De 24 a 27 de setembro

Uma Maré lusófona inunda Compostela esta semana

O festival Cantos na Maré, vencelhado durante 15 anos à cidade de Pontevedra, inicia em Compostela uma nova etapa este ano, na que promete manter a essência de lugar de encontro entre artistas da lusofonia. Toty Sa'Med, LaBaq ou António Zambujo são alguns dos nomes que visitam a Galiza e partilham espaço com artistas do país. Aliás, esta nova edição une forças, em tempos de pandemia, co certame aRi[t]mar, que inclui a sua gala na programação do evento.
LaBaq toca no festival Maré.
photo_camera LaBaq toca no festival Maré.

A quinta feira desta semana, a maré chega a Compostela. E não por efeito da subida do nível do oceano, num desses mapas futuristas que não há tanto corriam pelas redes sociais. Desta volta é a maré da música, do encontro.

O festival de "artes atlânticas" que banhou coas suas ondas a cidade de Pontevedra durante 15 anos traslada-se a Compostela neste pandémico 2020. Cantos na Maré inicia assim uma nova etapa na capital da Galiza. "Os projetos evoluem e recolocar-se serve também para colher novos folgos", comenta Uxía Senlle, diretora artística, que sinala ao tempo como chave o mantimento da essência de convívio.

"Os projetos evoluem e recolocar-se serve também para colher novos folgos", comenta Uxía Senlle

Para além deste cambio geográfico, entre as novidades desta edição suma-se à programação a gala do certame aRi[t]mar, num ano "diferente e estranho" no que a sua organização, explica o diretor da Escola Oficial de Idiomas de Compostela, Gonzalo Constenla, presentava bastantes limitações e dificuldades.

Assim, os dous projetos que já partilharam algumas iniciativas decidem "juntar esforços" sem perder a "identidade própria", cum programa, no caso de aRi[t]mar, que pode chegar a mais pessoas. E não descartam repetir a colaboração. "Ambos fazemos parte do projeto galilusófono, uma rede para situar a Galiza no espaço cultural que lhe é natural", diz Constenla.

Músicas que se atopam no Atlântico

O cartel musical mantém-se como prato forte que concilia a presença de artistas galegas com outras da lusofonia. Da mão do Cantos na Maré visitaram a Galiza nomes internacionalmente reconhecidos, como o brasileiro Chico César, o português João Afonso ou a cabo-verdiana Mayra Andrade, por citar alguns entre os múltiplos exemplos.

Deste modo, a cita representa uma oportunidade única para ver muitas destas artistas, que de facto repetem na programação com frequência, provavelmente em mostra da boa acolhida da organização.

"Ambos fazemos parte do projeto galilusófono, uma rede para situar a Galiza no espaço cultural que lhe é natural", diz Constenla

Este ano abre o ciclo a quinta feira o artista angolano Toty Sa'Med, cos ritmos singulares que o converteram num dos artistas de culto da Nova Música Angolana, explora novos sendeiros influído pela Música Popular Brasileira e a africana, mas também pelo jazz, o funk e a música urbana.

Entre as suas letras atoparemos composições em Kimbundu, língua que se fala na área que arrodeia Luanda e na que o cantante apenas pode expressar contadas palavras, mas reivindica com o seu canto, consciente da importância de a conservar.

O mesmo dia, a galega Ugia Pedreira, habitual do Cantos na Maré, propõe um espetáculo inédito de criação própria: A Pedreira. A Trobadora do Cantábrico estreia por primeira vez em solitário neste festival, depois de quase 12 discos com diversas formações. No "palco taberna" integra como colaboradores ao já mencionado Toty Sa’Med e ao bretão Pierre-Yves Rougier.

Na sexta 25, a artista brasileira LaBaq retorna a Compostela, cidade que já visitara o passado ano co ciclo Atardecer no Gaiás, para oferecer a sua singular visão experimental da música eletrônica, mais com certa influência folk. Sobre estas bases ergue as suas reflexões, que tratam temas de plena atualidade, desde a situação política ao uso das redes sociais ou o medo.

A isto soma-se o trio de Nacho Muñoz, Faia e Lar Legido, que elaboram uma original exploração do repertório do Zeca Afonso.

Para aRi[t]mar

O sábado às 12.30 horas terá lugar a gala aRi[t]mar, na que recitarão os poemas premiados no certame Carlos da Aira (Galiza) e Raquel Lima (Portugal). Tocarão também as ganhadoras na categoria musical, António Zambujo (Portugal) e Sabela (Galiza). Na tarde, as poetas galardoadas farão uma performance, acompanhadas pelas duas finalistas, Emma Pedreira e Mercedes Queixas.

A gala do festival Maré consta igualmente da atuação das propostas ganhadoras do aRi[t]mar, na companha de Miguel Araújo, Faia e Toty Sa’Med, coa direção artística de Senlle. Às 21 horas a banda Bifannah fechará a festa despregando em concerto todo o tropicalismo atlântico do seu garage pop com traços de psicodelia. O domingo haverá ademais uma Junta da Rede Galilusofonia.

Além dos concertos

Mas o festival é muito mais que um simples espetáculo musical. O seu espírito é o do encontro de artistas que partilhem tempo e espaço durante o evento. Assim, como mostra a gala, é frequente a montagem de peças em comum, desenhadas especificamente para o festival.

Neste ano o convívio implica o difícil equilíbrio entre "preservar a seguridade e, ao tempo, ter essa cumplicidade que sempre existe", explica Senlle. Contudo, ela é otimista. "A música é propícia. Vai ser um conceito minimalista, mas será bonito também ver como se faz a cultura nos novos tempos. Estamos afeitas a reinventar-nos", acrescenta.

Neste ano o convívio implica o difícil equilíbrio entre "preservar a seguridade e, ao tempo, ter essa cumplicidade que sempre existe", explica Senlle

A escolha de Compostela tampouco parece casual, numa mudança que se apresenta após uma pandemia, mas também na véspera do Jacobeu, cuma filosofia dos caminhos partilhados coa que o ciclo não renuncia a se vencelhar.

Não só como Santiago como ponto de chegada, mas para construir um "caminho inverso", em especial com a incorporação de aRi[t]mar-é ao oceano criativo do festival, que permita, expressa Constenla, a circulação mais fluida da cultura entre Galiza e Portugal. E assim também, diz Senlle, "impulsar para o mundo o que significa a Maré de contacto, diversidade e celebração duma língua comum".

Em linha

Os concertos serão no Hotel NH Collection, ainda que o festival não escapa das lógicas virtuais que os atuais tempos de pandemia estão a impor em múltiplos aspetos vitais. Boa parte dos concertos e atividades serão retransmitidas em linha através duma plataforma própria: marétv.

"Esta é uma edição 2puntoeseguido0. Digital e presencial. Ponto porque há cambio; seguido porque é a mesma viagem", explicam desde a organização.

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