Opinión

Rezemos pola Igreja

AConferência Episcopal Espanhola (CEE), pondo já a venda antes da ferida, manifestou em janeiro de 2020 que se abre um futuro incerto, perante o qual cumpre estar muito alerta devido à formação do Governo de Coligação PSOE-UP, e, portanto convida em geral, em consequência parece que também se dirige a mim, a que rezemos, por Espanha. Eu tenho que agradecer-lhe este convite, que não mo esperava, se bem reconheço que me faz muita falta rezar e, ainda que o fiz intensamente durante a minha juventude, agora já o tinha um pouco arrombado. Respondo também afirmativamente à Carta Pastoral do cardeal Antônio Canhizares na que declara que "a situação urge e preme" e é uma hora crucial para Espanha. "Encontramo-nos em Espanha com uma situação crítica, de verdadeira emergência de cara ao seu futuro". Urge que "que em todas as missas se ore por Espanha". De aqui em adiante não digamos que não estávamos avisados da catástrofe apocalíptica que se nos avezinha, muito pior que a da mudança climática.

Ora bem, quais são os temas que lhe preocupam à Conferência Episcopal? Pois o motivo de tanto desassossego não é o abandono a eito das práticas religiosas, nem a situação de bancarrota ética e ideológica em geral do cristianismo, nem a falta de candidatos ao sacerdócio que estejam dispostos a sacrificar um direito fundamental como é o de formar uma família, senão que são obrigados a exercer como eunucos espirituais num clima hostil cara a mensagem eclesial, necessitada duma profunda renovação, que a instituição eclesial é incapaz de realizar. Nada disto lhe preocupa à Igreja espanhola ou, em todo caso, as demais são preocupações intranscendentes. O que em realidade é primordial tampouco é um facto real, senão o temor às decisões que tome o Governo sobre a educação concertada e a classe de religião. Portanto, cumpre rezar polos temores dos bispos, a que lhe saquem os privilégios que se lhe outorgaram fraudulentamente na Concordata com a Santa Sé, e na CE sobre a educação concertada. O problema com a religião é que o novo Governo pretende que seja voluntária, sem alternativa e a nota não computável a efeitos acadêmicos. Toda uma catástrofe!

O dinheiro para pagar todo isto e também o da alínea 07 da Declaração do IRPF de onde se saca? Pois, por muito surpreendente que lhe possa parecer a algum leitor, esta quantidade tem que pagá-la todos e cada um dos cidadãos, e isto implica que um ateu, um muçulmano, um judeu etc. também são obrigados a pagar do seu peto os meios confessionais católicos polos que se doutrina às pessoas para que combatam a ideologia dos demais grupos sociais, e, em consequência, também os ateus, protestantes, judeus, muçulmanos etc. estão obrigados, quer queiram quer não, a pagar todos estes gastos, e, por muito surpreendente que pareça, os únicos que não estão obrigados a cotizar para isto é a instituição eclesiástica católica. É lógico isto? É lógico que numa cidade onde os centros públicos estão meio cheios, haja que pagar a maiores os centros concertados? É lógico que se obrigue a pagar um ensino que vai contra os valores constitucionais segregando os alunos por sexos? À vista disto, é claro que por quem cumpre rezar é pola Igreja.

Ora bem, como me pedem que reze por Espanha, eu estou disposto, como Canhizares, a pôr-me de joelhos e fazê-lo, e somente reclamo que antes se me aclare por que Espanha querem que reze. Pola de Vox, que também nos enchem a cabeça com slogans nos que aparece constantemente Espanha, mas também sem contido nenhum? É a Espanha unitária, de soberania única e centralista, que afoga a nossa língua, cultura, e espolia os nossos recursos ou a Espanha plurinacional, plurilingüística e pluricultural na que se reconheça a todos os povos que convivem no Estado espanhol? É uma Espanha onde alguns não pagam impostos, como a Igreja católica, ou pagam menos do que lhe corresponde, como as grandes empresas do IBEX ou uma Espanha na que a contribuição às arcas públicas vem determinado polos ingressos de cada um?

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