Opinión

E depois que?

Aproximam-se tempos duros. A crise socio-sanitária provocada pola Covid-19 acelerou a chegada dumha nova crise económica da qual nos próximos meses começaremos a notar as suas consequências.

O mundo do associativismo de base nom vai ser alheio a este novo golpe do capitalismo. Nom é novidade afirmar que a principal espada de Dámocles dos Centros Sociais ou entidades culturais que realizam umha atividade constante é a questom económica.

Como vai afetar-nos? Falamos de entidades sobretodo autogeridas, que se financiam principalmente com o dinheiro de quotas das pessoas associadas ou em alguns casos, como som os Centros Sociais, com o dinheiro de cursos ou dos escassos rendimentos do balcom do café-bar. Coletivos habituados a nom condicionar o seu trabalho à ajuda institucional com um importante esforço da base social para tentar que os projetos sejam o menos deficitários possíveis. Umha base social conformada maioritariamente por juventude precária, desempregada e estudantes que também verám afetadas a sua situaçom económica.

E que se passará se estes espaços desaparecerem?

Como dizemos, o cenário é complicado. A sobrevivência é um ato heroico diário que nos permite ter a experiência da resistência cultural, lingüística, social, nacional de maneira coletiva e nom apenas desde a audácia pessoal. O repto de fazer arte, ciência, desporto, política ou simples ócio em galego e com perspetiva galega estivo a ser respondido desde os centros sociais. Marcará umha etapa no movimento lingüístico-cultural galego. Sem dúvida com luzes e sombras, mas com resultados constatáveis para pôr sobre a mesa. Os Centros Sociais fôrom e som um guarda-chuva e um referente físico para diversas iniciativas do movimento popular, implicárom-se com as cidades e vilas e fôrom ponto de encontro para geraçons dos setores social e culturalmente mais comprometidos das comarcas onde estám sediados. No caso da Fundaçom Artábria, tem especial mérito, dada a nossa situaçom já precedente de zona deprimida a nível socioeconómico e demográfico.

Se temos que afrontar umha crescida acusada do desemprego, umha nova vaga migratória e a correspondente merma no nosso corpo social, haverá que assumir que se podem estar a escrever as últimas linhas da nossa história e as primeiras da nossa sentença de morte. E estamos a fazer o cálculo em termos socioeconómicos: há umha parte das consequências desta crise que ainda nom podemos estimar… a previsível tentativa, por parte do sistema, de curtar as liberdades públicas de maneira que o direito a reuniom, manifestaçom, associaçom… se vejam afetados.

Isto coloca-nos na responsabilidade de darmos novas respostas a umha nova situaçom. Toca analisar debilidades e fortalezas e desenhar novas vias ou reestruturar as existentes que fagam possível a auto-organizaçom popular no terreno sociocultural. Essa frente permite-nos sermos possíveis como povo, com todas as deficiências e contradiçons. Todo o movimento sociocultural de orientaçom soberanista deve sentir-se chamado a essa reflexom coletiva para traçar o novo caminho. Por cima da questom partidária, deixando a um lado qualquer diferença de tipo político-ideológico.

Representamos essa importante minoria social que se nega a perder a consciência nacional e nom somos a elite, ainda que às vezes nos vejam ou mesmo nós próprias nos vejamos assim. Somos maioritariamente classe trabalhadora.

Temos muitos exemplos ao longo da história do País de respostas coletivas, com as suas particularidades, num contexto de agressom como os Ateneus Libertários, a Cova Céltica, As Irmandades da Fala ou os sonhadores do Batalhom Literário.

A energia nom se cria nem se destrói. O associativismo de base, a sua militáncia, é a energia do movimiento cultural galego e se se fecha umha etapa teremos que abrir umha nova. Estamos na obrigaçom de continuarmos a ser o estrato essencial de resistência para esse ente vivo chamado cultura galega.

Sem intençom qualquer de sermos apocalípticas e parafraseando Lois Pereiro: “Que a vida nom nos surpreenda jamais/desprevenidas, caladas e neutrais”

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