Opinión

Ainda Colômbia

A revolta em Colômbia deixou de ser titular nos telejornais e diários, mas segue a ser uma notícia de primeira ordem, não só para o país, mas a nível internacional. 

Em primeiro lugar, a repressão das manifestações populares não amainou, mesmo se fez mais forte; seguem a crescer os mortos pela ação dos temíveis Esmad, o exército e os grupos paramilitares armados que, com a anuência dos anteriores, disparam os manifestantes. Com esse “dar plomo”, a cifra de mortos é muito superior à oficial, e há que ir somando os cadáveres que aparecem dos quase 400 desaparecidos, alguns nos rios, outros estão presumivelmente enterrados em fossas comuns; prática habitual no país desde há décadas. Os desaparecidos raramente aparecem vivos; verbo deles, recebi um contador agobiante com os nomes concretos de homens e mulheres ativistas.

Em segundo lugar, parte do êxito da revolta, que vai conseguindo os seus frutos com concessões do governo, deve-se ao uso das novas tecnologias. A câmara do telemóvel e o What’sApp –mui utilizados a nível popular, como pude comprovar– desta vez serviram não para a mentira e fake news, mas para certificar a verdade incontrovertível da repressão, ainda que pudesse haver alguma manipulação. Os assassinados e os berros das suas mães e pais que mostram as imagens dão fé de que isto é certo. O meu telemóvel ferve com os vídeos e as mensagens no chat.

O mais grave é que a repressão não é algo novo no país, mas uma constante desde há décadas, como sabem bem os colombianos. “Não nos estão matando agora, senão que nos mataram sempre”, dizia um jornalista. Milhares de assassinados, desde os massacres das bananeiras nos anos 20 do passado século e o “bogotazo”, a repressão dos anos 50 até 80... “Garrote y bala p'al que proteste”. Uma história de repressão dos governos, alentados pela oligarquia, os terratenentes e os grandes proprietários, contra a maior parte do povo, sumido na pobreza e a impotência ante a corrupção, dos que lhes roubam o que é seu por direito. Isto tem que ver também connosco.

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