Opinión

300.000

Não são 3000, nem 30.000, mas 300.000 as crianças, moças e moços abusados nos últimos setenta anos por clérigos e catequistas pedófilos em França, como reconheceu o informe da Comissão Independente sobre os Abusos Sexuais na Igreja (CIASE). Mesmo, os seus autores, católicos, reconheciam que podem ser muitas mais as vítimas.

Isso na laica França, onde o peso da Igreja é menor que noutros países europeus, como Itália e Espanha, onde a presença social é maior pois tem mais templos e colégios em ativo; o que sugere que a cifra pode ser aqui superada. Mas os bispos espanhóis não estão pelo labor de aclarar a situação. O de França não é um caso isolado, soma-se aos centos de milheiros de abusados que se fez público em Irlanda, Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Chile, Austrália, países de África, etc.

O mesmíssimo Vatican News reconheceu que é um “demolidor informe” e o papa Francisco pediu, afundido, publicamente perdão.
O tema leva saindo repetidamente nos últimos anos em todos os meios de comunicação com dados, análises e propostas de solução. Tanto que não me animei nestes tempos a somar uma nova página a isto, com o sentimento de que tudo estava dito. Cansa volver sobre o tema, mas cumpre. É necessário porque a voz das vítimas segue a clamar ao céu e à terra, exigindo verdade, justiça e reparação, apoio e ajuda, como todas as vítimas, que exigem que a verdade saia à luz e haja uma memória histórica.

O mais grave do informe, e que me levou esta vez a escrever, é que a cifra manifesta que já não se trata de exceções; não se pode dizer que o número de clérigos abusadores –entre 2.900 e 3.200, diz Jean-Marc Sauvé, presidente da CIASE- é pequeno frente a uma maioria de bons curas e frades respeitosos e entregados a anunciar o seu ministério, que evidentemente hai-os. Cumpre dizer que é uma prática sistémica atroz, com a “cruel indiferença” da Igreja católica até começos do 2000, como denunciou Sauvé. Ameaça com acabar com a mesma Igreja; pelo menos com a Igreja institucional, que permitiu e acalou os abusos pedófilos. Mas as comunidades cristãs honestas e respeitosas seguirão vivendo a sua fé, celebrando-a e comprometendo-se nas causas da justiça e a libertação, com outros crentes e outra gente que não tem uma fé religiosa.

Comentarios