Que ande A Roda, que a quero ver bailar! Crónica da homenagem a Fito

"Teño noivados coa roda / da que nacín compañeiro. /
Imos sempre vencellados / ó ar guindando luceiros”
Romance do afiador namorado, Serafín Gómez Pato
A voz de Fito soou dentro do auditório Mar de Vigo, que encheu as suas mil quinhentas
localidades para a homenagem que se lle tributou o pasado sábado, como num Nautilus que percorresse as nossas rias.
Alfredo, filho de Fito, e Bernardo Xosé, membro de A Roda. Imaxe: Marcos Guilherme.
photo_camera Alfredo, filho de Fito, e Bernardo Xosé, membro de A Roda. Imaxe: Marcos Guilherme.

Nem o mesmíssimo capitão Nemo teria convocado tanta atenção dos habitantes da nossa terra e do oceano que tão próximo se observava desde as vidraças do vestíbulo. O mundo da música tradicional rendeu este passado sábado homenagem póstuma ao cantante da Roda falecido há um mês na sua casa de Teis, no concerto intitulado “Na memória”. Anxo Pintos, Susana Seivane, Xurxo Souto, os míticos Mini e Mero, Guilherme e Bastardo (integrado por Alfredo Dourado, o filho de Fito e por um servidor), Cancións dos nossos barrios ou o grupo de baile Os Corimbantes, forom alguns dos dos artistas e músicos que subirom ao palco. Mesmo estivo presente o próprio grupo A Roda, com Alfredo à frente e com o seu novo vocalista, José Manuel, além de alguns antigos membros (sabiam que Mini também o foi nos seus começos?).

A formação nascera em 1976 entre um grupo de amigos apaixonados polo bom vinho e as melhores cantigas e conseguirom atrair a atenção de uma multinacional discográfica, que aproveitou o facto de ter uma unidade móvel deslocada na Galiza para gravar o primeiro álbum do grupo, assinado polos seus componentes, a modo de descontraída declaração de princípios, na contracapa. A gravação nesse outubro de 1977 de temas como Pousa, pousa, O andar miudiño e O gato extraídas dos ambientes de tabernas como O Elixio, O Chavolas ou A viúva, conseguiu o ano seguinte o Premio da Crítica de Galiza polo seu labor a prol da normalização linguística na área musical. Daquela estavam os irmãos Luis e Suso Vaamonde, junto a José Luis Abalde e Pituco Abalde –já falecido–, Manuel Piña e os também irmãos Luis e Adolfo Domínguez, "Fito", junto a Keno Cabrera.



Adolfo Domínguez Otero, popularmente conhecido como Fito, nascido e criado em Teis, era mais um dos afoutados soldadores que trabalhavam nos estaleiros deste bairro vigués, onde ainda se conserva o saudável costume de cantar nos bares, nomeadamente os domingos de manhã.

Durante a apresentação do concerto, Alfredo afirmou: «como cantante e eixo d'A Roda, voz irrepetível, artelhou um dos grupos mais conhecidos da música popular». Lembrou a anedota que entre bambolinas contara-nos Xurxo Souto: “nos autocarros do Desportivo da Corunha, caminho do derby galego por excelência, os siareiros do Depor cantavam a conhecida “Foliada do Celta”, mas alterando a letra: “Dixo-lle o sobrinho ao tio.... viver na Corunha que bonito é!!!”

Nesta apresentação também estivo presente outro membro do grupo, Bernardo Xosé Rodríguez, quem afirmou: «Fito forma parte da história; podo dizer que Fito é Vigo, o homem de Teis». Como declarava recentemente Alfonso Graña, músico criado junto a Fito e antigo integrante da banda: "A Roda nesse momento era Fito, pola sua presença, pola sua voz...", "humanamente era impressionante; era uma espécie distinta".

E algo de verdade deve haver nestas palavras, porque tod@s sentimos um arrepio e ficamos com a pele eriçada quando se desligarom as luzes e se enfocou um microfone solitário na metade do palco, enquanto um canhão de luz iluminou a Xan, o gaiteiro da formação, e soou a voz de Fito interpretando “Os mariñeiros” que parecia surgir das profundidades do mar. Não faltarom nessa noite outros êxitos como O afiador, Cabaleiros d'A Roda ou Falemos galego, tema interpretado polo sempre genial Xurxo Souto, que também puxo ao publico a dançar e a erguer o punho à vez que em uníssono berrávamos “Berbés!”.


Mini e Mero protagonizarom um dos momentos mais emotivos ao interpretar “Como hei vivir mañá sen a luz túa” conhecido poema de Bernardino Graña imortalizado na voz de Suso Baamonde:

Case morto vivín sen coñecerte
aló na chaira seca por absurdas rúas
onde ninguén me soupo dar mornura.
Foi soedade desconforme adentro
e a semente a caír en terra dura.
Como hei vivir mañá sen a luz túa?

Foi também um reconhecimento à sua mulher, Filo, morta apenas uma semana antes. Companheira inseparável e manager, ela foi a culpável de que a banda encetasse o caminho da professionalização, feito que provocou a renovação dos seus membros e que aparecessem músicos profissionais que introducirom instrumentos mais atuais como os teclados ou a bateria.

Foi, mais uma vez, uma celebração do carpe diem e da solidariedade nuns tempos nos que a crise parece justificar (quase) tudo. Não faltarom familiares e amigos do histórico vocalista, além de ex-jogadores do Celta, como Vlado Gudel, que entoarom a mítica “Rianxeira”. Difícil descrever o ambiente dessa noite, já que foi uma verdadeira festa coletiva sem distinção de sexo, idade, procedência ou mesmo classe social. As portas abrirom-se para a entrada de público às 21:30, mas à 1:30 ninguém queria ainda ir embora e já todos em pé, batendo palmas e aturujando pareciamo-nos mais com as bravas tribos castrejas da ladeira d'O Castro que com os rendidos e uniformados cidadãos da era post-globalização.

Canté que o seu espírito rebelde e inconformista continue em nós e, povo paciente e sábio, esperemos o seu regresso desde as Ilhas Cíes (a nossa Avalon, mítica ilha da mitologia artúrica avondosa em maçãs) qualquer manhã de brêtema. Como dizem os dançados em roda tão populares entre as crianças galegas:

Que ande a roda,
que ande a roda,
quero, quero, quero ver bailar!
Que dea a volta a roda,
que dea a volta a roda,
quero, quero, quero ver bailar!

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