Opinión

O galego ritual

Levantara-se um dia 17 de maio de céu toldado, baixo e com chuva a pancadas. Minha mulher e eu decidimos nos deslocar a Compostela a manifestação reivindicativa da língua, convocada por Queremos Galego.

Num dia assim não iamos deixar que contem com poucos, somemos e isso faziamo-lo a sabendas do seitarismo tradicional dos convocantes, quiçá alguma vez apreendam e hoje assistamos ao milagre, de fazerem  demonstrações em defesa da nossa língua nacional, que somem e integrem a diversidade, e no que o reintegracionismo é tamém motor da convocatória, e com muito pessoal mais, e de multiplas organizações e grupos, num exercício de somar, e num exercício esclarecido, de que a língua nacional é cousa de todos e todas. E criam-se organizações para somar e não para ocupar espaços -contra outros- as vezes estinhando totalmente a ideia da inciativa e do projeto, não por vontade e sim por burocracia partidária.

No palco o grande Xurxo Souto animava, dum jeito que este homem, com o seu coração  generoso e imenso, sabe fazer. Este homem que nunca diz não a pedimentos de ajudas e colaborações neste e noutros assuntos fulcrais para o nosso país.

Quando se lia o manifesto, a alma caiu-me literalmente aos pés, aquilo falava do galego, mas dum galego que não era o meu, senão dum galego perfeitamente balizado e enquadrado no que entende Espanha que é o galego variedade regional, e as balizas que Espanha coloca à língua, são o primeiro entrave que faz que isso de o galego tem futuro soe a falso, que ademais nem se acredita nisso.

As balizas espanholas fam, que sob a pretensa normalização da língua da Galiza, sempre inacabada, as autoridades espanholas apresentem a língua nacional carente de qualquer sentido de utilidade e expurgada da sua dignidade e da sua condição de ser uma das línguas europeias de maior difusão internacional, usada em todos os continentes, com a variedade própria das línguas internacionais é falada por centos de milhões de pessoas no mundo.

Que enquanto se reforça continuamente o fator da utilidade e a correspondente necessidade da língua castelhana; para a língua da Galiza, as políticas reduzem-na, a um sentimento carente de utilidade e necessidade, o que a faz perceber como uma escolha na intimidade privada e sentimental, despida do que é a realidade das línguas: uma criação coletiva que se vive socialmente e como tal é necessária e útil.

Para a Espanha, galego pode ser qualquer cousa, isso sim sempre dependente do castelhano e submetida a ele, a sua verdadeira norma de correção.

Para Espanha o galego é uma concesão ritual que os cipaios governantes na Galiza e o discurso obscuro que se traslada ao nosso povo certificam; e Biba e Biba a normalizaZion lingüística… Eis uma anedota, quando era cativinho lembro na escola os esforçoes do mestre para que náo confundiramos o verbo sacar com o verbo tirar, falsos amigos do castelhano e português.

Hoje um pode visitar qualquer concelho onde governar o BNG (adoraria que me desmentissem isso), e descobrirá na porta os letreiros empuxar, (castelhano, o xis não o disfarça) e tirar (castelhano, o sucesso dos mestres e suas lições), em vez dos galeguíssimos empurrar e puxar (formas únicas da nossa língua), mas já se sabe, no projeto normalizador regional do galego, qualquer cousa que for castelhana pode passar por galego.
Frente a tradição galeguista que defendia serem a mesma língua galego e português, sob o franquismo a cousa esteve na baila, e depois viu a construção da Língua de Seu, de grande sucesso, pois a Espanha colocou nisso os seus esforços e as balizas do que nos ia ser permitido, é dizer a nossa estatalização linguística como variedade regional espanhola única e exclusivamente.

E a estrangeirização de Portugal, que como não é Espanha, descobre-nos quando começamos a fazer a nossa própria introspeção, o muito espanhóis que somos.

"Quando as crianças galegas encontram no Youtube um vídeo com desenhos animados da RTP2 identificam logo 'aquilo' como uma língua estrangeira. Não vale a pena nos enganarmos sobre isso. Elas quase não têm referências em galego e aprenderam que as portuguesas são estranhas. Esse foi um dos sucessos do ensino galego de ficção destes 40 anos: amputar o universo de referências formais e funcionais que cresce em liberdade do outro lado do Minho", (in Oscar Diaz Fouces: O objetivo das políticas linguísticas destes 40 anos na Galiza foi inseri-la sorrateiramente no projeto etnocultural espanhol).

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