Opinión

Cinismo

Imposivel comentar, e menos contestar ou apostilhar, as declarações de municipes elegidos ou proclamados nos recentes comicios. Por acima de todas uma despertou meu nojo por sarcástica e hipócrita. 

Imposivel comentar, e menos contestar ou apostilhar, as declarações de municipes elegidos ou proclamados nos recentes comicios. Por acima de todas uma despertou meu nojo por sarcástica e hipócrita. Foi a da Alcaldesa de Mondonhedo na oferenda do Antigo Reino de Galiza ao Apostolo Santiago, na que ela era a designada oferente. Cargando duramente contra aqueles Alcaldes que, no ejerciço da sua liberdade e do seu compromiso legal dentro de um Estado laico, decidirom não ser comparsas no acto; alcaldes que se limitarom a não assistir, mas que nem recomendarom nem muito menos criticarom aos que decidirom concorrer e de cuia convicção da boa conta a fotografia "de familia" que apareceu em "La Voz" de segunda, 15, na pag. 3; realmente dava a impressão de ser a fotografía dos assistentes a um enterro; nos enterros galegos, ao cabo com trasfondo pagano, há muita mais alegria ou polo menos resignada conformidade que na cara dos alcaldes que acompanhavam o acto; a mesma alcaldesa oferente a ponto de chorar e o resto com idéntico abatimente e pesadume facial, impropio de um acto religioso que devia contar com o deleite, jovialidade e regocijo dos que representando a um antigo Reino (ás crases dirigentes de um antigo Reino) oferecem a seu patrono uma esmola que não sae da sua faltriquera senóm dos trabucos do povo que não fica presente.

"Gostaria que a Sra. alcaldesa mindoniense figese uma enquisa entre os galegos e pergunta-se pola oferenda do antiguo Reino de Galiza ao Apostolo a ver cuantos respondem em positivo".

Pois bem, a Sra. Alcaldesa de Mondonhedo, encarregada da oferenda, lembrou aos presentes (ela queria lembrarlho aos ausentes, mas os que se enterarom forom os presentes como passa sempre que nos laiamos dos que não comparecem) que o acto tinha 346 anos de ininterrumpida trajectoria e polo tanto arraizado na conciencia de Galiza como comunidade e como povo. O discurso foi tormentoso e incluso atormentado, cheo de raiva e de justa (?) indignação. Pena que essa raiva e indignação não apareze nos sres. munícipes do PP, esses sim assistentes, para defensa de algo tanto arraizado na conciencia de Galiza, alicerce da sua pessoalidade, como é a fala.

A meu arredor escoito falar em galego a cotio; certo que ja escoitei mais; mas a verdade é que fale-o ou não a qualquera galego perguntas se sabe da existencia do idioma e dirá que sim e incluso falará do seu amor "ainda que como não sabe falalo bem,. não o fala para não magoalo". Gostaria que a Sra. alcaldesa mindoniense figese uma enquisa entre os galegos e pergunta-se pola oferenda do antiguo Reino de Galiza ao Apostolo a ver cuantos respondem em positivo. Não vai mais alá de uma tradição política e para umas horas de gloria dos politicos que oferendam ou servem de comparsas.. Resulta ridículo que a sra. alcaldesa mindoniense califique este simple acto social e político de "algo construido ao longo dos séculos coas achegas de todos, con independencia de qual fora a sua consciencia, condição bagagem ou pensamento"

"Os mesmos que acodem a esse acto de tradição "profundamenta arraigada no sentir religioso e espiritual de Galicia", segundo o Sr. Arcebispo, assinam Decretos contra o idioma"

Escoitada a anterior pasagem não vos parece que poderiamos estar falando do idioma? Não tenho ideia de que nem a sra. Candia, alcaldesa de Mondonhedo, nem os municipes que a acompanharom e escoitavam este parlamento disseram nunca frases como "um povo unido na legitimade do seu pasado e na forza do seu futuro é uma maré de forza imparavel" ou "o povo que fuge  das suas tradições e da sua conciencia renuncia á sua identidade e á sua alma", referidas ao idioma nem á nosa cultura nem a nossa nação; nom assianriamos qualquera soberanista esas frases referidas á nação galega?

Pois os mesmos que acodem a esse acto de tradição "profundamenta arraigada no sentir religioso e espiritual de Galicia", segundo o Sr. Arcebispo, assinam Decretos contra o idioma; ali estava o actual alcalde de Ourense, nefasto Conselheiro de Cultura e Educação que desmantelarom (ele e seu chefe) as galegoescolas e todo o ensino em galego, que contribuirom a que o emprego da nosa fala reducise seu número de falantes, etc.

Deus, que cinismo!

Para remate, escoitava na Radio galega uma entrevista ao atual Conselheiro de Cultura e Educação da Xunta de Galicia, falando num galego deploravel, inzado de castelanismos e destacando sobre todo o emprego do pronome "se" anteposto constantemente ao verbo, naturalmente como ocorre no castelan. Importalhes um bledo o idioma; despreciano.

Mentras o povo aguanta.

Quinta do Limoeiro, 17.06.15 

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