Opinión

522 anos resistindo

1492 considera-se, desde a ideologia imperialista espanhola, o ano no que se consuma a unidade  do que hoje se dá em chamar Espanha, um projeto nacional no que nos incluim de maneira inopinada e  entende-se que eterna.

1492 considera-se, desde a ideologia imperialista espanhola, o ano no que se consuma a unidade  do que hoje se dá em chamar Espanha, um projeto nacional no que nos incluim de maneira inopinada e  entende-se que eterna. Assim como as geraçons nascidas no seio desta realidade chamada Galiza  durante tam prolongado período nom puiderom escolher acerca desse vínculo com Espanha, nom poderemos nós nem poderám as geraçons que venham depois. Assim o tenhem pensado na Espanha. Decidirom e decidirám por nós. Sem dúvida que no que se refere a Galiza utilizarám o argumento de que a maioria da populaçom galega nom deseja cambiar o atual estado de cousas no tocante à soberania, ou seja, nom está preocupada pola soberania. A isto poderia-se responder que um captivério aceitado de bom grao nom deixa de ser um captivério.

"No que se refere a Galiza utilizarám o argumento de que a maioria da populaçom galega nom deseja cambiar o atual estado de cousas no tocante à soberania, ou seja, nom está preocupada pola soberania"

1492, além de ser a data na que se fecha o que o imperialismo espanhol chama “Reconquista”, assentando as bases do que eles consideram a unidade nacional, é também o ano no que Colombo “descobre” a América. À partir daí começa umha longa etapa de expansom da Coroa de Castela polo continente americano. Umha época gloriosa que acaba pouco antes de entrarmos no S.XX, com a perda de Cuba. Mas o imperialismo espanhol gosta de vanagloriar-se daqueles anos gloriosos, que deixarom pegada na América e cuja herança mais clara a constitui a língua e a religiom. Impôr a língua às comunidades indígenas e cristianizá-las pola força foi umha política implementada com o intuito de perpetuar as cadeias do Império.

A cruz, a espada e a pólvora forom os que mantiverom os pendons de Castela além mar. Ainda que ultimamente a propaganda espanhola, sobre todo desde os fastos do ano 1992 (o famoso V Centenário) renovou o discurso pretendendo definir o acontecido como “um encontro de culturas”, o que houvo foi o submetimento de uns povos por parte de um poder chegado da outra parte do oceano.

Os estados surgidos da independência dos territórios coloniais da América, para bem e para mal, tenhem no seu código genético o sangue, a suor e o submetimento dos povos indígenas e dos negros chegados como escravos. A estrutura social de qualquer desses países delata-o. Também som fruto da luita desses povos, ou essas mesmas luitas condicionam hoje o seu presente.

"Costuma-se dizer que no 12 de Outubro nom temos nada que celebrar, ainda que em rigor sim que deveriamos considerar que temos motivos para a celebraçom: meio milénio de luitas, de resistência indígena, negra e popular nas Américas". 

Costuma-se dizer que no 12 de Outubro nom temos nada que celebrar, ainda que em rigor sim que deveriamos considerar que temos motivos para a celebraçom: meio milénio de luitas, de resistência indígena, negra e popular nas Américas. A sua luita é a nossa, temos um inimigo comum que é o imperialismo espanhol, português, británico, francês...ou o imperialismo hegemónico a dia de hoje, que é o dos Estados Unidos da América, a fim de contas fundado pola oligarquia británica continental.

No 12 de Outubro, a nossa memória tem que estar com cada pessoa indígena morta a ferro polas hostes conquistadoras, torturada ou executada polas autoridades coloniais eclesiásticas ou civís, cada umha das pessoas que perderom a vida nas minas.

Temos que lembrar a todas aquelas pessoas que forom torturadas e exploradas polo escravagismo espanhol, que morrerom na longa travesia da África aos portos americanos ou polas más condiçons de vida ao serviço dos seus amos.

E também temos que lembrar e honrar a todas aquelas pessoas que luitam e luitarom por um futuro mais digno para os povos da América. Os mambises, que com o machete combaterom as baionetas espanholas; Simón Bolívar, e a sua ideia de pátria latinoamericana, depois recolhida polo Ché Guevara; Augusto César Sandino, pai da pátria nicaraguana; o povo mapuche e a sua guerra silenciada contra o estado chileno...eles devem ser os sujeitos homenageados para nós, e nom desde logo os Reis Católicos, nem Cristovo Colombo, nem nengum dos atores que tenham intervido no expólio das terras americanas e a opressom dos seus povos.

"O império espanhol sempre foi umha obra inconclussa, a de uns imperialistas fracasados. Enquanto a derrota final nom se der, há motivos para celebrar". 

Da Espanha, como digo, ficarom muitas cousas na América; os que hoje exploram e oprimem, os que no seu dia sustentarom ditaduras e agora apoiam movimentos golpistas, som de raza branca e descendentes daquela oligarquia espanhola que saqueava a América colonial. Os fascismos chileno, paraguaio, argentino, uruguaio, venezuelano, colombiano tenhem conexions muito diretas com o espanhol; assim Stroessner, Videla ou Pinochet som perfeitos calcos de Franco além do Atlántico. Espanha na América levou riquezas, deixou um legado de terror e misséria. Essencialmente.

Aquém mar, também devemos lembrar e honrar àqueles e àquelas que fixerom possível que hoje eu esteja a escrever este artigo em galego. O império espanhol sempre foi umha obra inconclussa, a de uns imperialistas fracasados. Estamos vivos e vivas, apesar de estar perdendo a guerra, talvez definitivamente. Enquanto a derrota final nom se der, há motivos para celebrar. Celebrar a dignidade da resistência. Nom vamos ao patíbulo da história em silêncio e sem forcejo; apresentamos ainda batalha numha luita desigual.

Naturalmente que nem os exércitos da Espanha, nem os seus símbolos, nem a sua propaganda, nem as suas instituçons nos inspiram respeito. Espanha celebra-se a si própria, nós celebramos que nem ainda morrendo estamos rendidos. 512 anos depois.

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