Opinión

Nom as cancelemos

Já passárom mais de quarenta dias desde que o Governo espanhol decretou o estado de alarme, para fazer frente à crise provocada pola apariçom nas nossas vidas da covid-19 e, dentre todas as medidas apresentadas ou propostas pola sua parte com a olhada posta na recuperaçom da ''normalidade'', nengumha que tenha a ver com o mundo da cultura e a situaçom em que umha boa parte deste ficará após meses de paralisaçom.

É certo que nom é algo que estranhe se tivermos em conta o tratamento habitual dado polos diferentes governos (sempre com honrosas exceçons, é claro) a este coletivo -chegando inclusive, em muitas ocasions, ao mais absoluto desprezo; mas nom por isso deixa de ser preocupante que até os dias de hoje nengumha voz autorizada -quer do Governo espanhol, quer da Junta da Galiza- se tenha pronunciado para deitar algo de luz nesse grande oceano de incerteza em que, lamentavalmente, estám a navegar (à deriva) os diferentes agentes culturais da Galiza: desde as milhares de artistas até as pessoas encarregadas de programar, promotoras e produçom, passando polas agências de representaçom, pessoal técnico de som, luzes e montagem... e um longo et cétera de profissons que mantenhem vivo um tecido cultural que, indiscutivelmente, é fundamental no nosso dia-a-dia e cuja atividade é, sem nengum género de dúvida, a principal escolha para o nosso tempo de ócio.

No entanto, como povo digno que somos, este mesmo tecido cultural articulou umha primeira resposta ante este descaso institucional. Aproveitando a repercussom das redes sociais -principal canal de expressom nestes dias de quarentena- dérom em lançar a campanha virtual #nomnoscanceles (com jornada de greve incluída). Um hashtag para pôr de manifesto a sua situaçom de vulnerabilidade a curto e médio prazo e com o objetivo posto em garantir a sua normal volta à atividade o antes possível (sempre e quando a situaçom sociossanitária o permitir e se garantir a total segurança de todo o pessoal envolvido); pois como elas mesmas manifestárom ''fôrom as primeiras a sair, mas nom querem ser as últimas a entrar''.

E dentro deste próprio coletivo, há um outro que, com certeza, irá ver-se mais prejudicado: aquele que aposta na nossa língua como veículo de expressom.

Porque se já habitualmente é difícil que muitas destes artistas encontrem espaços para expressar a sua arte, mais complicado vai ser com a chegada da profunda crise económica que já se avizinha e que, mais umha vez, golpeará com mais força e crudeza as e os de sempre.

E neste difícil cenário é que os centros sociais jogaremos um papel fulcral pois, apesar do complicado (e já analisado em anteriores artigos) futuro que também nos aguarda como espaços auto-geridos e -na maioria dos casos- fora do circuito de subsídios públicos, devemos responder como elemento aglutinador e ser -mais umha vez- exemplo e vanguarda para responder a este chamado de socorro, recuperando toda aquela programaçom agendada com anterioridade à implantaçom do estado de alarme; mas também continuar apostando com firmeza e convicçom em todas aquelas propostas culturais que nos chegarem e que, respeitando os nossos principios constituintes, apostem no principal elemento que nos identifica como povo: o galego.

É facto que nom som nem umha, nem duas, nem três... Som centenas as músicas e músicos, atores e atrices, escritoras, monologuistas, clowns, poetas, titiriteiros, etc que precisam de nós mais do que nunca, para fazerem chegar ao público as suas propostas. Devemos ser lar e refúgio para todas e todos e cada umha delas, desse nutrido setor da nossa classe; e pôr ao seu serviço a nossa máxima expressom de irmandade e solidariedade. Aferrar-nos ao nosso credo e continuarmos a trabalhar mao-ao-mao para fazer e construir País.

Fagamos nossas as palavras do poeta e apliquemo-las à nossa cultura: ''há que defendê-la como seja: com raiva, com furor, a metralhaços. Há que defendê-la em luita rija com tanques, avions e punhetaços. Temos que luitar com os desleigados que desejam matá-la e enterrá-la''.

Nom as cancelemos; nom nos cancelemos. Porque SEM CULTURA, NOM HÁ PAÍS.

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