Opinión

O que nom se conta do referendo grego

A Grécia celebrou um referendo no dia 5 de Julho, no que se votou, ou isso nos contam desde a versom oficial, se se aceitavam as condiçons de pagamento da dívida grega e o plano de austeridade proposto pola UE, ou se polo contrário se rejeitavam. Nom fica demasiado claro em quê termos se desglossa tal plano de austeridade, nem fica claro também em quê consistia a contraproposta defendida polo governo heleno (formado polo Syriza e o ANEL)

A Grécia celebrou um referendo no dia 5 de Julho, no que se votou, ou isso nos contam desde a versom oficial, se se aceitavam as condiçons de pagamento da dívida grega e o plano de austeridade proposto pola UE, ou se polo contrário se rejeitavam. Nom fica demasiado claro em quê termos se desglossa tal plano de austeridade, nem fica claro também em quê consistia a contraproposta defendida polo governo heleno (formado polo Syriza e o ANEL) O que sim parece claro é que a finalidade última do referendo era legitimar o posicionamento do governo grego. Nom se votava o pagamento ou nom da dívida, isto haveria que sulinhá-lo.

Conseqüentemente, e a falta de informaçom mais detalhada, haverá que chegar à conclussom de que  o referendo respondia a umha necessidade subjetiva do governo: a de apresentar-se perante os membros da troika com umha posiçom reforçada, pondo sobre a mesa a carta do respaldo popular. É umha jogada que lhe saiu bem, por enquanto, ao executivo de Tsipras. 61,31% de votos válidos forom em sentido negativo para o programa da troika, ou seja, apoiando a opçom defendida polo governo. 

Mas dando umha vista de olhos mais atenta aos resultados do referendo, nom deveriamos perder de vista o detalhe de que a taxa de participaçom foi do 62,5%, que portanto a abstençom alcançou um 37,5% e que para além dessa circunstáncia, um 5% dos votos emitidos forom nulos e um 0,75% forom em branco. Esse 5% de votos nulos, correspondem aos boletins emitidos polo KKE, que expressavam umha resposta nom contemplada no referendo. A proposta do KKE foi no sentido de empreender a via do socialismo e a soberania nacional, frente à falsa dicotomia plantejada entre o posicionamento da troika e o do governo da Grécia, mais coincidentes do que a opiniom pública mundial acredita. KKE denuncia que a proposta do governo a defender perante a troika é coincidente num 90% com a proposta da UE. Syriza, que ascendeu ao poder fazendo própria a rebeldia popular perante a austeridade criminosa, tem no pouco tempo que leva governando, umha boa listagem de medidas anti-operárias e anti-sociais na sua folha de serviços.

KKE defendeu no parlamento grego que o referendo se plantejasse em termos de aprovaçom, como digo, de um programa que iniciara a via do socialismo e a soberania nacional. Os pontos a refrendar seriam:

Nom à proposta de acordo da UE-BCE-FMI e o governo grego
Desligamento da UE – Aboliçom do memorando e de todas as suas leis de aplicaçom.

A ratificaçom de tais premissas implicaria avançar cara os objetivos do cancelamento unilateral da dívida, a socializaçom dos monopólios e a instauraçom do poder da classe trabalhadora e do povo.

Como era de esperar, o governo de coaligaçom formado por sociais-democratas e direita nacionalista nom aceitou incluir tais premissas no referendo. Em qualquer caso cumpriria salientar a clara perversom que o governo grego fai de umha ferramenta democrática que, num estado chamado de democrático, deveria ser de uso habitual.

Porque a minha pregunta é, se verdadeiramente o governo grego e a troika representam dous bandos enfrentados, porquê nom se lhe pregunta ao povo grego, antes já do que qualquer outra cousa, se quer continuar na UE? Se verdadeiramente o “Sim” e o “Nom” no referendo grego representam bandos diferentes, porquê todos os discursos confluim em que a saida do euro é o desenlace a evitar e que há que dialogar? Na Grécia e fora da Grécia, os defensores do sim e do nom som afluentes de um rio que se chama Uniom Europeia, que parece inquestionável. Onde ficou aquela esquerda que se opunha à “Europa dos mercaderes”?

Eu gostava de fazer umha pregunta a maiores: vai o governo grego permitir que se audite de algumha maneira o acordo que se alcançar com a troika?

Este foi um referendo com respostas induzidas e com um plantejamento ambíguo, no que se escamoteia a possibilidade de posicionarem-se em favor da saida da UE. Tem o governo grego medo de visibilizar esse posicionamento? Porque haveria que ver, dentro da abstençom ou dentro do voto polo nom, quanta gente se pronunciaria pola saida da UE, se realmente se contemplasse na consulta essa possibilidade.

Essa pretensa festa da democracia que dim que se celebrou na Grécia, eu nom a vejo como tal. Numha situaçom de verdadeiro desespero social, é evidente que se utiliza ao povo como comparsa de umha operaçom onde este é conduzido cara novas folhas de rota marcadas polos cortes sociais e as medidas anti-operárias, sob a máxima de “a Uniom Europeia ou o inferno”. O abismo da saida da Uniom Europeia, é a ameaça perante umha classe trabalhadora com dificuldades para visualizar alternativas fora do capitalismo. Mas o socialismo aparecerá finalmente como soluçom a este bucle diabólico. Sou optimista e acho que nom vai cair em saco roto o labor paciente da verdadeira esquerda grega comandada polo KKE. A sua força nom fica verdadeiramente retratada num referendo armadilha onde muitas pessoas nom puiderom acodir às urnas polas dificuldades económicas e de transporte. Mas aí estám essas massivas mobilizaçons prévias ao referendo celebradas nas principais povoaçons gregas.

A Europa e o Mundo polo que devemos luitar, é umha Europa e um Mundo onde imperem o poder operário. Nom debe ser o nosso objetivo “umha Europa mais social” mas “umha Europa socialista”. O interessante do cenário grego, é esse aguçamento das contradiçons que desenvorcará num episódio revolucionário. Brindo desde estas linhas pola revoluçom grega, que ainda nom foi mas que pronto será.

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