Opinión

Imoralidade intolerável

O espanholismo futeboleiro quedou calado no mundial. O mau vai ser o que pode acontecer com o "marroquismo", pois os distúrbios que houve em Paris ao ganhar Marrocos a Portugal van multiplicar-se. É a irracionalidade que acompanha a este desporto de massas desde há décadas e a sua utilização como droga para o povo, como aconteceu com os espetáculos públicos desde os tempos do império romano. Os governantes daquela sabiam muito bem que a melhor maneira de ter calado o povo era dar-lhes "panem et circenses".

Mas, além da irracionalidade dos seareiros, outro aspecto para mim ainda mais grave do futebol é a questão dos ingressos desorbitados dos jogadores de mais alto nível. O número de outubro de Le Monde Diplomatique contava que o salário neto de Leo Messi no PSG era de 40 milhões de euros ao ano (110.000€ diários!); aos quais haveria que adir os que ingressa por publicidade... Mas o de Messi não é um caso isolado; jogadores como Cristiano Ronaldo, Neymar e outros dos que sei pelas notícias andarão-lhe perto.

A carón disto, cumpre situar os 11 milhões de pessoas em exclusão social, 6 milhões em pobreza severa, num país adiantado como Espanha, que paga soldos semelhantes aos seus futebolistas de elite. Claro que, se o de Messi e os seus colegas é "normal" –mentres metam goles–, tampouco estranhará que o presidente de Iberdrola –que cobrou 12 milhões em 2020– considere extremistas uns orçamentos do estado que tratem de suavizar essa situação recortando os ingressos dos superdiretivos.

O desses futebolistas –como o desses diretivos– é um roubo e uma imoralidade que deveria ser intolerável, política e socialmente. É expressão clara dum sistema corrupto que tolera o intolerável, e que também deveria erguer vocês de indignação nas ruas.

Um dos maiores argumentos dos que repudiam o socialismo é que "a propriedade privada é sagrada", que o meu é meu; mas esquecem que muito mais "sagrado" é o direito de todo ser humano a uma vida digna, que os bens da terra tenhem que ser acessíveis a todos os seres humanos.

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