Opinión

Não é país para nós

Recentemente, num ato público, o Presidente Feijó instava a União Européia “a tomar boa nota do problema da demografia”, reconhecendo que a profunda crise demográfica da Galiza não tem a ver com a atual recessão económica, senão com a evolução da natalidade desde a década de oitenta. 

Recentemente, num ato público, o Presidente Feijó instava a União Européia “a tomar boa nota do problema da demografia”, reconhecendo que a profunda crise demográfica da Galiza não tem a ver com a atual recessão económica, senão com a evolução da natalidade desde a década de oitenta.  Mais uma vez encontramo-nos perante a expressão de cinismo político, característico desta personagem e infelizmente sofremos a falha de iniciativa política e de vontade de governar.  O senhor Feijó indicava também que as soluções não são fáceis, mas sem a tomada de decisões durante todas estas décadas (convém lembrar que o PP dirigiu a Junta 26 dos 33 anos do atual enquadramento autonómico), estas só poderiam chegar da ação da divina providência, ou de que as galegas e os galegos atendam a chamada de atenção de um anterior presidente: “no puedo meter a un hombre y una mujer en la cama y decirles lo que tienen que hacer”.

Falando a sério, pessoalmente acho que estamos ante um dos três maiores problemas do nosso País. Os outros dois grandes problemas seriam a falha de emprego da população mais jovem e o retrocesso no uso da língua galega na Galiza.  Para mim a ligação entre todos eles é evidente, mas também não observo grande preocupação por nenhum deles na oligarquia dirigente e na maioria dos meios de comunicação implantados ao nosso redor.

"Para além dos custos diretos de alimentação, educação, creches, cuidados globais, etc., encontramos os custos de oportunidade, em contradição com os anteriores, decorrentes do facto de trabalharem a mãe e o pai".

Focando a atenção na aparente preocupação do nosso presidente, os incentivos para solucionar a terrível crise demográfica poderiam ser de dois tipos: económicos e sociais.  Fazendo parte dos primeiros e deixando de lado as preferências individuais de cada um, das que tanto gostam os próprios economistas; os aspectos com maior incidência na fecundidade estão em relacionamento com o mercado de trabalho e o acesso à habitação. Também desde o ponto de vista económico apareceriam os custos ligados a terem filhos. Para além dos custos diretos de alimentação, educação, creches, cuidados globais, etc., encontramos os custos de oportunidade, em contradição com os anteriores, decorrentes do facto de trabalharem a mãe e o pai.

"A maioria dos que perderam o trabalho nestes sete anos fazem parte dos mais novos (quase 200.000), daqueles que poderiam ter filhos e ajudar a melhorar a situação demográfica". 

As lamentações do senhor Feijó resultam da sua total incapacidade para governar e da sua inoperância geral.  Com certeza, e sem desvalorizar os outros aspectos na cima indicados, o desemprego na Galiza não ajuda a abrandar a crise demográfica.  Mesmo contrariando o discurso oficial, se me é permitido o dado, na Galiza trabalham quase 205.000 pessoas menos que em 2007 (EPA, segundos trimestres de 2007 e 2014).  A maioria dos que perderam o trabalho nestes sete anos fazem parte dos mais novos (quase 200.000), daqueles que poderiam ter filhos e ajudar a melhorar a situação demográfica.  Mais de 30 per cento dos galegos e mais de 20 per cento das galegas de 16 a 44 anos perderam o emprego nesta época.  A isto podemos acrescentar o facto de que apenas 57 e 54 per cento dos galegos e das galegas dessas idades a morar na Galiza trabalham, atualmente.  Tudo isto sem contarmos os quase 105.000, das idades indicadas, registrados no Padrão de Residentes do Estrangeiro desde 2009.  Por trás destes números estão as tragédias pessoais de muitas galegas e de muitos galegos sem futuro neste País.

Mas não sei se é preciso falar nisto, quando cada um tem os seus problemas.

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