“Para peixe fresco Vigo
para chocos Redondela
para camarons Moanha
para caciques Ponte Vedra
¡Uah! Lalalalailalala!”
As configuraçons identitárias modernas, com base no estado-naçom, continuam a ser alheias para muitas das indígenas galegas que sofrem os seus efeitos. Nas expressons dos velhos sobrevivem os restos do principal eixo identitário que ordenava o mundo antes do nacional: o religioso. Assim, do que nom fala galego di-se que “nom fala cristao”; defende-se os marginados alegando que “também som cristaos”; e os outros do mundo mágico som os mouros.
Quanto aos países, os labregos foram tradicionalmente mais bem ‘confederalistas’, sentiam-se cómodos organizando as suas fílias e fobias nas antigas coordenadas pré-nacionais: “Galegos e asturianos, primos irmâos”, “Castelhanos de Castilha”… E com a língua primava mais bem o ‘internacionalismo’ eis esse gosto de gabar-se de que o catalám ou o italiano “se entendem bem”. (Condutas que confirmam, enfim, as teses de Burke: o campesinato nom se identifica com estados-naçons senom com as “regions naturais”; e quanto à língua a identificaçom funciona mais por famílias lingüísticas do que por idiomas). Mas com a comida… com a comida o ‘independentismo’ ou ‘soberanismo’ é inegociável. Passe que os netos falem o castelhano, mas que rejeitam o queijo do país… Tam forte é essa identidade que, por exemplo, quando o milho híbrido substituiu o do país, este cereal perdeu o seu carácter sagrado e os seus usos rituais. Nom só porque o híbrido nom se emprega na mantença humana, senom porque nom é do país.
Elías T. Feijóo gosta de fazer-lhe à gente o que ele chama “um test identitário perralheiro”. Pergunta-lhes, como galegos, de qual dos seguintes ingredientes nom poderiam prescindir no nosso menu identitário: a língua, a paisagem ou a comida. Nem que dizer tem que os resultados costumam impugnar o tradicional “filologismo” das elites nacionais. Nem bandeiras, hinos ou cerimoniais de Estado, a nossa identidade indígena continua a cozinhar-se –e nunca melhor dito- noutra parte.
Laia-se Eduardo Galeano de que “a indústria está a colonizar os padais do mundo”, arruinando essas “festas da vida” que som as comidas. Há que defender, pois, “o direito de autodeterminaçom da cozinha: sagrado direito, porque na boca tem a alma umha das suas partes”. A alma, e também a Terra e a revolta. Nom em vao, os versos mais duros de todo o nosso cancioneiro de combate, os da disputa de Suso Vaamonde, vam precedidos dos que encabeçam este artigo, apologia da confederaçom tribal, alimentar e anti-caciquil. Até o de agora, a iniciativa levavam-na os contra-revolucionários do “regionalismo de lacom com grelos”; mas o soberanismo alimentar –com a singela efectividade dum dito ou um conto- está a demonstrar que é um imelhorável abre-latas para a tomada de consciência nacional.
28/10/13