Opinión

Entre Iglesias e Rivera, eu opto por Galiza

Ontem pudemos presenciar o primeiro debate entre os chefes de fila dos dous partidos emergentes, Ciudadanos e Podemos

Ontem [refere-se ao domingo 18 de Outubro, nota de Sermos] pudemos presenciar o primeiro debate entre os chefes de fila dos dous partidos emergentes, Ciudadanos e Podemos, promovido por uma cadeia estatal de televisão e como primeiro passo para publicitar a dicotomia esquerda-direta e nível estatal para modelar o voto cidadão por uma ou outra destas alternativas, em detrimento das opções nacionalistas periféricas. Foi um debate pouco dirigista e no qual os interlocutores podiam interromper-se mutuamente, o qual tem a vantagem do seu frescor e flexibilidade mas também o inconveniente de que o que mais interrompa ganha porque molesta mais a emissão da mensagem do interlocutor, e também de que muitos temas ficaram sem tocar. 

Se tivesse que emitir um veredicto em termos de marketing, diria que Rivera foi um vendedor mais hábil dum produto trucado, o qual também indica que tem maior facilidade para vender gato político por lebre a compradores inexpertos, ao tempo que Iglesias parece que preparou menos a sua intervenção, acudiu muito a mensagens sorvadas e foi um vendedor dum produto de melhor qualidade, mas com defeitos importantes de terminação, de posta em funcionamento e de marketing. Pretenderei provar estas conclusões.

Esta Espanha tradicional não é capaz de entender que os indivíduos em si são uma abstração e somente são seres autênticos como membros dos povos

Rivera é o vendedor do conceito da Espanha tradicional no pior sentido da palavra, uma, intransigente, que submete os povos e cidadãos por meio da lei “madrilenha” e deficientemente democrática. Tanto o seu partido como UPyD caracterizam-se por ressuscitar o centralismo mais absorvente; um centralismo que agora se apresenta como federalismo cooperativo, como se um câmbio de nome mudasse de por si a realidade. Por muito que digamos que as dezassete autonomias se chamam estados federados, isso não muda a situação, porque no fundo empiora ainda o do café igual para todos, como se põe de manifesto com a sua declarada intenção de eliminar a quota vasca, e o seu alinhamento constante com as medidas centralistas e repressivas do PP em contra dos nacionalistas. O pretexto aduzido é o de sempre, o cumprimento da lei, como se a lei não tivesse uma paternidade destinada para afogar o que não interessa, como a recente do Tribunal Constitucional para castigar a Mas; como se não fosse um corpete sacro-santo para coartar as aspirações populares e não a converteram num fetiche ao que todos devamos adorar, em vez de ser um instrumento ao serviço do ser humano e dos povos em que se insere. Esta Espanha tradicional não é capaz de entender que os indivíduos em si são uma abstração e somente são seres autênticos como membros dos povos e que estes têm direito á vida e a liberdade, ao igual que os indivíduos. Como dizia Castelao, não pode haver indivíduos livres em povos que careçam de liberdade. A posta em prática desta política, que normalmente rende mui bons resultados no resto do Estado, não poderá mais que produzir tensões, principalmente, com as denominadas nacionalidades históricas: Catalunya, Euskadi e Galiza. Pretendem que afirmando que há que seduzir os povos de Espanha para que aceitem um sistema de dominação que nega a sua personalidade própria, já convencerão aos destinatários, mas este pretendido encantamento não deixa de ser mais que uma nova fraude, que dificilmente vai ser aceitada. Que indivíduo aceitaria ver anulada a sua liberdade pessoal como fruto dum encantamento e dum adubo? Uma democracia que não reconheça os direitos dos povos, entre eles o de autodeterminação, não pode ser mais que uma democracia imperfeita.

A política não deve ser a arte do encantamento senão a do rigor, disciplina e seriedade

A Espanha de Rivera é a Espanha do capital, que, nalguns sentidos, inclusive empiora as políticas do PP. Necessitamos cambiar a uma política que esteja prioritariamente ao serviço da gente e não só das oligarquias e dos seus oligopólios. Dá mágoa contemplar o espetáculo atual e constatar que os nossos moços e moças não podem planificar o seu futuro, formar uma família, ter meios para contribuir para criar a progênie, a perpectiva duma pensão suficiente, ...  por carecer de estabilidade laboral, por ter salários insuficientes, por ter soldos mui baixos, e isto não se soluciona com medidas como a do contrato único para converter todos os trabalhadores em indefinidos com indenizações de 12 dias o primeiro ano e 13, o segundo, ... porque isso equivale a converter todos os contratos em precários. Nalguma justificação desta medida Rivera tem aduzido, em intervenções anteriores ante os meios, que os empresários com esta medida não teriam medo a contratar, apresentando aos empresários como uns acolhoadinhos que sentem vertigem de pagar trinta e três dias por ano trabalhado quando em tempos da ditadura a indenização estava num mínimo de seis meses. Empiora também as políticas do PP querer rebaixar ainda mais o tipo máximo do IRPF do 43 ao 42 por cento, quando antes da reforma do PP estava no cinqüenta e dous por cento, dez pontos nada menos por acima, que pretendem vender afirmando que vão obrigar os possuidores das SICAV a que paguem mais a Fazenda. Os que mais ganham têm menos problemas em contribuir com o 52 por cento que um trabalhador que ganha mil euros ao mês com o dez, quinze por cento ou vinte por cento, porque praticamente todo o que ganha tem que investi-lo em gastos inescusáveis de mantimento, criança e abrigo tanto próprio como da prole. Corrobora isto também a negativa deste político a subir o salário mínimo, quando é um dos mais baixos da Europa, e a decisão de completar com fundos públicos os salários que não cheguem a um tope, obrigando ao sofrido contribuinte, já atossicado de impostos, a complementar os soldos que pagam os empresários, abrindo a via de rebaixa dos salários ou do pagamento de complementos em negro. Esta medida somente se justificaria no caso de empresas de escassíssimos trabalhadores e com uns ingressos mínimos dos seus titulares. Nega-se a criar uma banca pública sem argumento nenhum convincente, somente pretextando que se meteriam nela os políticos, quando a regulação que se faça não tem porque ser essa senão que devem ser bons gestores que tenham que dar conta dos seus resultados, garantindo desta arte ao setor financeiro que não terá competência do setor público. Já, para terminar com este apartado, creio que é indicativo que a política econômica deste partido seja a louvada polas empresas do IBEX, e não vale dizer que há que falar com todos, o qual é certo, senão de que outros expressam publicamente as suas preferências. Os louvores do presidente do BBVA são bem significativas.

Pablo Iglesias apresenta um programa em princípio mais democrático. Reconhece publicamente que não se podem sobrecarregar, com medidas penalizadoras administrativas, as penas jurídicas, impedindo-lhe aos presos acercar-se ao País Vasco e incrementando a dor das famílias. Reconhece que o encarceramento de Otegui é um sem sentido; manifesta a sua disposição a solucionar os temas políticos politicamente e não somente por meio da ameaça e o submetimento a leis repressivas e antidemocráticas; compreende melhor a pluralidade real existente no Estado espanhol, e poderia contribuir exitosamente a solucionar as tensões territoriais existentes. 

Tenho a total segurança de que uma alternativa galega genuína ajudará muito mais ao câmbio no Estado, e que esse câmbio repercuta em interesse do nosso país, que o que podem fazer as Mareas 

No eido econômico, subiria o salário mínimo, ainda que com dúvidas sobre a sua quantia; ao igual que Ciudadanos, subiria as pensões de acordo como o IPC; subiria os salários e incrementaria o gasto público para acercá-lo ao existente noutros países do Norte de Europa; criaria uma banca pública, á que tanto Ciudadanos como o PP têm urticária, com um funcionamento despolitizado e com critérios de solvência econômica. O problema mais grave que lhe observei, á parte das inconcreções nalguns pontos, é que ele mesmo reconhece que o acusam de que não sabem quadrar as contas, e isto é sumamente grave. Não basta reconhecer publicamente deficiências, há que solucioná-las. Não vale prometer o ouro e o mouro e que, por falta de rigor nas contas públicas se conduza novamente ao país á ruína, repetindo o enorme fracasso do PP e do PSOE de Zapatero. A política não deve ser a arte do encantamento senão a do rigor, disciplina e seriedade. Não se podem criar leis semelhantes ás de dependência, mui conveniente sem dúvida, se não se é capaz de dizer-nos se se podem pagar e de onde vão sair o dinheiro. Creio que é uma aspiração legítima estabelecer uma renda básica para os que não têm trabalho contem com  uns ingressos mínimos suficientes, e a isto terá que chegar-se porque não se pode deixar que a gente careça dum mínimo vital, mas há que fazê-lo progressivamente e quando a situação o vaia permitindo. Numa situação de dívida pública tão elevada como a atual, creio que é inviável.

Eu que vivo num povo com personalidade de seu, com os seus defeitos e as suas virtudes, tive e tenho o convencimento firme de que se os integrantes de qualquer coletivo não são capazes de defender os seus direitos como coletividade, ninguém o fará por eles. O feminismo é bem eloqüente; quando na Revolução Francesa se arvorou o princípio da egalité, dele ficaram excluído as mulheres, era somente uma igualdade entre o homes, e ninguém faria nada se a francesa Flora Tristan não defendesse a igualdade de gênero. Isto passa igualmente com os povos; um povo que não se defende a si mesmo é um povo sem porvir, um povo decadente, um povo morto. 

Seguindo este critério, eu não quero que o meu povo morra, quero que os meus filhos tenham porvir na nossa terra, quero que sejamos um povo que se sinta orgulhoso de si mesmo, um povo que se sinta também orgulhoso dos seus antepassados que aqui viveram, aqui sofreram, aqui se sentiram enganados e decepcionados. Consoante com isto, apoiarei sempre uma opção política que assuma os nossos direitos e a nossa personalidade coletiva como princípio reitor da sua atuação. Sempre defendi e defenderei uma alternativa que lute por recuperar a vitalidade agora esmorecida da nossa personalidade coletiva, que defenda e propugne os direitos dos povos: o direito de decisão ou autodeterminação, o direito ao cultivo dos nossos sinais de identidade, o direito a controlar os nossos recursos; uma alternativa que defenda uma economia centrada no país e não em servir ás oligarquias forasteiras. Temos que ter uma economia adaptada á nossa realidade, que nos permita produzir, que seja capaz de lutar contra as constrições que se nos impuseram e as que nos querem impor com os novos tratados TTIP, CETA, TPP, TISA, - quanto trabalham os setores oligárquicos para incrementar a drenagem cara a si de recurso da cidadania!- que parecem destinados a fechar o estrangulamento dos setores produtivos autóctones e das massas trabalhadoras, iniciado com tanto êxito pola globalização da economia, responsável da deslocação das empresas, o fortalecimento das multinacionais, a diminuição dos salários dos trabalhadores europeus para fazer frente aos competidores de países menos desenvolvidos e o declive do setor camponês. Com a globalização, quem ganhou foi o capitalismo transnacional e perderam os autônomos, pequenos empresários, os agricultores e os trabalhadores em geral. Para mim, defender esta opção significa defender Galiza, defender Sempre em Galiza.

Tenho a total segurança de que uma alternativa galega genuína ajudará muito mais ao câmbio no Estado, e que esse câmbio repercuta em interesse do nosso país, que o que podem fazer as Mareas, que venderam a sua alma aos reitores forasteiros com objeto de lograr resultados fáceis ainda que sejam efêmeros. Alguns dos dirigentes deste grupo, que, por certo, conhecem bem as artes de marear, criaram-lhe o maior dano até o momento ao nacionalismo galego, do que mesmo se envergonham, segundo me reconheceram mesmo expressamente membros do PP. Quando este valor “galego” se minimiza na prática, seguro que se incrementará na propaganda. Tempo ao tempo.

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