Opinión

Demasiadas inmatriculações

Há quase um ano ("Inmatriculações", do 3/03/21) falei nesta coluna e fiz a minha valoração crítica do feito de que a Igreja católica –amparada em velhas leis franquistas e numa reforma hipotecária de Aznar– fizera a inscrição no Registro Civil duma série de bens que reclamava como próprios; o que comunidades cristãs qualificaram como "uma luxúria de possuir e acumular bens".

Recentemente, os bispos espanhóis venhem de reconhecer que puseram a nome da Igreja mil bens mais dos que lhes pertenciam. Pode que –como manifestou a CEE– o "erro" proceda do Governo mais que da inscrição da Igreja, e por isso não poderia devolvê-los pois não som seus... Pero o grave destas inmatriculações, ademais de fazer da Igreja a maior imobiliária do país e manifestar em muitos casos uma escandalosa vontade enriquecedora, era que não tiveram que fazer pública a aquisição ao estar exentos disso; com o que deixaram desamparados aos antigos donos. Ademais, estes imóveis não pagam impostos, ainda que em muitos casos a Igreja obtém importantes benefícios por visitas turísticas como moimentos ou aluguer e exploração deles.

Infelizmente, em séculos de história uma parte da Igreja manifestou crer mais na riqueza e na vida luxuosa dos seus altos cargos, que no Evangelho de Jesus Cristo; contradizendo o que diz o Mestre: "Vende tudo o que tens e reparte-o entre os pobres" (Mc 10, 21).  No melhor dos casos, creu pronto que com mais riqueza poderia cumprir melhor o papel evangelizador que lhe encarregou Jesus de Nazaret. Crasso erro: o antitestimunho que supôs a acaparação de riquezas vai sempre a contra do anuncio e a implantação do Reino de Deus que queria o Mestre: um mundo de justiça e paz, onde foram reconhecidos os direitos dos mais débeis. O Evangelho não fala de acaparar –que gera violência– mas de compartir. E o livro dos Actos dos Apóstolos, que fala das primeiras comunidades cristãs, é claro: "Os crentes tinham tudo em comum... e repartiam os bens conforme às necessidades de cada um" (Act 2,45).

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