Opinión

"La vida no vale nada"

"La vida no vale nada si no es para perecer/ porque otros puedan tener lo que uno disfruta y ama".

Estes versos de Pablo Milanés, que vem de partir para o além o 22 do passado mês de novembro, foram dos melhores versos que tenho ouvido cantar na minha vida. Mais ainda, penso que são os melhores versos que podem justificar a vocação e o ofício de poeta e cantor. A cantiga é dum dos seus primeiros discos, que leva esse mesmo título (1976); mas é para mim a cantiga que marca o que ele representou ao longo de décadas de música comprometida, mesmo quando canta canções de amor, e que o leva até o cume da canção latino-americana. Junto como utras como a estarrecedora "Yo pisaré las calles nuevamente", dedicada a Allende, e maravilhosas canções de amor como "Yolanda" ou "Para vivir".

Não sei se Pablo será, como diz numa ocasião recente o seu camarada e amigo Silvio Rodríguez, "o maior trovador de todos os tempos". Pois não se pode esquecer –só na música latino-americana– a Víctor Jara, que morreu prematuramente e não pôde dar-nos o muito que nos poderia ter dado, mas os seus versos e a sua voz marcaram-nos a muitos para sempre com cantigas imortais; esse outro grande poeta e cantor que foi Atahualpa Yupanqi, que seguimos a escutar e Vinícius de Morais... ou mulheres como Violeta Parra, Mercedes Sosa... E também grandes troveiros contemporâneos nossos e os nossos troveiros medievais, que possivelmente Silvio não tenha presentes.

Porém, os versos e a voz de Pablo calaram em mim desde o primeiro instante em que o escutei no ano 1980, num recital nos meus anos em Salamanca, quando a Nova Trova cubana chegava às terras da Ibéria.

"La vida no vale nada si yo me quedo sentado/ después que he visto y soñado que en todas partes me llaman/ … si escucho un grito mortal/ y no es capaz de tocar mi corazón que se apaga". A vida é inútil se um vive na soidade dos seus interesses egoístas, ou na sua torre de marfim, indiferente aos berros dos irmãos, de perto e de longe; porque os outros não são algo alheio a mim, mas parte de mim; sem eles eu não sou.

Obrigado, Paulo.

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