Opinión

Outra volta com o conto da leiteira

O semanário Sermos Galiza publicava no seu número 438, de 27 de fevereiro desta ano, um trabalho jornalístico sobre os oito projetos de celuloses que se queriam implantar na Galiza por volta de mediados dos anos setenta do século passado.

Os argumentos com os que se intentava convencer à povoação dos lugares onde se pretendiam elevar esses empreendimentos sempre eram os mesmos.

Assim no concelho de Dodro falava-se de que se investiriam 3.000 milhões de pesetas e prometiam-se 500 postos de trabalho. Por essas mesmas datas em Negreira o, daquela, Presidente da Câmara defendia a instalação da celulose no seu concelho porque “há zonas desérticas habitadas só por tojos e ademais daria emprego a 2.540 pessoas. Por demais não haverá problemas de fumes porque estará num sítio muito alto e nem as águas se poluirão e tampouco as terras”.

Agora, nesta década do século XXI estamos assistindo a uma grande campanha de propaganda para inçar a Galiza de projetos eólicos tanto terrestres como marinhos. Os argumentos voltam a ser os mesmos que os usados nos anos setenta do século passado para convencer às populações onde se pretendia instalar as celuloses. O jornal La Voz de Galicia, em junho de 2020 fazia-se eco de umas declarações do Presidente da Associação Eólica da Galiza (AEG) nas que manifestava que no território onde se instalem os parques eólicos está garantido o respeito pelo meio ambiente e a proteção do território,  ademais prometia um investimento nos próximos cinco anos de 2.500 milhões de euros (as pesetas converteram-se em euros) e a geração de 6.000 novos empregos. Em agosto, desse mesmo ano, e nesse mesmo jornal, podia-se ler outra notícia referida a um estudo sobre o impacto, no ano 2019, deste sector, fazia este referência a que o vento galego moveu, nesse ano, 7.022 empregos entre a construção de parques e o seu funcionamento. De novo o passado mês de  abril, e no mesmo meio de comunicação, a Associação das Industrias do Metal da Galiza (Asime) fazia contas e já elevava a 12.000 os postos de trabalho que se geraram na próxima década com a implantação da eólica marinha.

Significativamente tanto os velhos empreendimentos celulósicos, mas de novo de atualidade, como os novos eólicos coincidem em basear o seu futuro e o seu rendimento em que Galiza sega a ser fonte de matéria prima barata para benefício de empresas espoliadoras, mormente de fora da Galiza. O seu objetivo não é outro que encher o nosso território, num caso de eucaliptos, e no outro de aerogeradores, deixando na Galiza todos os prejuízos e levar para fora todo o lucro.

Nestes momentos Galiza concentra o 14% do total da potência eólica instalada de todo o Estado espanhol, entanto representa menos do 6% do território do Estado

Alguns dados confirmam esta visão. Nestes momentos Galiza concentra o 14% do total da potência eólica instalada de todo o Estado espanhol, entanto representa menos do 6% do território do Estado, o que se traduz em que a potência instalada por quilometro quadrado seja de 130 kW, quando no Estado espanhol é de 54 kW, mas de a comparar com Alemanha que é de 72 kW também ficamos muito acima. O 28% da eletricidade produzida na Galiza é exportada para fora do País, fica claro qual a função colonial que nos tem assinada a metrópole espanhola, mas isto agrava-se se temos de conta que a maioria das empresas que girem a nossa produção energética têm a sua sede fiscal em Madrid e é lá onde tributam.

Neste caso à Galiza tem-se-lhe assinado o papel de subministrar energia barata para o desenvolvimento da metrópole madrilenha em quanto cá ficam as consequências negativas desta invasão, tanto meio ambientais, paisagísticas, patrimoniais ou económicas via desertificação do território e que, a maiores, sigamos sem ter uma tarifa elétrica galega.

De novo terá de ser a povo galego, como nos setenta, quem tenha de parar esta agressão. Galiza tem que ter direito a decidir como melhor aproveitar os seus recursos para que estes redundem em benefício da maioria social e não no de uma minoria espoliadora, com a colaboração do governo galego do PP.

Por isso movimentos vizinhais, de comunidades de montes, organizações ecologistas, operarias e camponesas vamos celebrar proximamente uma mobilização em Compostela.

Comentarios