Opinión

Zoológicas

O panóptico, o cárcere tornado lógica dos espaços, é a figura arquitectónica que distribui as celas ao redor da torre central de control, impondo, à vez, uma visibilidade axial e uma invisibilidade lateral entre os presos.

O panóptico, o cárcere tornado lógica dos espaços, é a figura arquitectónica que distribui as celas ao redor da torre central de control, impondo, à vez, uma visibilidade axial e uma invisibilidade lateral entre os presos. O regime do visível é unidirecional: a torre central vê tudo, os presos não veem nada, proibe-se a comunicação horizontal entre eles. Ao rastrejar a genealogia do panóptico Foucault topa-se com a casa das feras que Le Vaux construira em Versalhes, já desaparecida quando Bentham escrevera o Panopticon. Esta coleção zoológica da época de Luís XIV não era o típico parque com animais: no centro tinha uma sala régia, um pavilhão octogonal com grandes janelas que davam em cada um dos oito lados a sendas gaiolas, onde os animais estavam encerrados por espécies. “O Panóptico –adverte Foucault- é uma coleção zoológica real; o animal está reemprazado polo homem, pola agrupação específica a distribuição individual, e o rei pola maquinaria dum poder furtivo. Com esta diferença: o Panóptico, também faz obra de naturalista”. Assim é como o zoológico, enfim, acha o seu lugar na genealogia da prisão.

 "O regime do visível é unidirecional: a torre central vê tudo, os presos não veem nada, proibe-se a comunicação horizontal entre eles".

A finais do s. XIX e começos do XX os Estados coloniais gostavam de exibirem na metrópole exemplares das étnias conquistadas; costume que, no mínimo, se remonta à chegada da Pinta a Baiona, quando dous chefes índios foram trazidos de América para serem encadeados a uma árvore galega. Ali morreram sem nem sequer serem sepultados. O negócio das “exibições antropológicas” permitiu-lhe ao senhor Benno Singer establecer em Londres uma próspera empresa. Na Feira Mundial de Saint Louis, em 1909, o público –branco, burgués e protestante- já podia atirar-lhe amendoins às crianças pretas como se fossem macaquinhos. Em 1914 o rei Haakon VII inaugurava no Frogner Park de Oslo o “Kongolandsbyen”, zoológico humano em que 80 senegaleses –feitos passar por congolanos- reproduziam a sua vida “selvagem” durante 5 meses, no marco duma grande exposição dos avanços de Noruega na industria.

Pensada como uma experiência pedagógica para o povo norueguês, a imprensa respondeu com titulares como o de “É maravilhoso que sejamos brancos”. Num primeiro momento pensaram em exibir os sámis da Lapónia, mas ao serem reconhecidos como cidadãos pola Constituição tiveram que desbotá-los. Quem sabe se as autoridades espanholas, organizadoras em 1887 dum zoológico de 43 filipinos no Parque do Retiro, não pensariam o mesmo dos seus indígenas de Noroeste.

                                  

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