Opinión

"As florinhas dos tojos"

Na revista La Centúria. Revista neosófica (nº 7, 1918), fundada e dirigida por Vicente Risco antes do seu compromisso com o galego e o nacionalismo, há um formoso poema de Noriega Varela, que chama particularmente a atenção por ser não só em galego –coisa inusual nessa revista em espanhol– mas publicado com grafia portuguesa, um galego reintegracionista que manifesta claras simpatias com o povo irmão. Leva por título "As florinhas dos tojos". Os dois versos do começo tiveram um grande eco nos poetas do seu tempo e posteriores: "¡Nem rosinhas alvas, nem craveiros roxos! / Eu venero as florinhas dos tojos". Logo apareceu em diversas revistas e mesmo no primeiro número de Nós traduzido ao francês e ao inglês. O poema iria logo, com ortografia espanhola, no seu poemário Do Ermo.

Pode resultar de entrada estranho, e pode soar a um caso excepcional –e em quanto à continuidade desta grafia no autor foi-o–, porém, o certo é que não aparece ali por casualidade, mas por uma postura consciente do mesmo poeta e ainda do diretor da revista, Risco. A relação de Noriega com o país vizinho foi especialmente intensa a partir da primeira edição de Do Ermo, sendo proclamado o autor como sócio correspondente do Instituto Histórico do Minho e logo membro da Academia de Ciências de Lisboa, títulos que figurarão sempre nas capas dos seus livros e na assinatura dos seus poemas: chegando a dizer-se que "Noriega foi, depois de Rosalia de Castro, o poeta galego mais estimado em Portugal", (Pedro da Silveira).

Noriega manteve, sobretudo, uma grande relação com Teixeira de Pascoaes; com quem iniciou a sua relação epistolar em 1921, precisamente a través de Risco e os amigos ourensanos. Otero Pedrayo chega a escrever de Noriega: "A lírica, sobre todo a lírica portuguesa, facíao meditar, bambeándose entre a ademiración e o desacougo". A relação com Teixeira será intensa e cordial, sendo convidado ao seu paço de Amarante. Esta relação manteve-se mesmo depois do enfrentamento de Noriega com os nacionalistas ourensanos, com os quais também se levava muito bem Teixeira.

Um exemplo mais dum galego internacional.

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