Opinión

Regeneraçom neológica socializada, nom elitista e antipopular!

Para fazermos frente à estagnaçom lexical pós-medieval sofrida na Galiza pola nossa língua (falta de enriquecimento e estabilizaçom vocabulares registados desde o séc. XVI, início dos Séculos Obscuros), na peça anterior exortávamos todos os cidadaos cultos, com independência das normas ortográficas utilizadas, a usarem de forma constante em galego neologismos, em geral plenamente idiomáticos e funcionais, habilitados de harmonia com as variedades lusitana e brasileira, como, p. ex., atmosfera, cérebro, computador, hemácia, máscara (buconasal), surto (epidémico) e vacina. Víamos que, de facto, esta medida regeneradora, indispensável, é declarada como princípio codificador (quarto) pola RAG e polo ILG nas suas NOMIG, mas também que ela é freqüentemente desconsiderada nos dicionários desses dous organismos, em prejuízo da funcionalidade e competitividade do nosso idioma.

Méndez Ferrín é um dos autores que com mais freqüência e constáncia utiliza nos seus textos neologismos habilitados por coordenaçom com o luso-brasileiro

Por conseguinte, nesses (muitos) casos em que os dicionários da RAG-ILG (por sinal, de qualidade bastante pobre!) se mostram desobedientes com o seu próprio princípio codificador quarto —como na disjuntiva, já comentada, surto (epidémico) [coordenaçom com o luso-brasileiro] / gromo (epidémico) [invento presente agora no DRAG]—, alguns galegos cultos poderám sentir-se perplexos, como perante um dilema de autoridade, mas, na realidade, tal dilema revela-se falso, pois, como sabemos, em todos os critérios se mostra aí globalmente superior a habilitaçom de neologismos por convergência com o luso-brasileiro: idiomaticidade, coerência, economia, funcionalidade e vantagem sociolingüística. Assim sendo, e para afiançarmos a segurança dos leitores na aplicaçom efetiva em galego da coordenaçom neológica constante com o luso-brasileiro, vejamos a seguir três testemunhos muito significativos.

O escritor Xosé Luís Méndez Ferrín, ex-presidente da RAG, é um dos autores nom reintegracionistas que com mais freqüência e constáncia utiliza nos seus textos neologismos habilitados por coordenaçom com o luso-brasileiro e que nom constam nos dicionários da RAG-ILG, para feliz enriquecimento e autenticidade da sua expressom. Entre os milhentos exemplos que, em tal sentido, poderíamos aduzir, reparemos aqui que, no artigo «Querido Cabanillas» do Faro de Vigo de 13.8.2011, ele utiliza a palavra romance, como em luso-brasileiro, com o significado de ‘narrativa longa e complexa’, em vez do castelhanismo *novela, que é a soluçom dicionarizada pola RAG. Já Antón Santamarina, membro da RAG e ex-diretor do ILG, no trabalho «Contribución de Aníbal Otero a un vocabulario do ‘verbo’ dos canteiros de Pontevedra» (2005), utiliza dous neologismos harmónicos com o luso-brasileiro nom registados polos dicionários oficialistas, redixir (p. 467, em vez de *redactar, presente no DRAG) e xiria (p. 461-468, em vez de *xerga, presente no DRAG). Por sua vez, também Henrique Monteagudo, atual Secretário da RAG, cultiva um galego esmaltado por numerosos elementos lexicais incorporados a partir do luso-brasileiro, e que a RAG-ILG nom inclui nos seus dicionários, como acontece, p. ex., no seu artigo do volume Ricardo Carvalho Calero: As Formas do Compromiso (2020), com abordaxe [sentido figurado] (p. 330), colectánea (p. 331), doravante (p. 330), marxinalización (p. 345), percurso (p. 351), quer dicir (p. 336), rascuño ‘esboço’ (p. 333), vir a lume ‘ser publicado’ (p. 343) e visar ‘ter por objetivo’ (p. 351).

Esta medida regeneradora, indispensável, é declarada como princípio codificador pola RAG e polo ILG nas suas NOMIG

Neste contexto, como devemos avaliar a atitude manifestada por estes três autores? Por um lado, e num plano individual, sem dúvida como sensata, porque já sabemos que a coordenaçom neológica com o luso-brasileiro reforça a personalidade e a funcionalidade do galego, e só cabe lamentarmos que eles recorram a esse expediente regenerador de forma errática, assistemática. Ora bem, num plano social, nom cabe senom atribuirmos a esses autores umha atitude verdadeiramente elitista e classista, antipopular, porque eles, como vemos, para aprimorarem o seu galego, usufruem, ad libitum, ricos e condignos recursos expressivos fornecidos polo luso-brasileiro (ex., percurso), enquanto, na sua condiçom de membros destacados dos organismos codificadores oficialistas, antirreintegracionistas, na prática, eles prescrevem e oferecem ao povo, através dos seus dicionários, uns recursos lexicais lastimosamente deficientes (ex., o aberrante *o percorrido).

Comentarios