Opinión

O mar cantaruja umha velha cançom

Estou no passeio marítimo de Santa Cruz, numha fria manhá de inverno. Realmente, a qualquer hora do dia, em qualquer época do ano e com qualquer situaçom climática, é impagável o espetáculo do mar a lamber a nossa costa.

Estou no passeio marítimo de Santa Cruz, numha fria manhá de inverno. Realmente, a qualquer hora do dia, em qualquer época do ano e com qualquer situaçom climática, é impagável o espetáculo do mar a lamber a nossa costa. A imagem do castelo de Cavalcanti a desafiar as fúrias desse mar bravo, a saudar os solpores e os albores pintados no nosso ceu, é esse cadro que todos quixéramos pintar, essa foto que todos quixéramos reter. É todo um símbolo, a postal que todo visitante persegue.

"Um grupo de vizinhos e vizinhas de Santa Cruz decideu montar umha plataforma para exigir que a parcela do antigo Hotel Maxi, passe a ser pública. A ideia parece-me bem, mas nom poido evitar a pregunta: realmente pode-se conseguir isso?"

Hoje, o ambiente plácido das manhás dominicais vê-se perturbado por um pequeno rebúmbio de gente que intercambia impresons detida perante umha mesa com dous feixes de folhas acima, que logo comprovo que som para recolher sinaturas. Nom é essa umha cena muito habitual neste lugar. Um grupo de pessoas a parar aos e às passeantes, convidando-os a assinar umhas folhas? E quê finalidade pretendem tais folhas?

Detenho-me e pergunto, aguilhoado pola curiosidade. Para quê som as sinaturas? E explicam-me: um grupo de vizinhos e vizinhas de Santa Cruz decideu montar umha plataforma para exigir que a parcela do antigo Hotel Maxi, passe a ser pública. A ideia parece-me bem, mas nom poido evitar a pregunta: realmente pode-se conseguir isso? E respondem-me: realmente está complicado, mas existem ferramentas no ordenamento jurídico para conseguí-lo. E assim decorre a conversa, enquanto eu para o meu interior penso que pola primeira vez neste povo no que habito desde há quase três décadas, vejo que há um núcleo de pessoas que se atrevem a pôr em causa certas cousas que pareciamos resignados a que acontecessem.

Com efeito, no PGOM de Oleiros contempla-se a possibilidade de edificar na parcela que até há pouco ocupavam as ruínas do que fora o Hotel Maxi, um estabelecemento de hospedagem cuja atividade se remonta à post-guerra espanhola e que fechou as suas portas de maneira definitiva no ano 2006. E evidentemente, resulta complicado pensar que ao proprietário desse terreno lhe poidam empecer edificar no lugar, se o que pretende fazer nom vai contra as normas urbanísticas. Mas isso nom quer dizer que a redaçom do PGOM nom se poida mudar, atendendo sobre tudo à reaçom social que está a subscitar o projeto que a propriedade da parcela tem para esta.

"O problema, com efeito, nom é que a propriedade da parcela vaia incorrer numha ilegalidade; o problema é o grave dano paisagístico que se nos vai infringir e que vai repercutir na nossa qualidade de vida". 

O PGOM fala de possibilidade de recuperar espaços anteriormente utilizados para a atividade hotaleira, para a mesma finalidade. O que nom há, é transparência sobre o projeto. O único que sabemos é que se pretende constroír nessa parcela um prédio de 18 metros. Falava-se num começo de um hotel de cinco estrelas, e agora já parece que falamos de um aparthotel. O único claro, é que se vai eregir um prédio enorme na mesma beira do mar e de novo, um espaço que ficava livre para podermos contemplar as extraordinárias vistas à baía que atesouramos no nosso povo, ficará tapado, invadido por um monstro de cimento e vidro.

O Presidente da Cámara Municipal, é absolutamente rotundo e inflexível defendendo o nada claro projeto que tem trás de si a construçom do enorme prédio. A empresa que vai gerir o negócio de hospedagem é Hostcastros, SL e até há bem pouco o máximo mandatário municipal, Ángel García Seoane, afirmava que o que estavam interessados em montar era um hotel de cinco estrelas, cuja apertura em Santa Cruz, trazeria grandes benefícios (entende-se que em forma de postos de trabalho) claro que, se depois a própria empresa que seria gestora do estabelecimento matiza dizendo que o que em realidade se projeta é um aparthotel, desde logo que a cousa cámbia no sentido de que o argumento dos postos de trabalho perde força.

O pior de tudo, de qualquer maneira, nom é que se pretenda comprar vontades na vizinhança com a promesa dos postos de trabalho. O pior é que o Presidente da Cámara Municipal, que é, supom-se, um representante do povo, está a exercer de defensor dos interesses de umha empresa privada, insultando e desqualificando àquelas vozes que se manifestarem contra a construçom de um prédio nessa parcela, e que reclamem algum tipo de soluçom que passe por evitar que se faga tal obra nesse espaço. Que eu saiba, ninguém tem a obrigaçom de concordar com as opinions particulares do Senhor García Seoane, recolher sinaturas e difundir as reivindicaçons de umha plataforma vizinhal nom tem nada de inmoral nem de delituoso e, em qualquer caso, se lhe ficasse algum ponto de cordura a este homem, seria recomendável que escuitasse à sua gente, pois consta-me que há quem vota pola sua candidatura fielmente em todas as eleiçons autárquicas e que tem assinado contra o prédio. De facto, porquê nom umha consulta popular a respeito do tema?

"A mim desde logo, nom me vam enganar; ninguém me vai convencer de que o futuro para este povo é apostar polo tijolo e o turismo, quando essa é a fórmula que conduziu à atual crise do capitalismo. Há que procurar outros modelos, obviamente, se nom queremos repetir os erros que nos levarom ao ponto atual".

Para mim desde logo, em qualquer caso, o debate nom se centra, como parece que acontece no caso de algumha força política com representaçom institucional, em se o que se vai instalar é um aparthotel ou um hotel; para mim o problema, igual que para a plataforma, com a que atualmente colaboro, é o prédio em si próprio. Claro que sou consciente das potencialidades turísticas desta paragem, e nom há mais que ver quanta gente do concelho e de fora do concelho visita o nosso povo durante todo o ano, para passear polo porto, o passeio marítimo, o parque Luís Seoane ou o das Galeras...ao que me oponho é à privatizaçom da nossa costa, que essa maravilha impagável da baía vista desde esta veranda excepcional que é a costa de Santa Cruz nom seja um privilégio para disfrutar em exclussiva polas clientelas dos hoteis e bares que lá há.

O problema, com efeito, nom é que a propriedade da parcela vaia incorrer numha ilegalidade; o problema é o grave dano paisagístico que se nos vai infringir e que vai repercutir na nossa qualidade de vida. Problema agravado pola falta de vontade política, por parte de Ángel García Seoane, para utilizar as ferramentas que o próprio sistema lhe dá e com as que pode solucionar a situaçom. A compra do terreno, a sua permuta, ou a sua expropriaçom em favor do interesse público, som medidas possíveis e perfeitamente legais. Porém, o Senhor García Seoane, chega a manifestar mesmo implicaçom no plano afetivo com o dono da finca, dizendo que este está a passar por um verdadeiro calvário, por culpa da campanha que está a levar a termo a plataforma. Polos expropriados da Via Ártabra, nom houvo tanta compaixom. Podemos fazer umha comparativa, entre o património do dono da finca do Maxi e os exprorpiados pola Via Ártabra...e melhor nom nos ponhamos a ponderar utilidades!

A mim desde logo, nom me vam enganar; ninguém me vai convencer de que o futuro para este povo é apostar polo tijolo e o turismo, quando essa é a fórmula que conduziu à atual crise do capitalismo. Há que procurar outros modelos, obviamente, se nom queremos repetir os erros que nos levarom ao ponto atual.

E, enquanto transcorrem estas linhas que escrevo, o mar cataruja umha velha cançom marinheira, que fala da liberdade; o mar quer ser mar, nom um estanque pintoresco para turistas. Nom quer que lhe furtem a sua natureza, quer mover-se selvagem, dançando com os ventos e as gaivotas. E assim também o queremos nós.

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