Opinión

A noção de impureza sexual en Frades

Perante os tabus eclesiásticos e os rituais patriarcais, as mulheres de Frades também desenvolveram uns saberes que lhes permitiam certa autonomia sobre o seu corpo.

Em 2001 Antonio Pereira Poza (*) realizou um amplo inquérito etnográfico sobre os ritos de gravidez e parto na Galiza, consultando comadroas e outras profissionais sanitárias que levavam mais de trinta anos exercendo na mesma zona. Quanto à comarca de Ordes, recolhe vários dados do concelho de Frades que permitem, polo menos parcialmente, reconstruir certos aspectos de sexualidade popular da segunda metade do s. XX.

Parece que em Frades mantinham bastante força as noções de pureza e impureza sexual (**), cujas origens se remontam ao Antigo Testamento: “A mulher que tem fluxo, seu fluxo de seu sangue no seu corpo, permanecerá na sua impureza por espaço de sete dias e quem a tocar será impuro” (Levítico, XV, 19); também o capítulo da “Purificação da parturienta” (Levítico, XII, 6), que dispõe como a mulher parida se debe reintegrar na vida cristã. Estas mostras de ideologia patriarcal expressavam-se em crenças e proibições: em Frades a mulher menstruante não podia tocar as crianças nem comer laranjas, tampouco molhar a cabeça durante a gravidez. Quando a uma mulher lhe dava uma lipotimia na igreja pensava-se, pola ideia de impureza, que estava grávida; quiçá isto seja um vestigio do Concílio de Nicea do ano 325, que proibia expresamente a entrada na igreja das mulheres que estivessem regrando –tabu que se mantivo até há pouco em alguma paróquia do Baixo Minho. Quanto à purificação da mulher parida em Frades, esta devia guardar quarentena, e passado esse tempo recebia a bênção do cura na porta da igreja, onde também cubria a meninha ou o meninho com a estola para purificá-lo.

Outro aspecto interessante são os rituais de afirmação da  paternidade, mais suscetível de dúvida, logicamente, do que a maternidade. Para ritualizar a paternidade, em Frades, o cordão umbilical da criança recém nada cortava-se com a navalha do pai –que é, muitas vezes, metáfora do pénis-. Igualmente, a dieta de pós-parto é de caldo de galinha para a mulher, e a galinha para o homem, o que se pode ver como uma forma mui suavizada de covada: o homem marca a paternidade incluíndo-se na dieta da parida.

Mas perante os tabus eclesiásticos e os rituais patriarcais, as mulheres de Frades também desenvolveram uns saberes que lhes permitiam certa autonomia sobre o seu corpo. As parteiras, muitas vezes despreçadas pola medicina oficial, não só eran a única ajuda que tiveram à hora de parir a maioria das mulheres de Frades, senão que mesmo davam às moças conselhos sobre menstruação, noivos e filhos, é dizer, educação sexual. As parteiras conheciam as ervas e as suas propiedades. Davam infussão de erva-luísa ou lúcia-lima (lippia triphylla) às mulheres que tinham amemorreia (ausencia da menstruação); e aplicavam ruda (ruta graveolens) com romeu nos genitais para facilitar o parto. Diz a cantiga que “Se soubesse a casada / que virtude tem a ruda / levantaría-se de noite / a colhê-la pola Lua”, pois era a erva mais empregada na medicina popular galega em questões relacionadas com a sexualidade: contra a amenorreia e dores menstruais, facilitar o parto e aliviar as dores de pós-parto, como aburtiva, etc. Sobre os métodos abortivos, por último, em Frades recolhem-se dous: a introdução de talos de ourego pola vagina; e a infusão do fungo conhecido como caruncho do centeio (claviceps purpúrea), mui perigoso porque podia provocar ruturas uterinas. Eram, claro, medidas que se tomavam como último recurso e que acarretavam muitos riscos para a mulher.

*PEREIRA POZA, Antonio. Ritos de embarazo e parto en Galicia, Sada, Ediciós do Castro, 2001. Sobre Frades as págs.: 25, 54, 69, 71, 77-78, 79, 87, 95-96 e 123.

**DOUGLAS, Mary. Pureza y peligro. Un análisis de los conceptos de contaminación y tabú, Madrid, Siglo XXI.

Terra Ancha, 2 de junho de 2014.