Opinión

Alguns sobram ou faltam na UE

A união dos países europeus intentou-se construir, em primeiro lugar, por meio da força, com intentos protagonizados pola França de Napoleão e pola Alemanha do Kaiser Guilherme II em 1914 e do führer Hitler a partir de 1939, desejosa de ampliar o seu espaço vital para dar saída a sua ingente produção industrial, mas em vista de que ambos intentos se saldaram com o fracasso bélico, a partir da década dos cinquenta do século XX decide-se promover a integração pola via pacífica, constituindo-se em 1957 a Comunidade Econômica Europeia (CEE), que depois se reformulará para passar a integrar a União Europeia (UE).

Em vista do que aconteceu na crise financeira e imobiliária desencadeada em 2007 e no que está a acontecer na crise do coronavirus, creio que se pode concluir que a CEE foi um êxito, mas que a UE é uma fracasso que pode que não sobreviva à crise presente, salvo que Alemanha e os seus satélites renunciem a impor o seu diktat à grande maioria dos países europeus. Esses países constituem num autêntico tampão que impede que os demais países europeus possam sair favorecidos precisamente por formar parte duma comunidade mais ampla, uma vez que se viram obrigados a renunciar a um dos instrumentos de resolução de crises que possui todo estado-nacional ou plurinacional. Hoje vemos que EEUU e o UK dispõem do recurso “ilimitado” ao crédito dos seus bancos centrais que lhes permite financiar-se a preços muito vantajosos, enquanto que os países da zona euro têm que recorrer aos créditos dos bancos e pagar uns interesses elevados para obter o financiamento preciso. Isto incrementará a prima de risco e a conseguinte dificuldade de financiar-se nos mercados. Foi Isto o que já passou na crise de 2007, perante a grande indiferença alemã e holandesa, que só se lhe ocorre riscar os países sulistas de dissipadores e estragadores.

Na crise de 2007 a solução que se impôs para Grécia foi exclusivamente a austeridade, que submeteu ao povo grego a uma etapa de muita dor com resultados decepcionantes. Os seus artífices, ou seja, a troika, terminaram por reconhecer que as medidas adotadas não surtiram o seu efeito, ao tempo que a Comissão Europeia reconheceu que se humilhou desnecessariamente ao povo grego. Creio que o grande erro de Alexis Tsipras foi não atrever-se a sair do euro, porque a permanência na zona euro, se não se complementa com a união bancária e fiscal e a mutualização de riscos, é um caminho sem saída. A negação de assumir riscos, mas sim todos os benefícios, é precisamente o meio de que se serve a Alemanha de Merkel para construir uma Europa à sua medida, submetendo ao diktat teutão a todos os demais países, em vez de construir uma Alemanha europeia.

A solução da crise de 2020, apesar de que todos reconhecem que nos véu dada, parece que vai polo mesmo caminho, e que vai demonstrar de novo que Europa como comunidade não funciona nem é democrática. Uma Europa que funcione como comunidade tem que partilhar riscos e benefícios. Alemanha não pode pretender que os demais países sirvam só para ampliar a sua quota de mercado, senão que, como comunidade mais rica e exportadora tem que ajudar a solucionar os problemas dos demais países em apuros. Isto reconheceu-o o presidente alemão Frank Walter Steinmayer que disse: “Não só se nos pede solidariedade, com Europa, estamos obrigados e ela”. Os franceses, pola sua parte, já falam de caminhar juntos os que estejam dispostos a avançar nessa via. Tampouco é democrática, porque quem realmente decide é o Conselho Europeu, que não é elegido por ninguém, e isto é o que permite conformar uma Europa teutônica, porque a Merkel sabe que vai ter êxito no seu país se traz a raia aos demais e se nega a que os alemães contribuíam do seu peto a solucionar os problemas comuns. Parece já que começa a sobrar alguém em Europa, ou falta a cabeça lúcida que imponha sensatez no processo de construção europeia e que compreenda que um projeto comum implica custos e benefícios mútuos. Agora o humilhado já não é um pequeno país como Grécia, senão dous países representam a terceira e a quarta economia da zona euro, ademais de ser um deles, fundador da CEE, e se estes abandonam o barco já se terminou o cruzeiro.

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