Opinión

Estupidez da religião?

H á um par de meses, lia um artigo em Infolibre que levava um título semelhante ao da minha coluna de hoje, mas sem a interrogação. Reconhecendo no começo que o 85 por cento dos humanos creem em Deus dum modo ou de outro e que não há nenhuma cultura em que não haja alguma forma de religião, dizia de contado que “quedam poucas dúvidas de que a religião é, como outras muitas superstições, uma fonte extraordinária de estupidez”.

Sempre me chamou a atenção a prepotência de certos ateus que pensam que só eles são inteligentes, e chamam estúpidos aos que não o somos e temos sentimentos religiosos, qualificando-nos de pobres ingénuos ou malvados cínicos. Lembro escutar-lhe há mais de vinte anos ao filósofo agnóstico Ignacio Sotelo, replicar-lhe a Fernando Savater, num encontro em Madrid no qual participávamos teólogos e filósofos, por uma postura semelhante, dizendo-lhe que o seu dogmatismo era igual que o dos clérigos intolerantes: “O seu foi o discurso das seguridades inamovíveis –disse–, a negação da filosofía e do pensamento”. Eu escrevera daquela em A Nosa Terra (31/10/1996) que se pode ser crente-religioso ou não, agnóstico ou ateu contumaz, cristão, musulmano ou budista, mas que tanto a tradição das grandes religiões como a reflexão não religiosa honesta feita desde a filosofía, a psicología e a ciência, tem o suficiente valor como para não poder desqualificar ao outro de maneira tão burda.

O tal sociólogo escrevia isto com ocasião da tomada do poder dos talibães em Afeganistão, e a fanática imposição da sua religião, humilhando as mulheres, impondo as suas crenças e mesmo executando aos infiéis; para rematar chamando à defesa das pessoas vitimas da “estupidez religiosa”.

De onde sacam demagogos como ele que as pessoas religiosas não pensamos, não somos críticos com os sistemas rígidos de crenças e sobretudo com as injustiças sociais cometidas em nome deles? Os dois mil anos de cristianismo, junto com tristes histórias de opressão, estão também cheios de pensamento lúcido e vidas que souberam pôr luz na obscuridade e que contribuíram ao progresso dos direitos humanos, sobre tudo os dos mais débeis, mesmo pagando com a sua vida o preço do seu compromisso.

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