Opinión

No es no

Desde as eleições gerais de 2015 nas quais o PP consegue ser o partido mais votado pouco tem acontecido na política do estado e na galega que merecesse uma reflexão escrita. Nem sequer os 6 escanos do BNG, produto principalmente, ao meu entender, duma péssima actuação do candidato da Marea, Luís Villares, mais que duma brilhante actuação da candidata do Bloque, Ana Pontón. Com isto não quero desmerecer o papel de Pontón o que estou a dizer é que a boa actuação dela veio reforçada por um Luis Villares falto de agilidade e com um discurso contraditório coas proclamas de rebeldia que outros dirigentes e ele mesmo tinham feito na pre-campanha e campanha. Não há nada pior para somar votos que mudar o discurso e imagem dum partido político justo nos 15 dias de campanha. E Luis Villares fiz justamente as dois coisas.

O Bloque de Ana Pontón foi quem de renovar o seu discurso mas isto não nos impede olhar que detrás do novo discurso se agacha a velha cultura política dum Bloque que perdeu mais de 25.000 votos com respeito a há quatro anos; o que nos obriga a dizer que longe das proclamas vitoriosas, o nacionalismo, não foi que de topar o seu fundo eleitoral.

A renovada maioria absoluta do PP de Galicia foi um resultado anunciado (quando menos por mim) e se não for pelos case 50.000 votos fugidos a Ciudadanos teria sido uma vitoria histórica. O resultado da eleições galegas permitiu constatar a funda conexão do PP de Galicia com o povo galego e discernir claramente que Galiza se identifica eleitoralmente em maior grado com o PP e com o Bloque que com as outras forças políticas.

No dia de hoje o PSOE vai passar do “No es NO” que o levou à case marginalidade política a intentar situar-se novamente no centro do tabuleiro da política do estado

No dia de hoje o PSOE vai passar do “No es NO” que o levou à case marginalidade política a intentar situar-se novamente no centro do tabuleiro da política do estado. Porque a centralidade esta no 65% dos votos que recebe a soma de PP, Ciudadanos e um PSOE abstendo se, e não no escasso 40% que da lugar à soma de Podemos com um PSOE acordando com os de Pablo Iglesias.

Com a abstenção o PSOE não só se resetea e volve ao centro do tabuleiro sócio-político do estado senão que também se assegura abrir o caminho para poder volver ao governo sem a necessidade de sacar uma maioria absoluta que hoje por hoje se olha impossível para todos os partidos. Chegara-lhe com ser o partido mais votado. Coa abstenção também intenta fechar a PODEMOS na figura de partido da oposição ao que lhe queda designado de jeito imperativo o papel de favorecer governos do PSOE como mal menor entrementres o PSOE não tem porque corresponder.

Um papel, ate certo ponto desejável, dum PSOE acordando com PODEMOS poderia significar 20 anos de maiorias absolutas do PP ou no seu defeito de governos PP-Cs é o que no dia de hoje intentam impedir com abstenção os Felipes e os Rubalcaba. Uma boa prova deste argumento são as maiorias absolutas do PP de Galicia onde a fractura sócio-política muito forte entre o bando pro-PP e os anti-PP traem como resultado, uma uma e outra vez, vitorias absolutas do PP de Galicia.

O PSOE fica ferido de morte e a sua ferida tem muito que ver com a crise global e de civilização na que estamos imersos (cambio de paradigma). O PSOE foi o partido que medrou e se converteu no melhor representante do sistema com uma cultura política baseada no progresso para todos (crescimento continuo), na modernidade, no europeísmo, na globalização e em apoiar os câmbios sociais precisos à margem dos sectores reaccionários da sociedade, igreja, exército, ….Com o inicio da crise do mundo ocidental, o seu imaginário colectivo e cultura política ficam descontextualizados e absurdos. Oito anos sem crescimento, com Europa e a globalização em crise e com um sector do PP cada vez mais importante disposto a não ficar atrás na necessidade de aceitar os câmbios sociais fiz que o PSOE seja um partido prescindível e substituível.

O PSOE fica ferido de morte e a sua ferida tem muito que ver com a crise global e de civilização na que estamos imersos (cambio de paradigma)

A corrupção é algo que apenas passa factura ao PP e é lógico porque a corrupção é uma atitude generalizada na sociedade e está presente nas grandes empresas que forçam legislação que as favorece em troca de postos de alta direcção das portas giratórias, em funcionários que não cumprem de jeito reiterado com o seu horário, em médic@s que conseguem agasalhos das farmacêuticas a cambio de receitas concretas, em autónomos que sobrevivem graças à facturação em B, em parados que trabalham em negro, em ONGs que gastam o 90% dos seus ingressos em salários burocráticos, em sindicatos que se financiam com cursos de formação, etc, etc.

O PSOE não quer dar entrada a um ciclo político baseado na divisão entre os partidários do PP e os anti-PP porque, de fazer tal, o seu papel passaria a ser irrelevante, mas a sua abstenção também o pode levar a desaparecer porque, como disse antes, o seu imaginário coletivo e cultura política desaparecerão com o crescimento continuo. Estamos pois, ao meu entender, num momento histórico onde os velhos referentes políticos suportam melhor (conservadorismo) se representam velhos valores de sempre que se representam (progressismo) um futuro que já ninguém acredita nele.

O PSOE com o passo do No es NO à abstenção intenta re-situar e resetear o seu discurso reforçando o o sistema do cal é filho. Intenta sobreviver, mas é um partido com um imaginário colectivo e um discurso sem futuro e, pelo tanto, ferido de morte. Reinventar-se vai significar aceitar um mundo multi-polar, uma civilização ocidental decadente, uma Europa fragmentando-se, uma crise económica permanente e se o PSOE faz isto deixará de ser o PSOE. Também lhe queda a saída de intentar (todo aponta que é o intento dos Rubalcaba) por todos os médios passar lhe os custes da crise ao PP e, deste jeito, ser novamente o partido que melhor representa a sociedade espanhola volvendo assim ao governo ainda que seja em minoria.

A crise veu para ficar com nós é, a curto prazo, o esgotamento do “fundo de reserva das pensións” junto com um rebote dos preços do petróleo vão gerar maior crise, sofrimento e instabilidade ao conjunto da sociedade na que vivemos. Empenhar-se em seguir imaginando o futuro como antes do 2008 é o pior que podemos fazer individual e colectivamente. Toca repensar-se e, nesta fase é na que entrou o PSOE, sem que isto signifique que vão topar o caminho da supervivência como organização.

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