Opinión

Carta aberta a Eduardo Maragoto, ex presidente da AGAL

Caro Eduardo Maragoto, venho de ler um texto seu no especial das letras galegas 2022 publicado pelo Eixo Atlântico, impossível de localizar na internet mas que graças ao PGL, foi possível acessar

Nele há um parágrafo que acho devo esclarecer, pois tu na altura 1980-1982 eras novo demais como para viveres esses assuntos. O tal parágrafo era o seguinte:

“Eu tenho a certeza de que esta norma reintegracionista vai ser adoptada de algum modo, porque a pesar de ainda nom ser oficial, o seu número de utentes continua a aumentar e o atual mundo hiperconectado, acabará por impor mais realismo às politicas linguisticas. Nos anos 80 quando se tomou a decisom que nos levou a adoçom da atual normativa, só se tiverom em conta razões sentimentais, mas se aquela mesma decisom tivesse que ser tomada hoje, seria muito diferente, pois creio que hoje, seriam tidos em conta muitos mais elementos”

Mas isso é completamente falso, não houve nada sentimental no acordo, a questão de fundo vai além da normativa. Foi uma decisão política da Espanha -Castela/espanha-, (na que a Galiza de facto se lhe tirou a voz). Espanha estado artelha a decisão de jeito bem inteligente. Não houve nada de sentimentalismo galego.

Qual era o quadro da língua nos anos 70 do século passado:

Chegara a língua a universidade, à única que existia na altura, tinha de catedrático a Dom Ricardo Carvalho Calero. A matéria na universidade não se chamava, galego, chamava-se galego-português, o nome que correspondia a tradição galeguista., e os alunos eram licenciados nessa matéria.

A imensa maioria da sociedade queria um acordo que se inserisse com consenso, mas seguindo a mesma linha, e isso era apoiado pelo nacionalismo galego, pelos vultos galeguistas, e pela imensa maioria da nossa sociedade.

O governo pre-autonómico encarregou a uma comissão a elaboração dum modelo de língua escrita para seu uso pela administração e o ensino. A RAG não era e acho que segue não sendo uma academia da língua. Essa comissão foi presidida por Carvalho Calero, nela também participou o ILG, e elaborou umas normas que foram publicadas no Boletim núm. 6 da Xunta de Galicia.

Umas normas de consenso, com um caráter de mínimos e entendimento possibilistas, porém que abriam o caminho a convergência futura com o português que é a mesma língua da Galiza, e que repondiam muito bem ao modelo de língua que para todos os preocupados com ela, era o que aguardavam. Essas normas foram parabenizadas muito favoravelmente pelas organizações nacionalistas e aquelas que lutam e defendem os interesses do nosso povo. Era um projeto de língua plena e genuína e que procurava ganhar espaços para a língua.

No ano 1971 nasceu na universidade compostelã, impulsionado pelo Ministério de Educacion franquista, de que dependia a universidade, o Instituto Galego da Língua.

Uma pessoa alheia a Galiza, desconhecedora da língua, da que nunca amossara nem o mais mínimo interesse por ela, Constantino Garcia, é quem o Ministério escolhe para levar avante a tarefa do tal Instituto. (Vitor Vaqueiro e Nicolás Xamardo: Da idfentidade a norma – Laiovento 2017 núm. 339 catalgo).

A finalidade do ILG, dado que os tempos estão próximos a mudar, é lutar ferrenhamente contra a tradição galeguista do galego-português; e definir o galego, língua espanhola e só espanhola da qual a sua fronteira tem que ser exatamente com a do estado.

O modelo de língua tem que ser o mais próximo e dialetal do castelhano, norma de correção do galego, qualquer cousa que ligasse com o português língua estrangeira seria anátema.

Como exprime o professor Carlos Quiroga, o ILG era e é um vírus que se insere no espírito da língua e ao que não se põe remédio com boas palavras nem almoços e jantares fraternos.

Castela, Castela/espanha, leva 800 anos com uma única preocupação a respeito da Galiza, o relacionamento com Portugal, e eles agiram, pois era algo fulcral para controlarem bem isso, terem um projeto do galego realidade espanhola distinto daquele no que bebe a tradição galeguista, e isso é independente de qual fosse a qualidade de língua que gastassem todos os vultos dessa corrente.

No curso 1980/81 ia a nossa língua ser introduzida pela primeira vez no ensino. Nesse ano e até o curso de 83, a competência sobre isso correspondia ao Mnistério de Educación. O Ministério elabora as diretrizes sobre a língua no ensino, e essas instruções comunicam-se de obrigado cumprimento, e a inspeção educativa terá bom cuidado com isso.

Nelas se especifica: Que não se seguiram as normas elaboradas pela Comissão linguística que presidira Carvalho Calero, e só se seguirão as que propõe o ILG.

Proíbe-se qualquer introdução de temas no ensino que façam referência ao português ou a literatura portuguesa.

Que não se deve criar problemas com as normas diferencialistas e que podem causar problemas ao ensino do castelhano e as outras matérias, o ensino sério e importante para os alunos.

No ano 1981 constitui-se o primeiro governo autonómico do partido Aliança Popular, presidido por Fernandez Albor. Nesse ano elabora-se a Lei de Normalizacion línguística, -por unanimidade (uma adaptação reduzida da lei que já vigorava na Catalunha). No último momento o deputado Camilo Nogueira introduz uma disposição adicional, que estabelece: Nas cuestións relativas á normativa, actualización e uso correcto da lingua galega, estimarase como criterio de autoridade o establecido pola Real Academia Galega. Dando uma competência a uma Academia que não era de língua.

As competências em matéria de ensino, não foram transferidas a Galiza (CA) até o último quartel do 82, porém as normas ditadas pelo Ministério, seguiram em vigor até o curso 85-86, o primeiro onde a Adm. Autonómica ditou normas, que em resumo confirmavam e abençoaram a linha ministerial.

Para o cumprimento da disposição adicional da Lei 3/83, foi pressionada a RAG, de jeito bem profundo e ainda assim às normas do ILG, se lhe teve que incliri uma introdução com um ponto 4 que estabelece, a pedimento de velhos galeguistas pertencentes a essa tradição: “As escollas normativas deben ser harmónicas coas das outras linguas, especialmente coas romances en xeral e coa portuguesa en parti-cular, evitando que o galego adopte solucións insolidarias e unilaterais naqueles aspectos comúns a todas elas, tales como adaptación de cultis-mos e de terminoloxía científica e técnica. Este principio de harmonía ha de rexer tamén para o galego que se estableza como normativo: as es-collas deben decidirse de acordó CUTÍ criterio de coherencia interna, a fin de que o galego común non resulte arbitrario e incongruente”. (Poucos dias depois são publicadas no DOG) Essa disposição nunca vigorou

A sessão de abençoamento pela RAG das normas do ILG teve lugar o 3 de julho de 1982, numa reunião que não alcançou nem a durar uma hora, nela faltaram bastantes académicos e as normas do ILG não foram examinadas na RAG com anterioridade.

A Administração do governo Albor, contrata pessoas para levarem adiante as novas tarefas normalizadoras, essas pessoas são designadas e comunicadas pelo ILG, que se converte numa potente oficina de emprego para todos aqueles que defendem a condição subalterna e regional da língua da Galiza.

Filgueira Valverde velho galeguista da asa mais apavorada, que chegada a guerra escreveu poemas em honra deo criminal golpista Franco e que ocupou a câmara municipal por bastante tempo, numa deferência da ditadura; estava convencido que a nossa língua era eterna pois o nosso povo campesino e marinheiro sempre a manteria viva. Se anos e anos de desprezo e repressão não deram cabo dela, é que isso era impossível. Ele, além disso, estava profundamente convencido de que a Galiza não pode lutar contra Castela/espanha, eles têm todas as ferramentas e a cousa só pode piorar. Aceitemos o que nos deem, pois noutro caso tudo pode piorar, a violência de Castela sobre nós, como se viu ao longo da história, pode ser terrível. Além disso, ele compartilha e defendia que a cultura castelhana era muito importante, pois nós só com essa cultura somos verdadeiros espanhóis, o que é grande cousa.

Ele não procurava consensos nem tinha competências sobre língua no âmbito do governo, era o Conselheiro de Cultura.

O governo ainda assim fez uma consulta aos serviços jurídicos sobre a validez das normas de consenso pre-autonómicas, e estes informaram, que com a disposição adicional da Lei3/83, ela deixava de ter valor.

Com motivo da sua publicação, Filgueira Valverde deu uma entrevista no jornal La Voz, onde de jeito muito breve usava os mesmos argumentos das diretrizes do Ministério: Não se pode pôr problemas as cousas importantes, o castelhano e as outras matérias. O português é estrangeiro -afirma-se catedrático de português-. E quanto mais parecido for o galego com o castelhano mais se facilita o seu estudo e conhecimento.

No curso 1982-83 o ensino já está transferido a CA, porém se reitera que as instruções do Ministério seguem em vigor, e não será até o curso 1985-86, que a Conselharia de educação editará umas normas, que são um pequeno refrito das ministeriais com alguma cousa menor.

AS NORMAS QUE VIGORARAM FORAM O RESULTADO DUMA POLÍTICA INTELIGENTE E HÁBIL DO GOVERNO DA ESPANHA, NÃO O RESULTADO DE NENHUM DEBATE SENTIMENTAL. Houve decisões nas que a Galiza ficou alheia, foram elaboradas na contorna dos nossos dominadores.

Como seria isso hoje em dia?: Pois muito mais difícil, o vírus do ILG fez e muito bem o seu trabalho, a língua está num processo acelerado de desaparecimento e ainda que haja muito reintegraacionista, o seu peso é menor às massas de consenso que havia naquele momento sobre um modelo de língua.

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