Opinión

Consequências não intencionais da oficialição do galego fora da Galiza

Na semana passada foram tomadas duas medidas políticas em relação à oficialização da língua galega. A primeira, a sua aceitação no Congresso, não pode ser avaliada negativamente, pelo menos a partir de postulados autonomistas ou de nacionalistas não soberanistas, já que o galego é finalmente reconhecido pelas instituições representativas como mais uma língua espanhola, a par das outras línguas oficiais do Estado.

Mais um passo no reconhecimento da igualdade de todos os espanhóis, independentemente da língua que falem, e o triunfo de uma Espanha diversa sobre uma Espanha uniforme pero Espanha ganha sempre. É precisamente por estas razões que não é uma boa jogada para as forças que se definem como soberanistas, se é que ainda restam algumas. O ideal de um soberanista deveria ser o oposto, ou seja, que ninguém falasse catalão, basco ou galego-português no Congresso espanhol. Nem sequer na cafetaria.

Na minha opinião, o processo de oficialização da língua galega, na norma agora oficial, na Europa é de bem maior interesse político. O que inicialmente era apenas um erro no ámbito da unidade linguística está pouco a pouco a transformar-se num conflito político que não deixa nenhuma das partes numa boa posição. É o que costuma acontecer quando se tomam decisões precipitadas, sem consenso prévio e sem serem solicitadas pelo governo e pelo parlamento galego, instâncias adequadas para o fazer, e impostas por forças políticas não galegas. Uma nação que se pretende respeitada não pode aceitar que outros negociem por ela em assuntos que a afetam.

Não me parece que reforce o nosso prestígio como nação que outros venham a nos explicar sobre o que devemos ou não gostar e, pelo menos no meu caso, não gosto de que que galego na atual norma seja oficial na Europa. O mesmo que suponho que aconteceria com os partidários do galego isolado se o Eonaviego fosse a ser  oficial na Unesco ou no Parlamento espanhol.

Em vez de reforçar o prestígio da língua galega, incorporando-a nas instituições europeias, o que se conseguiu foi exatamente o contrário, desacreditá-la, já que o próprio governo progressista espanhol a considera uma língua de segunda categoria em relação ao catalão, e além disso, sem ter de afrontar custo político algum. O governo da Xunta protestou de forma tímida, o BNG de forma um pouco mais enérgica, mas sem repercussões dignas de registo. Não encontrei as críticas dos socialistas galegos nem de Sumar, talvez porque não procurei bem.

É verdade que o chefe da diplomacia espanhola retificou a sua posição, mas o mal já está feito, pois mostra claramente as intenções do futuro governo progressista. E o assunto é bem mais grave do que parece e a aldraxe dupla, pois não há base jurídica nem linguística para fazer o que ele fez, primeiro pedir algo sem consultar os afetados e segundo estabelecer arbitrariamente a ordem de importância das línguas sem explicar os critérios seguidos e marginando o galego, no que é claramente uma dupla negação não só da soberania, mas da própria estima do povo galego. Se não querem caldo, duas taças.

O professor Carlos Aymerich destacou nestas páginas o valor para a autoestima dos galegos do reconhecimento externo da sua língua em organismos externos, e tem razão. Mas esse é o grande problema da nação galega, o facto de a autoestima dos galegos depender do reconhecimento ou não dos seus símbolos de identidade por parte das forças espanholas. Se a nossa estima nos é dada por outros, da mesma forma que nos é dada, pode ser-nos retirada, como parece ser o caso.

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