”, frente a tantas agressões e injustiças sofridas e que seguimos a sofrer. A negação da condição nacional de Galiza é antidemocrática e repressora dos direitos pessoais e coletivos. Por isso, Ana Pontón disse o domingo com razão e contundência na Quintana: “Queremos competência em tudo”. Só com a capacidade política de controlo dos nossos recursos, as potencialidades do país estarão realmente ao serviço de todos os galegos e galegas.

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