Opinión

Um projeto global para a língua

O ano Carvalho Calero apresenta-se como uma ocasião para difundir a proposta reintegracionista

Em 2020 celebramos o ano Carvalho Calero, vai ser um ano especial para explicar a proposta reintegracionista ao conjunto da sociedade galega. A AGAL chega preparada e com a sua proposta atualizada com o objectivo de ser um projeto global para o galego. Engloba todas as sensibilidades ao redor da língua, tendo também em conta as pessoas que já nem usam o galego, mas que também podem sentir-se representadas nesta proposta agálica. De 2009 até 2019 a AGAL foi acompanhando os avanços do reintegracionismo e as reivindicações para o galego, colaborando com o resto do movimento ativista, mas também foi construindo um projecto global dirigido ao conjunto da sociedade e, especialmente, para as pessoas galegofalantes.

O projeto global da AGAL transforma o galego em língua completa, reconhecendo o português como galego através da ‘Ortografia galega moderna’

Um novo discurso que deixa fora quem usa as línguas como armas para dividir e que concebe a língua própria da Galiza como um elemento multiplicador, como a superlíngua que nos multiplica por cem. Entendendo o galego como a oportunidade para internacionalizar-nos através do português, situando-nos no domínio das duas línguas latinas mais pujantes na actualidade. Frente a isto, reconhecer só o castelhano como língua internacional significa a inferioridade do galego, além do desaproveitamento desta oportunidade para o conjunto da nossa sociedade. Com este espírito foi aprovada a Lei 1/2014, de 24 de março, para o aproveitamento da língua portuguesa e vínculos com a lusofonia, o primeiro grande marco legal deste novo roteiro para o galego. A Lei Paz Andrade nasceu com a força das 17.000 pessoas assinantes da iniciativa legislativa popular (ILP) e foi aprovada por unanimidade no Parlamento galego. É um enquadramento legislativo que é preciso desenvolver para impulsionar este novo acordo que situe o português no centro das políticas para o galego. Quer seja como língua estrangeira, de fácil aprendizagem, quer seja reconhecendo-nos nele como outra variedade mais da língua comum. Focagens e escolhas compatíveis para esta estratégia envolvente e abrangente, que liga qualquer pessoa da Galiza com a língua, combinando a identidade e utilidade, independentemente do relacionamento que desejemos ter com galego. Porque é a nossa língua própria, mas nom exclusiva do nosso território.

O projeto global da AGAL transforma o galego em língua completa, reconhecendo o português como galego através da ‘Ortografia galega moderna’ e dando, assim, resposta a todas as estratégias do reintegracionismo. Sem renunciar à riqueza que implica o castelhano, este deixa de ser incontornável. Este novo jeito de entender o galego pode ser um motor importante para revitalizar os usos da língua, colocando-nos como ponte entre os universos culturais da lusofonia e da hispanofonia. Mas para isso é preciso fomentar estes novos consensos e torna-se fundamental implementar o binormativismo. Um reconhecimento de que ambas propostas, tanto a do ILG-RAG como a da AGAL ou ‘Ortografia Galega Moderna confluente com o Português no mundo’ podem conviver, e mesmo podem ser necessárias e desejáveis para evitar traumas ou disputas estéreis. Em pé de igualdade, será a sociedade, com os seus usos, a decidir que escolha é mais adequada e benéfica em cada momento.

Depois do ano Carvalho, em 2021, a AGAL celebrará o seu 40º aniversário, idade nada desprezável

Depois do ano Carvalho, em 2021, a AGAL celebrará o seu 40º aniversário, idade nada desprezável, destacando entre as associações com mais trajetória no ativismo linguístico da Galiza. Quatro décadas e (quase) quatro vidas. A primeira para articular a resposta frente à viragem imposta com o Decreto Filgueira, e as suas consequências, na recém estreada oficialidade. A segunda, já na década de 90, coincidindo com o passamento de Carvalho Calero, a do esmorecimento e a ressaca das feridas dos anos anteriores. A terceira a do renascimento, o retorno ao trabalho de base, o precoce aproveitamento da Internet e todo o que nasceu à volta do PGL. A quarta etapa, precisamente estes últimos 10 anos, com um projecto de continuidade para construir esta nova narrativa para a língua que procure aproveitar as oportunidades do galego como língua internacional, mas sem que ninguém fique fora da proposta. Em definitivo, um projeto global para o galego.

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