Opinión

A “uberização”

Pois isso, estamos a viver num processo de “uberização” da nossa sociedade. E nestas levamos já um tempo. A rebaixa de salários, a rebaixa de direitos sociais e laborais, junto a um processo parelho no tempo de concentração de capitais está a levar a um outro modelo de relações laborais, a um outro modelo de trabalho.

Nestes dias olhamos como o sector da táxi está a sacar à rua os protestos contra este outro modelo que damos em chamar da “uberização” e que afeta não em exclusiva ao serviço de transporte público. Uber e Cabify entram num mercado profundamente rígido, onde as normas e os números “clausus” até o de agora relativizavam a competência o que permitia que o táxi seguira a ter uma função de serviço público. O problema destas novas formas de negócio afeta profundamente a esta parte de serviço público que monopolizava dalguma maneira o táxi.

Tanto Uber e Cabify vêm a quebrar a utilidade social que sim que tinham os táxis como transporte público e deitam acima da mesa a exclusiva lógica do mercado. Neste sentido, estas empresas não lutam por instalar o seu negocio em Negreira, em Samos ou em Mondonhedo, lá não têm mercado. Unicamente projetam o seu plano de negócio lá onde maximizam os seus benefícios. No fundo, é a lógica do mercado sobre a que agem deitando fora qualquer consideração sobre o uso social do transporte de passageiros.

Nestas vilas de pequeno tamanho o táxi leva aos idosos ao médico, leva aos nenos e nenas aos centros de ensino ou leva às gentes ao centro da vila para fazer as suas compras.

Estamos nun mundo que caminha cara a “uberização” do modelo económico, um modelo que no fundo é contrario ao principio de igualdade e de equilíbrio territorial, um modelo que levam desfazendo desde finais do século XX com o novo modelo de centralização das políticas e da mesma forma política do estado

 

Isto escapa à lógica do mercado, isto não é para um mundo que caminha para a “uberização”. Já não quero entrar no modelo fiscal e de tributação; ou mais bem a falha dela; destas empresas, tampouco vou entrar no seu modelo de exploração laboral. Unicamente, esta reflexão sobre o que significa o táxi, deveria servir algo para que parássemos a pensar sobre o seu verdadeiro significado dentro da nossa sociedade e da necessidade real e social de manter e suster este sector.

Estamos nun mundo que caminha cara a “uberização” do modelo económico, um modelo que no fundo é contrario ao principio de igualdade e de equilíbrio territorial, um modelo que levam desfazendo desde finais do século XX com o novo modelo de centralização das políticas e da mesma forma política do estado. Sobre o suposto argumento da ineficácia económica toma força o lema da “España es una y no cincuenta y una”. Esquecemos que como já falou o que fora ministro de economia, Carlos Solchaga, de que se queremos democracia, temos que saber que a democracia é cara.

Causa surpresa ver também como este modelo de sociedade de baixos direitos e defendido desde certos sectores da esquerda e da direita política, frente aquele mundo muito mais custoso que representa uma viagem em táxi. Embora ninguém reclama o serviço social do mesmo, e também com isso o seu sobre-custo frente outras alternativas que não assumem estas, que podemos dar em chamar, externalidades e que sim afrontam os táxis.

Surpreende nesta “uberização” da sociedade, ver como certa esquerda está do lado das novas empresas, com o seu modelo laboral de baixos direitos, a sua nula função social no sentido mais intenso do termo e as suas tarifas “on-demand”. Também coincidem neste tema com aquela já famosa frase: “es el mercado amigos”. Nestas caminhamos, desmontando serviços públicos e alguns aplaudindo com as orelhas.

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