—Acha que era necessário pôr limite aos anos de mandato?
Em Portugal, o Presidente pode exercer funções num mesmo município durante 3 mandatos consecutivos. Um projeto autárquico bem estruturado demora o seu tempo a implementar-se, até alcançar os resultados pretendidos. No entanto, em nome da vitalidade e do pluralismo da democracia, é importante que a lei determine a limitação de mandatos. Cada caso é um caso, mas 12 anos são suficientes para prestar um bom serviço em prol da causa pública e da prosperidade e coesão social e territorial.
—A organização municipal portuguesa é muito diferente à da Galiza, pois há vários órgãos autárquicos. Estes organismos podem chocar nos seus interesses?
Efetivamente, em Portugal, as Câmaras Municipais e as Juntas de Freguesia são órgãos executivos e as Assembleias Municipais e de Freguesia são órgãos deliberativos. Há, no entanto, um trabalho em articulação entre os executivos municipais e das freguesias para levar a cabo os projetos em prol da população e existe, também, uma relação cordial e de lealdade institucional com a Assembleia Municipal e as Assembleias de Freguesia, que são órgãos representativos dos cidadãos e que, como tal, reivindicam os investimentos e medidas necessárias ao bem-estar e coesão social. O sucesso de qualquer projeto político depende de uma boa articulação entre todos.
—Têm mais competências os concelhos portugueses?
Acho que uma vantagem do sistema municipal português respeito do galego é o facto dos municípios assumirem mais competências, podendo assim ter uma intervenção mais direta em áreas estruturantes como a Educação.
—Que projetos tem para Valença e para a Eurocidade Tui-Valença?
A equipa que lidero comprometeu-se com os cidadãos valencianos na implementação de um programa de transformação económica, social e cultural. Algumas prioridades são o investimento no Centro de Saúde; a criação de um Parque da Cidade, entre a Senhora da Cabeça e a Ponte Centenária Internacional; a criação de uma Residência Académica, que se iniciará este ano; a requalificação de um dos edifícios emblemáticos de Valença, o Cine-Teatro; o desenvolvimento e implementação de programas de habitação a custos acessíveis e de nova habitação social; o reforço da regularidade e da qualidade da agenda de eventos culturais, para tornar Valença uma referência para quem quer desfrutar do ócio e tempo livre.
Relativamente aos projetos comuns na Eurocidade Tui-Valença queremos aprofundar as relações transfronteiriças ao abrigo do Plano Estratégico 2030. Um dos projetos, que consideramos de maior relevo, será a criação de uma solução de mobilidade sustentável entre os centros históricos de Valença e Tui, numa perspetiva de promoção turística do território e património comuns, e de preservação ecológica.
—Da nossa parte temos várias alcaldesas. Acha que ainda é difícil avançar na paridade em Portugal pois não há nenhuma Presidenta nos municipios vizinhos?
A participação política das mulheres é essencial para a qualidade da democracia, por isso considero benéfico o que sucedeu em Tomiño com todas as listas candidatas encabeçadas por mulheres. Em Valença não tivemos tanta dificuldade como noutros locais e, no nosso caso, apresentámos listas totalmente paritárias. Mas é verdade que a participação das mulheres na política está muito aquém do que se pretende.
A questão da língua em atos oficiais
A respeito do uso da língua portuguesa em atos oficiais na Galiza, Carpinteira asegura que não fala o 'portunhol' senão a língua portuguesa: "Nos atos oficiais em território galego falo o português. Eu valorizo a origem linguística comum que Portugal e a Galiza partilhamos. É uma parte fundamental do património cultural imaterial galaico-português". Para além disso, o presidente da Câmara de Valença teve boas palavras para a Associação Ponte…nas Ondas! que segundo ele "promove a recuperação, preservação e difusão do património cultural imaterial comum a portugueses e galegos".