O bombardino de Charles Anne

Este verão voltei à Bretanha, terra apenedada pola banda do mar, mentres por onde se amece à França abre-se em longas chairas, estreitas valinhas e ledos outeiros. Da outra vez movera-me o desejo obsessivo de percorrer os lugares míticos d' As crónicas do sochantre que Cunqueiro descrevera antes de as conhecer in situ, e todo era um abraio contínuo ante uma realidade liricamente transcendida polo génio poético. Agora, numa viagem mais distendida ao Morbihan, deixo-me levar ao fest-deiz de Sainte Hélène onde é doado dançar ao som da guitarra e o acordeão, o povo e todas as gerações de mãos dadas, e observar o desfile cerimonial com vestimenta de gala ao som das gaitas, os tambores e a potência das bombardas.  Inevitável visitar os incríveis alinhamentos de Carnac, o Dólmen La Table des Marchands e o Grand Menhir Brisé em Locmariaquer, antes de irmos ao Fest-Noz em Crec'h, a uns metros do Bar Breton e a Chapelle Saint-Jacques, a um passo de Auray e a pouco mais de Vannes, uma beleza.
Este primeiro terço do artigo vale para lembrar que Cunqueiro construiu um dos seus maiores relatos arredor de um protagonista músico, Charles Anne Guenolè Mathieu de Crozon, que se por um lado pode ser um trasunto emocional do próprio autor, este situa-o na Bretanha a fins do século XVIII, aprendendo de cedo a tocar o bombardino, e aos vinte e dous anos de idade passa a Pontivy de sochantre racioeiro da Colegial Capela, e daí a se ver imerso num périplo fantástico, lírico e arrepiante. Quem ainda não lesse a obra, pode-o fazer quando quiser, mas agora interessa apenas o Charles Anne músico. Como temos dito a propósito do Hamlet, o mindoniense não sabia música, e no entanto introduziu diversos pentagramas nos seus textos, como é o caso, pois o capítulo III da parte primeira remata com quatro pentagramas em clave de Fa ( 2/4, larguetto, em Do Maior), que transcrevem a "marcha de reverência" ensaiada para o enterro do fidalgo de Quelven. Infelizmente faltam na versão castelhana de Salvat (1970) ou na francesa de L'Harmattan (1991), o que é uma mágoa.
Além disso, o tratamento musical é livre e imaginativo, como costuma ser no nosso autor. Interpreta Charles Anne no bombardino contradanças, valentinas, marchas funerais e caçadoras, pavanas, cortesinas e nomeadas peças como  Laura sorride ou Le coeur solitaire (imaginamos o poema de Charles Guérin, de1896), mas o seu músico de referência é Rossini, de cita reiterada ao longo do relato. Porém, o moço sochantre também é criador de música quando lemos: "Soprou no bombardino unha marcha que comezara a solfear no seu maxín aquela mañá". Ou quando se nos deixa penetrar nos seus adentros: "Nunca fora tan novo (…), foi a primeira noticia que tiña de que a súa música pasara  de fama máis alá de Bretaña (…). I el, este sochantre era el". Porém, o habitual anacronismo não podia faltar: a aventura de Charles Anne decorre entre 1793 e 1797, enquanto Rossini nasce em 1792.
photo_camera Este verão voltei à Bretanha, terra apenedada pola banda do mar, mentres por onde se amece à França abre-se em longas chairas, estreitas valinhas e ledos outeiros. Da outra vez movera-me o desejo obsessivo de percorrer os lugares míticos d' As crónicas do sochantre que Cunqueiro descrevera antes de as conhecer in situ, e todo era um abraio contínuo ante uma realidade liricamente transcendida polo génio poético. Agora, numa viagem mais distendida ao Morbihan, deixo-me levar ao fest-deiz de Sainte Hélène onde é doado dançar ao som da guitarra e o acordeão, o povo e todas as gerações de mãos dadas, e observar o desfile cerimonial com vestimenta de gala ao som das gaitas, os tambores e a potência das bombardas. Inevitável visitar os incríveis alinhamentos de Carnac, o Dólmen La Table des Marchands e o Grand Menhir Brisé em Locmariaquer, antes de irmos ao Fest-Noz em Crec'h, a uns metros do Bar Breton e a Chapelle Saint-Jacques, a um passo de Auray e a pouco mais de Vannes, uma beleza. Este primeiro terço do artigo vale para lembrar que Cunqueiro construiu um dos seus maiores relatos arredor de um protagonista músico, Charles Anne Guenolè Mathieu de Crozon, que se por um lado pode ser um trasunto emocional do próprio autor, este situa-o na Bretanha a fins do século XVIII, aprendendo de cedo a tocar o bombardino, e aos vinte e dous anos de idade passa a Pontivy de sochantre racioeiro da Colegial Capela, e daí a se ver imerso num périplo fantástico, lírico e arrepiante. Quem ainda não lesse a obra, pode-o fazer quando quiser, mas agora interessa apenas o Charles Anne músico. Como temos dito a propósito do Hamlet, o mindoniense não sabia música, e no entanto introduziu diversos pentagramas nos seus textos, como é o caso, pois o capítulo III da parte primeira remata com quatro pentagramas em clave de Fa ( 2/4, larguetto, em Do Maior), que transcrevem a "marcha de reverência" ensaiada para o enterro do fidalgo de Quelven. Infelizmente faltam na versão castelhana de Salvat (1970) ou na francesa de L'Harmattan (1991), o que é uma mágoa. Além disso, o tratamento musical é livre e imaginativo, como costuma ser no nosso autor. Interpreta Charles Anne no bombardino contradanças, valentinas, marchas funerais e caçadoras, pavanas, cortesinas e nomeadas peças como Laura sorride ou Le coeur solitaire (imaginamos o poema de Charles Guérin, de1896), mas o seu músico de referência é Rossini, de cita reiterada ao longo do relato. Porém, o moço sochantre também é criador de música quando lemos: "Soprou no bombardino unha marcha que comezara a solfear no seu maxín aquela mañá". Ou quando se nos deixa penetrar nos seus adentros: "Nunca fora tan novo (…), foi a primeira noticia que tiña de que a súa música pasara de fama máis alá de Bretaña (…). I el, este sochantre era el". Porém, o habitual anacronismo não podia faltar: a aventura de Charles Anne decorre entre 1793 e 1797, enquanto Rossini nasce em 1792.
Este verão voltei à Bretanha, terra apenedada pola banda do mar, mentres por onde se amece à França abre-se em longas chairas, estreitas valinhas e ledos outeiros. Da outra vez movera-me o desejo…
 
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