Opinión

Pepe Couce

O passado sábado 17 despedíamos em Ferrol um bom amigo e um bom cura, Pepe Couce. Infelizmente, o funeral do seu enterro não foi como a ele lhe teria gostado: todo em galego. Certo que o seu companheiro Toño Basanta fez em galego um pequeno repasso da sua vida, que o administrador apostólico Antonio Valín disse a homilia em galego, e que a maior parte dos cantos foram em galego; mas nem sequer se fez uma leitura da Palavra de Deus na nossa língua, que está numa magnifica Bíblia Galega.

Deste jeito, não se respeitou a sua vontade de ser enterrado “em galego ou em silêncio”, tal como assinara em outubro de 1998 com perto de cem galegos e galegas da zona de Ferrol, numa campanha que percorreu a Galiza toda com o nome “Galegos de por vida”/ “Galegos até a morte”, no marco do “Biénio irmandinho”. Estávamos convencidos daquela como agora, de que “Galiza só pode medrar realmente galeguizando-se –como dixe naquele evento–, defendendo pacificamente a sua identidade própria”, e de que “também a Igreja galega tem que fazer esta aposta se quer cumprir uma função libertadora no seio do seu povo e ser realmente galega”.

Resulta vergonhoso que depois de tantas décadas lutando por uma Igreja galega, ainda não seja normal ver na nossa Terra celebrações litúrgicas completamente em galego e semelhem ser algo estranho.

Pepe Couce foi muito mais que o cura piedoso do que se falou no seu enterro. Ademais do “pastor” que atendeu na sua vida distintas paróquias, sobretudo a do bairro de Carança, foi um homem comprometido com o galeguismo a través da Asociación Irimia, com os obreiros e os sindicalistas ferrolanos, particularmente como consiliário da HOAC (Irmandade Obreira da Ação Católica), onde iniciou e acompanhou muitos militantes. Foi companheiro de Cuco (Eliseo Ruiz de Cortázar, um cura mui comprometido) e de outros padres que, sobretudo na década 1965-75, representaram uma nova presença de Igreja em Ferrol. Estes curas –como dixe em Galegos e cristiáns– “manifestaram uma clara vontade de compromisso com as forças democráticas galegas”; com o apoio dos bispos, primeiro de Jacinto Argaya e logo de Miguel-Anjo Araújo, alcumado pelas forças reacionárias “Camarada Araújo”.

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