Opinión

Em prol do projeto plurinacional

Desde 1931 até transição de 1978, a política espanhola esteve dominada pola polarização entre a Espanha de direitas e a Espanha de esquerdas, os nacionais e os vermelhos, com uma igreja espanhola claramente intervencionista em política e inclinada cara ao polo dos nacionais, da monarquia e do golpismo, e uma monarquia dedicada a conjurar contra a República desde o momento da sua instauração. Nos nossos dias, essa polarização minguou, ainda que por vezes parece que se quer ressuscitar, sendo substituída por outra de novo cunho: a polarização entre os chamados constitucionalistas, palavra que vem ser um eufemismo para evitar o termo espanholistas, formada por uma parte por Vox, PP, C’s e PSOE, que têm como ideia básica diretriz a defesa a todo transe da unidade de Espanha, realidade imutável marcada a fogo nos genes do espanholismo, única, uninacinal e unisoberana na que só se reconhecem os direitos do povo espanhol, e que consideram, portanto, seguindo a Ortega e Gasset, que o problema nacional espanhol não se pode resolver, senão que cumpre aturá-lo e os partidos que administram esta realidade uninacional somente se movem a dialogar sobre os direitos dos outros povos que convivem no Estado espanhol pola necessidade de contar com o apoio dos partidos nacionalista para governar Espanha. Pola outra, polos defensores dos direitos de todos os povos espanhóis em plano de igualdade, formada polos partidos das nações sem Estado do Estado espanhol: Catalunha (ERC, JxCat e a CUP) Euskadi (PNV e Bildu), Galiza (BNG), Ilhas Baleares (Mês per Malhorca), e Valência (Compromis). Estas formações são as que constituem o fermento do novo estado plurinacional, plurilingüístico e pluricultural, que constituiria a nova Espanha.

Na Galiza, a formação híbrida de nacionalismo espanhol e galego, Em-Comum-Anova-Mareas, na que se integra o partido que se confessa como nacionalista Anova, na atualidade satelitizada a Podemos, tem um passado marcado pola conflituosidade interna e polo abandono de qualquer reivindicação nitidamente galega, especialmente se colide com as dinâmicas estatais do partido dominante que é claramente Podemos. De tal modo que a história de Anova, com muito pouca implantação social é uma história que vai da dominância a uma subordinação total à força estatal Podemos. UP, formação política de âmbito estatal, ocupa um lugar intermédio entre os espanholistas duros e o nacionalistas periféricos citados. É mais dialogante que os partidos constitucionalistas, mas as suas dinâmicas e possibilidades vêm-se limitadas polas concessões que se vê obrigado a fazer ao seu coligado no governo de Espanha, o PSOE.

Neste momento de crise aguda no Estado espanhol, contamos com uma monarquia sumida numa corrupção imensa, com um rei emérito, que se enriqueceu a base do cobro de comissões polo desenvolvimento do seu trabalho, distribuindo parte do dinheiro dos seus “súbditos” entre as suas numerosas amantes numa época de crise profunda no Estado espanhol. O seu desprestígio é muito notório nos nossos dias em todo o mundo. Com um rei que não assume a pluralidade política dos povos do Estado que lhe tocou reger, e que em vez de “arbitrar e moderar o funcionamento regular das instituições”, dedica-se a tomar partido em prol dumas formações contra outras e dumas comunidades contra outras, e com uma família sumida condenada por casos de corrupção. Com uma justiça desprestigiada e humilhada por Europa, porque em vez de julgar delitos se dedica a defender as teses políticas do espanholismo e a condenar a discrepância política nos povos periféricos. Com alguns partidos políticos sumidos numa grande corrupção, com uma igreja dedicada a inscrever registalmente edifícios e outros bens que não são da sua propriedade, e com umas importantes tensões territoriais. Numa situação em que passa todo isto e que parece obrigar a mudanças de calado nas instituições e políticas, é importante que os cidadãos dos povos diferenciados do Estado espanhol apoiem a formações políticas que lutem contra esta situação e optem sem complexos por um projeto plurinacional e em defesa dos seus interesses políticos, socioeconômicos e lingüístico-culturais.

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