Opinión

A Eslováquia e o alargamento da União Europeia

As catástrofes no Médio Oriente estão a ensombrar muitas notícias que são também de grande interesse para o nosso ambiente político e que podem ter consequências muito relevantes a médio prazo para a sua evolução política. Muitas notícias que poderiam ser muito relevantes não o são no momento em que são conhecidas, e muitas que o parecem ser, devido ao espaço que lhes é dado nos media, podem não ser tão relevantes em perspectiva histórica.

A vitória relativa do populista de esquerda (os puristas diriam falsa esquerda) Robert Fico e do seu partido Smer, que, juntamente com outros partidos sociais-democratas e conservadores, lhe permitiu tornar-se presidente do Governo eslovaco, é uma dessas notícias. Não é pela grande relevância económica e militar do país, mas porque decidiu embargar a venda de armas à Ucrânia, sendo membro como é da União Europeia e da NATO, e embora não seja o único, pois a Hungria e a Polónia também o fizeram, é porque, ao contrário dos anteriores, sobretudo no caso da Polónia, o alinhamento de Fico com as posições russas é muito mais evidente. O caso polaco parece dever-se à campanha eleitoral e tem conotações mais económicas, derivadas do conflito sobre a importação de cereais. Parece também que o seu partido se tornou um fedorento entre os sociais-democratas europeus, que se apressaram a expulsá-lo das suas fileiras.

O que interessa neste caso é a rutura de fileiras no seio do chamado bloco ocidental, algo que não me desagrada, não pelo facto em si, uma vez que já me pronunciei a favor do lado ucraniano em muitas ocasiões, mas pelo desafio que coloca à liderança da União Europeia. Além disso, num conflito é desejável que os aliados sejam aliados de boa vontade, caso contrário há o risco de deserção em momentos-chave.

Eu apoio a causa ucraniana e estou satisfeito com o nosso apoio, mas compreendo que poda haver países que, por quaisquer razões, sejam elas culturais, políticas ou económicas, tenham o direito de discordar desta posição e de não alinhar com ninguém, ou mesmo com os russos, se assim o entenderem, porque acredito acima de tudo no princípio da soberania nacional. Princípio frequentemente violado pelas chamadas instituições europeias, mesmo em matérias que não são da sua estrita competência. Partindo do não sempre certo princípio de que há força na unidade e que, por conseguinte, é necessário exprimir uma única voz europeia, procuram subordinar as posições legítimas dos Estados individuais sobre alianças ou posturas nos conflitos da política mundial.

Os sucessivos alargamentos da União nas últimas décadas pareceriam, em princípio, reforçá-la, mas verificamos que muitos países da Europa de Leste, que têm menos complexos face ao globalismo comunitário, parecem não aceitar esta dinâmica e agem com critérios próprios não só no plano económico, mas também no plano político, enfraquecendo a capacidade de execução das políticas por parte da Comissão, o que se traduz em atrasos no processo de integração, o que julgo ser de saudar.

Fala-se de um novo alargamento à Ucrânia, aos países dos Balcãs e à Moldávia, o que, num princípio, não me agradou particularmente. Ao ver os resultados deste alargamento, isto é, os conflitos que os novos membros estão a criar e a forma como estão a corroer o poder das instituições centrais, começo a pensar que não seria de todo uma má ideia.

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