Opinión

Uma monarquia em crise

Na denominada transição «modélica» espanhola de 1978 os partidos políticos aceitaram a imposição franquista dum chefe de Estado na pessoa dum rei designado polo ditador, restaurando por segunda vez a instituição monárquica que fora abolida de novo polo sistema democrático republicano de 1931. Isto, com ser grave, não foi o pior, senão que o declararam o rei inviolável e lhe deram atribuições plenas para manejar as suas finanças e lhe facilitaram de facto enriquecer-se pessoalmente a conta do erário público, e isto numa situação de anomia normativa e de opacidade total, tanto por parte dos representantes da cidadania como dos mídia, que se confabularam para silenciar todo o pudesse desprestigiar a coroa, tanto referido às suas múltiplas amantes como à acumulação do seu ingente patrimônio, que se eleva a perto de 2 mil milhões de euros, segundo vários meios de comunicação. Isto criou uma aureola fictícia de eficiência e de respeitabilidade que facilitou que todo o mundo lhe risse as suas graças e que adquirisse uma popularidade muito elevada por parte da cidadania, porque lhe faziam ver o que não era, Só a partir dos primeiros anos do século XXI se começou a informar sobre o seu ingente patrimônio pessoal, adquirido a base de comissões ilegítimas polo desempenho do seu labor de mediação com monarquias muitas delas corruptas, e sobre as suas andanças amorosas adulterinas.

Agora sabemos por informações doutros países que regava às suas amantes com grandes somas de dinheiro, que corresponderiam legitimamente aos sofridos cidadãos, e que ele guardava bem custodiado em paraísos fiscais, a nome de fundações criadas com este objetivo. Isso não era óbice para que lecionasse com «moralina» barata aos seus «súbditos» sobre a igualdade da justiça para todos e sobre a necessidade de transparência e exemplaridade.

Uma vez que a Corina informa em 2019 a Felipe VI sobre o dinheiro guardado e a sua procedência e de que ele é o segundo beneficiário do seu pai, o rei Felipe, para salvar a sua poltrona, decide ativar o complexo de Edipo e matar simbolicamente ao seu pai e renunciar à herança que pudesse corresponder-lhe por este conceito, ou seja, a algo que não é seu e que a lei não permite. Quer, com esta manobra, apresentar-se como uma pessoa exemplar e transparente, mas, para lograr os seus objetivos, teria que convencer à cidadania, antes de pendurar-se estas medalhas, que tem razões sólidas para não tê-lo feito em 2019 e esperou a fazê-lo até março de 2020 em que a fiscalia suíça destapou que figura como beneficiário numa fundação em suíça e outra em Panama, e que está investigando se recebeu 100 de euros em comissões do AVE Medina A Meca, dos que 65 milhões lhe foram doados a Corina, em conceito de testaferro? silêncio? favores sexuais? Está visto que os recortes que afetam aos cidadãos não lhe afetam nem a Corina nem à monarquia.

Mas não só não foi transparente a monarquia, senão que tampouco o foram os partidos políticos, os denominados representantes da cidadania, e os governos de turno, porque é de supor que algo saberiam de todo o que estava a passar, que leriam a imprensa e os livros que se publicaram sobre isto, o CNI, etc. Se não o sabiam, alguém poderia pensar que se deve à incompetência, e se o sabiam, haveria encobrimento de delito. Nos nossos dias dá a sensação de que a grande maioria dos deputados e senadores mais que representantes da cidadania parece que são defensores da coroa, negando-se a reformar o seu status de inviolável, obrigando-o a render contas de como gasta o dinheiro dos cidadãos, tapando presuntivamente a sua corrupção e impedindo que se investigue e que se dê voz aos cidadãos para que decidam se querem uma monarquia ou um a república. Em vez disso dedicam-se a emitir afirmações intempestivas e intemperantes como as de Fernández Díaz, que disse que «pôr em questão a monarquia, seria pior para Espanha que a crise do coronavirus». A intervenção real sobre o coronavirus, vazia e pouco convincente, foi contraproducente porque é uma instituição carente de autoridade moral, do qual é uma prova palpável a sonora caçolada na sua contra que acompanhou o seu discurso.

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